Mulher de fases

Há 1 ano atrás, eu encerrava uma fase muito importante na minha vida: o final do meu mestrado. Fiquei louca no fim da escrita da minha dissertação porque tinha conseguido meu emprego aqui, tinha data pra começar, mas ainda precisava terminar de escrever e defender. Foi um sufoco. Passei 3 semanas trancafiada no quarto só escrevendo pra dar tempo de defender dia 1 de Julho e partir pra cá dia 5 de Julho. Deu. Foi corrido, mas deu. A banca aceitou o (curto) prazo, defendi e virei mestre. Nada da noite pro dia. Foi um processo que durou 2 anos. Eu já estava formada há mais de 2 anos, trabalhava e resolvi tentar o mestrado. Fui aceita e ainda consegui bolsa. Pra ter a bolsa, teria que sair do trabalho e ser dedicação exclusiva. Saí. Resolvi mudar e iniciar uma nova fase e voltar a ser estudante. Risco enorme, pois não tava mais acostumada ao ritmo de estudar 500 horas por dia, trabalhos, professores carrascos e ser autônoma nos meus horários de trabalho e organização. Não foi fácil. Penei muito. Mas consegui. Passei o maior sufoco da minha vida pra passar nas disciplinas, só faltei morrer de agonia estudando de novo arquitetura de computadores e as listas de exercícios (pra entregar!!) de teoria da computação, me arrependi horrores de ter largado meu emprego e estar recebendo uma mixaria de bolsa pra me acabar de estudar, mas depois que passei nas disciplinas e que "só" (só?) tinha que pesquisar e encontrar inspiração pro meu foco e pro meu projeto, melhorou. Meu orientador me colocou num grupo de pesquisas e num projeto onde eu finalmente progredi. A medida que progredia, escrevia, via resultados dos meus testes e dos experimentos e escrevia. Meu orientador me orientou a escrever papers. Ele queria que eu continuasse estudando e emendasse num doutorado. No fundo eu não sabia o que eu ia fazer, se voltava pra indústria ou se embarcava mesmo num doutorado. Mas a verdade é que o meio acadêmico é demais pra mim. Não sou cdf e o que meus colegas aprendiam em 2 horas eu passava 1 semana estudando em casa pra chegar no nível deles e nem sempre conseguia. Era um sufoco, uma força contra a gravidade, nadar contra a maré. Muito sofrimento e eu ia envelhecer muito rápido se tivesse escolhido doutorado. Mas topei a idéia dos papers (que seriam fundamentais se quisesse um doutorado depois) e escrevi três. Submeti a três conferências diferentes. Um não foi aceito, dois foram. Fiquei muuuito feliz, vi meu esforço sendo reconhecido, as conferências eram de nível internacional, uma delas bancou a minha viagem pra Alemanha e a outra me deu ajuda de custo do CNPQ! Viajei, apresentei pela primeira vez meus papers em inglês no Rio e na Alemanha. No meio de tanta gente tão inteligente e importante apresentando seus feitos e descobertas do mundo nerd pro mundo, eu apresentando minha humilde pesquisa. E foi tão bom. Fizeram perguntas, elogiaram, criticaram, pediram meu cartão de visita, meu email, meu LinkedIn, conheci gente da área que tenho contato até hoje. Foi maravilhoso. O sufoco foi temporário, a conquista é para sempre. Finalmente vi que todo meu esforço estava finalmente sendo recompensado e meu resultado final logo ali no fim do túnel (o título de mestre) iria me acompanhar pro resto da minha vida. Era o final de mais uma fase. Olhando essa foto aí de baixo me lembro das pessoas que passaram pelo sufoco mestrado comigo (turma "O que vale é a gréia") e hoje não me arrependo de nada.




















Mas passou. Foi uma fase. Hoje não sei se posso dizer que voltei pra indústria como achei que quisesse, mas definitivamente saí da academia. Meu trabalho hoje não é de fato na indústria, tá mais pra emprego público. Penso ser uma fase também. Como tantas outras. Nunca imaginei que depois de terminar a faculdade que me custaram dolorosos e deliciosos 6 anos da minha vida, iria voltar a universidade. E voltei. Era louca pra me formar, trabalhar, ter meu dinheiro e ser independente de vez. Era uma fase. Já tive fases de trabalhar 400 mil horas por semana, viajar a trabalho, trabalhar fim de semana, fins de semana de farra sem parar, fins de semana grudada no namorado. Já fui noiva! Foi uma fase... Achei que ia casar, ter filhos e hoje com meus 27 anos achava que estaria já estabilizada mãe de família em algum bairro do Recife com meu marido e dois filhos. Ô fase essa, não sei como pude imaginar isso. Devia mesmo estar muito apaixonada. Não me vejo como Amélia nunca e estou muito feliz das minhas escolhas, decisões e da direção que minha vida está hoje. Foi uma fase. Já tive fases onde achei que era a mais feliz das criaturas e a mais amaldiçoada. Fases que tinha os melhores amigos ao meu redor e fases onde estava completamente sozinha. Fases. O que seria de mim sem elas? Uma seguidora de moda, tradições e costumes? Não. Eu mudo. Passo por fases, faço questão. Não tenho medo de ir, tenho medo de ficar. Assim posso me conhecer mais. Fases. Todas passam e sempre há uma nova pra chegar.

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