O que eu tô fazendo aqui?

Há algumas semanas, passei a acompanhar uma discussão na comunidade de brasileiros morando no exterior do LinkedIn sobre o porquê de ter saído do país, como tá a vida aqui fora e se temos pretensão de voltar. Dei meu depoimento e li as outras dezenas de comentários palavra por palavra. Não é difícil perceber os pontos em comum de quem tá na mesma situação que a bonitinha aqui. Ainda bem. Às vezes me sinto tão sozinha aqui que acho que devo ter sido maluca de ter deixado toda minha vida no Brasil pra trás por livre e espontânea vontade pra vir pra cá sem conhecer ninguém, começar tudo do zero, e achar que isso tá certo.

Lendo os comentários de brasileiros morando no Canadá, Inglaterra, Suécia, Holanda, Peru e tantos outros lugares, é fato: TODO MUNDO sente falta realmente do jeito brasileiro desinibido de ser, de conversar a vontade, descontraído. Sei lá, é único, não tem ninguém de nenhuma outra nacionalidade que seja como a gente. Mas também TODO MUNDO fala dos pontos positivos de se morar na Europa, nos EUA, ou Canadá: a qualidade de vida, a organização, os serviços que funcionam, a ética das pessoas. E motivados pela corrupção do poder no Brasil, a falta de organização das coisas, a bagunça generalizada em vários setores, a violência e a mesma ladainha de sempre, a vinda pra cá parece ser a fuga ideal na esperança de ter uma chance de viver um pouco mais despreocupado enquanto o Brasil se "cura" de seus problemas. Aí o tempo passa, você começa a se acostumar com a vida longe de casa, perceber as coisas que lhe faziam feliz quando morava lá e ver mais as coisas que te deixam triste aqui, e começa a reavaliar se toda essa mudança vale a pena. Mas aí também já não é tão fácil voltar atrás, você já fez novos amigos, tem namorado, emprego, contatos, planos pra próxima viagem e aí termina ficando por aqui, porque no fim ainda parece valer mais a pena.

É difícil. Uma vez fora do Brasil, não somos mais os mesmos. Eu particularmente estou por aqui mais ou menos pelos mesmos motivos dos outros. Eu passei 3 meses na Alemanha em 2004, viajei bastante, aprendi alemão, foi incrível. Mas voltei pra Recife, terminei a faculdade, comecei a trabalhar, depois queria aprender mais, crescer mais, larguei o trabalho e comecei o Mestrado com a bolsa, e senti que não deveria voltar pro trabalho por lá. Queria voltar sim pra trabalhar na indústria e não mais no meio acadêmico, mas não ali em Recife, nem em Natal. Muito menos me aventurar no Rio ou em São Paulo, loucura, não, não e não. Eu queria mais, queria aprender de vez o alemão, queria coisa nova, queria gente nova, gente diferente, lugares diferentes. E tava também cansada dos salários baixos, das contas absurdas, da malandragem e da falta de compromisso das pessoas e das coisas, sei lá, eu tava esgotada e precisava dessa experiência. Queria vir, tinha que vir. E consegui. Consegui vir, consegui um emprego, me sustento, posso dizer que estou muito realizada e bem sucedida profissionalmente, mas ainda não certa de que é aqui que quero ficar. O que eu sei hoje é que quero ficar aqui ainda mais algum tempo, não sei quanto. Não quero voltar. Não penso em voltar agora, na verdade nem depois também. Penso que talvez daqui eu vá pra outro lugar, mas não tão cedo de volta ao Brasil. Mesmo com a saudade, as diferenças e os apertos no coração na falta das coisas que sei que não terei em nenhum outro lugar, sinto que ainda preciso ficar mais por aqui. É isto. Deus nos proteja, nos guie e vamos em frente!

On y va!

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