Mais de Praga

Quem tá acompanhando a série de posts de Praga já deu pra notar que Praga é uma cidade fantástica pra fazer turismo, ne. Não é a toa que é considerada a "Paris" do leste europeu. O centro da cidade parece que tá sempre em festa, muita gente andando pra lá e pra cá, restaurantes e bares cheios, é um barato.

Há muitos lugares para conhecer, museus e galerias para visitar, palácios e jardins para passear, igrejas e sinagogas para quem se interessa. Aliás, falando em sinagoga, em Praga existe o Bairro Judeu que vale a pena mencionar aqui, pois é lá onde fica a sinagoga mais antiga da Europa, a Sinagoga Staronová.
Construída por volta de 1270, além de ser a sinagoga mais antiga da Europa, é uma das primeiras obras góticas de Praga. O local sobreviveu a incêndios, demolições e massacres anti-semitas do passado. Já serviu de refúgio de moradores e é hoje uma referência da Praga judaica.
Na Idade Média, a comunidade judaica da cidade vivia confinada num gueto. Durante séculos a comunidade viveu sob leis opressoras. Li no meu guia da Folha de São Paulo que no século XVI, por exemplo, os judeus eram obrigados a usar um círculo amarelo nas roupas. A discriminação foi muita. Mas acabou em 1784 e o bairro recebeu o nome de Josefov, em homenagem a José II, nome que estava no poder na época. Mas foi só em 1850 que o Bairro Judeu finalmente foi incorporado a Praga. Anos depois, as autoridades demoliram boa parte dos guetos, mas muitas sinagogas, o velho cemitério e a prefeitura foram preservados.
Acredite ou não, o cemitério judeu é um ponto turístico, principalmente devido a sua história. Por 300 anos, era aí o único lugar em Praga onde judeus podiam ser enterrados. E por causa da falta de espaço (pois o cemitério não é grande mesmo), enterravam-se um sobre os outros e mais de doze camadas de corpos era formada. Hoje são 12 mil lápides para 100 mil pessoas sepultadas lá. São muitas excursões e visitantes que rezam ali hoje em dia.

Por outro lado, Praga também oferece uma grande variedade de opções de entretenimento. São concertos, festivais, teatro de marionetes e bares espalhados por todas as ruas. À noite, você só fica dormindo no hotel se quiser. ...ok ok, ou se estiver muito cansado de perambular tanto durante todo o dia. Mas mesmo cansadas, eu e mamys arriscamos assistir um concerto de música clássica com ópera e ballet no Smetana Hall do Teatro Municipal (Obecní Dum).
Convenhamos que a fachada é de impor qualquer apresentação transformar-se num super espetáculo, certo? É, faz sentido, pois o concerto que fomos não era lá essas coisas todas. Talvez eu tenha colocado muita expectativa, já que esperava assistir um concerto desde Viena. Mas sabe que mesmo assim, pensando bem, valeu a pena. Talvez tenha sido o cenário mesmo. Além do concerto, a visita ao interior do salão vale o ingresso.

Se você é turista em Praga e chegar lá sem saber o que comprar de souvenir, uma voltinha pelas ruas de pedestres é suficiente para tirar as dúvidas. Por toda a cidade, há muitas, mas muitas lojinhas de souvenir e antiguidades estilo bazar e feirinhas na rua expondo a grande e rica seleção de produtos típicos tchecos, como os famosos cristais da Boêmia e brinquedinhos de madeira.
A crescente popularidade dos cristais da Boêmia está diretamente proporcional ao preço para alguns produtos. Antigamente comprava-se esses cristais a preço de banana. Hoje em dia, não existe mais essa brincadeira. A cultura capitalista também chegou a Praga. Além de lojinhas pequenas e tradicionais, não pense que Praga não tem grandes centros de compras. A cultura capitalista chegou meeesmo por lá!
Logo bem próximo ao hotel que ficamos, ficava o Palladium, um super shopping novinho e mega moderno com lojas de principais marcas de tudo quanto é natureza abertas até tarde da noite, além de uma charmosérrima praça da alimentação.

Mas Praga também mantém a tradição européia de lojas e pequenos centros comerciais em longas ruas de pedestres (ou não), onde a maioria das pessoas gastam suas Coroas, a moeda tcheca.

Uma rua muito típica é a Václavske Námestí, repleta de restaurantes, hotéis e lojas, permanece como um importante centro comercial da cidade. É a rua onde fica a praça Venceslau e o grande monumento do Museu Nacional com a estátua de São Venceslau, de 1912, um ex príncipe que foi assassinado por seu irmão Boleslav, é hoje o padroeiro da Boêmia.
Esta praça já foi palco de vários acontecimentos marcantes, como um protesto que desencadeou na Revolução do Veludo, que eu já mencionei nos posts sobre Bratislava, que acarretou no fim do comunismo, em 1989, e finalmente separou a Eslováquia da República Tcheca, em 1993. A rua é bastante movimentada durante o dia, mas a medida que a noite vai caindo, não é muito aconselhável transitar por ali, não sei, não me pareceu o lugar mais seguro do mundo. Além do que, alguém me disse que por ali existem muitos clubes de strippers e nesses lugares não vai a melhor clientela do mundo, ne.

Pode-se dizer que a República Tcheca prosperou mais do que seus países vizinhos. Praga também passou por batalhas sangretas e disputas pelo seu território, assim como as outras capitais que visitei nesta viagem ao leste (não-tão-leste) europeu. Mas a impressão que eu tenho é que Praga está num nível, digamos "turisticamente falando", mais alto do que as outras, o que desfoca um pouco a identidade do povo tcheco que mora lá e não fica tão imediatamente claro para o turista o sentimento ou o ar que se vê nas faces do povo tcheco. Em outras palavras, não dá para traduzir assim tão facilmente a repressão que a identidade cultural tcheca sofreu, ou como o idioma tcheco é particular, por exemplo. Coisa mais facilmente assimilada na viagem por Budapeste. E não que isso seja essencial ao turismo. Falo pela minha experiência e interesse.

Para ir mais a fundo nesses detalhes, é preciso ir a outras cidades do país e entrar mais em contato com os dialetos e com o povo que não seja da "cidade grande". Fora Praga, um destino popular com esse intuito é a cidade de Ceský Krumlov, uma cidade medieval a 170km de Praga. Mas, neste sentido, ainda assim, é bem possível sentir um pouco do orgulho que os tchecos em Praga sentem da sua reputação de centro cultural esfervescente do leste europeu. Afinal a República Tcheca produziu muitos escritores, artistas e músicos de renome mundial, como Franz Kafka, Alfons Mucha e Antonín Dvorák. Praga é, sem dúvida, uma das mais belas capitais da Europa e mais que vale a pena a visita e os passeios por lá.

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