O Brasil que não sinto saudade

Em época de eleição no Brasil, é fácil encontrar motivo para dizer que o país não presta e só tem corrupção. Tenho acompanhado algumas notícias na internet sobre os candidatos e as preferências do povo e no final, me parece mais brincadeira do que gente preocupada em levar o país pra frente.

Primeiro, não vi uma pessoa, um email, absolutamente ninguém falando bem da Dilma, a candidata do Lula. Mas ela está na frente e se continuar assim, ela vai ganhar. Muita gente vai votar nela porque é ou quer ser servidor público e tem medo de trocar o governo de partido e perder qualquer coisa de bom que o Lula tenha feito pra esse setor. Vai votar, mas continua falando mal e reclamando do seu candidato. Que infortúnio, parece que então não há solução.

E qual a solução quando um monte de gente aparentemente sem qualquer preparo político, acadêmico, profissional em geral, aparece como candidato? Você reconhece as figuras por uma canção antiga engraçada, uma aparição num programa na televisão, uma coisa qualquer que não tem o menor valor na organização de uma sociedade. Agora, essas peças raras aparecem querendo voto, consequentemente exigindo que os brasileiros reavaliem sua postura, e coincidentemente, essas figuraças sem futuro todas resolveram ser sérias e fazer alguma coisa pela comunidade ao mesmo tempo? Só pode ser brincadeira.

Não dá pra levar um país desse a sério. Onde os eleitores se sentem de mãos atadas mas obrigados a votar. Alguns candidatos não merecem um pingo de respeito e consideração pelas propostas que fazem, dados seus históricos. Como acreditar, como construir, como permanecer idôneo e correto no meio de tanta palhaçada e desorganização?

Perdoe, meu país, tem algumas coisas que amo de você, mas estou feliz em não estar aí agora. De não ser obrigada a ver programas eleitorais obrigatórios na televisão com candidatos que mal sabem falar português tentando ler um papel que diria suas propostas de administração de qualquer coisa. De não receber trocentos emails de colegas de faculdade, de prédio, do trabalho, fazendo publicidade de seu parente que é candidato. De filhinho de papai que não deu pra nada na vida e resolveu ser político. Sinceramente não dá. Isso me irrita demais. Não tenho paciência, me tornei cética e não acredito que 1% desses candidatos aí queiram de fato fazer alguma coisa ou acreditem que possam ser capaz de fazer alguma coisa.

Nesse sentido, sou mais uma de mãos atadas, revoltada e com uma opinião sem força nenhuma. Por isso, prefiro ser expatriada e me anular como cidadã brasileira nesse momento, não exercer esse direito, que aliás eu preferia nem ter. Acho nada democrático exigir que o povo tenha que ir votar. Leis ultrapassadas, que não combinam com um mundo em tamanho desenvolvimento, é demais pra mim. Não sinto a menor falta.

Outras notícias que tenho lido dizem respeito à contínua violência de todo dia. O que é mais revoltante é que já é normal, e já é normal falar que é normal. As pessoas aprenderam a viver com isso. A ver manchetes horrendas todo santo dia no jornal, a crimes bárbaros dignos de apedrejamento, se as leis brasileiras fossem como no Irã. Longe de mim defender as leis islâmicas e pena de morte de qualquer natureza, mas a questão é que no Brasil acontece coisa muito pior e não acontece nada com quem pratica tal coisa!

Quando morava em Recife, cansei de chegar no trabalho esperando pra ver quem seria o "sorteado" do dia a chegar contando que tinha sido assaltado, carro arrombado ou acontecido com alguém que conhece. Cansei mesmo! Literalmente. Era uma tensão e um medo diário incalculável pra quem trabalhava no Recife Antigo. Isso sem falar nos abusos de flanelinha com seu carro estacionado, quando você tinha que pagar pra ele não arranhar seu carro. E eles tinham até crachá, era uma profissão ser flanelinha, eram cadastrados e tudo. Só o salário deles que dependia da gente e eu não recebia mais no meu salário por isso. Um absurdo completo.

Já que estou aqui relembrando os maus momentos e o que não me agrada/agradava no Brasil, me lembro também das contas erradas, da falta de respeito no serviço de atendimento ao cliente quando eu tentava ligar pra resolver uma cobrança indevida, uma dúvida, mudar de plano. Nenhuma mudança que eu fosse pagar menos era possível concluir nessas ligações. Uma infeliz coincidência, a ligação sempre caía, rapaz, que azar! Era impossível não perder a paciência e terminar xingando um no trânsito. Por falar em trânsito, o que me doía mais nos nervos eram aqueles caras no sinal que vinham limpar o vidro. Jesus do céu! Eu tinha muita raiva!!!

Eram detalhes que fazem A diferença no meu dia a dia. Pequenas irritações que juntando tudo dá um nó na minha garganta e se continuasse assim, eu ia morrer era de stress ali. Disso eu não sinto um pingo de saudade e só em lembrar não penso nem em ir passar férias. É claro que sinto saudade da minha família e amigos, ne, isso aí não precisa nem dizer. Mas chegou um ponto que não deu mais e a minha qualidade de vida estava tão ruim, mas tão ruim, que abrir mão da companhia da minha família e amigos foi menos pior do que continuar vivendo naquele inferno.

Agora que não estou mais lá, minha qualidade de vida melhorou incomparavelmente. E vivendo aqui depois de um certo tempo, tenho receio em dizer que não quero mais voltar. Tenho medo, a vida é muito mais difícil. O preço é muito alto e eu não quero pagar. Sei que por um lado é triste, não me sinto por completa feliz em abandonar meu país descaradamente porque ele não é bom suficiente pra mim, mas a verdade é que é isso mesmo, e me dói, pois tenho a sensação que embora esteja vivendo bem aqui, nunca estarei em paz. Porque o povo de onde eu vim não está em paz e não é isso que se deve fazer: abandonar a luta porque tá difícil e ir procurar paz sozinha em outro lugar.

Eu estou bem longe, resistene à nuvem negra do caos político e da violência que ronda o Brasil. Mas continuo sendo brasileira do outro lado do oceano e não estou imune. Sinto daqui, e não posso fazer nada no momento a não ser esperar que meu país se cure logo.

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