Berlin extreme



Para a ex-ministra alemã Marianne Birthler, uma sociedade evoluída é aquela que conhece sua história. Em Berlin, poderia-se então ter a sociedade mais evoluída do planeta porque o que tem de monumento e afins expondo​ o que se passou ali não é brincadeira!
 
A cidade transpira sua história, transborda de cultura e inspira a gente que hoje tenta entender o que aconteceu ali até poucos anos atrás... Como eu disse antes, não é uma viagem pra relaxar. Ir a Berlin é muuuuito mais interessante se estiver disposto a entrar de cabeça na sua fascinante história e ver, ouvir e sentir as marcas de tanta coisa que a Alemanha sofreu​.​
"Memórias reveladas para que não se esqueça e nunca mais aconteça". Este lema é o que melhor traduz o sentimento do monumento-memorial ​aos mais de 6 milhões de judeus mortos​, o Memorial do Holocausto
Interessante que a construção é muito recente, construído em 2005, então daí percebe-se a contínua tentativa do governo de manter viva a lembrança​, mesmo que ruim, mas como diz o lema "para que não aconteça de novo". 

O governo gastou 25 milhões de euros para a construção deste monumento e mesmo com muitos protestos da população que alegava que o dinheiro poderia ser usado para algo mais "útil" para a cidade, está aí, ocupando uma área enorme bem ao lado oeste do Portão de Brandemburgo, super central, pra todo mundo ver. 

São 2711 blocos que a princípio, tem-se uma espécie de ilusão de ótica, pois a medida que vamos andando através do labirinto de blocos, o chão vai afundando e os blocos vão ficando maiores, exatamente para tentar passar a sensação de quem andar por ali de desespero, medo, sufocamento, perseguição. 
Em poucos minutos que andei por ali, fui surpreendida várias vezes por pessoas vindo de lados que eu não esperava e não via até o momento que a pessoa estivesse já bem em cima de mim, assim como os judeus sentiam-se quando eram enclausurados​, trasportados em trens e caminhões fechados. Esses blocos dão margem a interpretação de muita coisa. Muita coisa ruim! Caixão, trens enfileirados a caminho de campos de concentração, tudo que transmita intranquilidade, sensação de confusão pode ser sentido ali​. Muito, mas muito sinistro mesmo!

Muita informação que adquiri sobre este memorial foi através do guia do tour que pegamos no domingo, um super achado da Jamille, um tour de graça, é DE GRAÇA! O New Berlin Tours. Trata-se de estudantes capacitados para passar o conhecimento que têm e nos guiar pela histórica Berlin que se dividem em grupos e não ganham nada por isso! Ou melhor, é tip-based, isto é, ao final do tour, (que dura 4 horas!!!)​, você aprendeu tanto com ele que não tem como não dar uma boa gorgetinha, ne. E tudo andando. E como são grupos de 15 a 20 pessoas por guia, todo mundo dando gorgeta boa, eles ganham um bom trocadinho e colocam seu conhecimento em prática! Eu adorei a idéia e o tour e pelo que fiquei sabendo, existe tour da mesma categoria em várias cidades da Europa como Paris, Madrid, Amsterdã. Quem sabe não faço um desses de novo em Amsterdã no fim do mês, ne. Foi bem bacana. 

No nosso tour, passamos por vários pontos interessantes de Berlin que iam passar batido se não fosse esse tour, porque eu não fiz um mega plano cobrindo tudo que meu guia dizia e que queria visitar, então foi uma super mão na roda. Passamos, por exemplo também, no terreno onde subterraneamente era o bunker de Hitler. Bunker = uma arquitetura militar fortificada, fechada. Foi aí embaixo onde Hitler e Eva Braun passaram as últimas semanas da Guerra e foi aí onde eles morreram em 1945.
Hoje com todos esses prédios bonitinhos, pracinhas e tudo mais, me pergunto como deve ser morar onde costumava ser o bunker do Führer​ perturbado da cabeça... será​ que aluguel é mais barato ali? Gracinhas a parte, é claro que acostuma e eventualmente esquece-se do fato, mas haja sangue frio.

Passamos também por construções nazistas que hoje são prédios do governo, e é interessante perceber de fato A arquitetura "estilo​" nazista. Se vc perceber bem, as janelas de baixo para cima são simétricas, mas as últimas, lá em cima, são menores do que as de baixo, para dar a impressão a quem olhar de baixo que o prédio é maior do que é de fato, e pela ideologia nazista, vc é pequeno, não é nada, apenas um mero objeto abaixo do Estado e vulnerável ao que for ditado. E tudo que for nazista, como esse prédio aí está acima de vc. Medonho...
E finalmente... O MURO!!!!
Da primeira vez que estive em Berlin, foi também só um fim de semana, e eu não vi o muro!!!! Quando voltei, todo mundo me perguntava se eu tinha visto esse bendito muro e eu não vi. Olhe... mas desta vez, não escapou! Vi ainda de dois lugares que ainda existe!
A maior parte do muro que existe até hoje fica próxima a Ostbahnhof de Berlin, a East Side Gallery, e hoje está assim, repleta de desenhos artísticos e mensagens de paz de variados artistas​. ​É impressionante andar por ali e pensar que ali era o ponto de divisão entre as duas Alemanhas​. Que aquilo ali foi símbolo de tanta repressão e representava um conceito tão complexo de vida, identidade e governo num país. Imaginar que ​era aquilo ali a barreira entre famílias, que dividia calçadas, ruas, o que tivesse pela frente, uma cidade, Berlin inteira.
Esse pedaço de concreto erguido e a sua demolição fez história. E uma história tão recente. Há apenas 20 anos atrás, aconteceu a sua queda. Atravessar de uma Alemanha pra outra era praticamente impossível! Só com quinhentas mil autorizações de grandes autoridades e diante de extrema necessidade podia-se enfrentar os policiais de plantão. Muita gente morreu tentando atravessar o muro sem autorização. 
O ponto de cruzamento do muro mais conhecido durante a Guerra Fria era o Checkpoint Charlie, que também visitamos.

Depois de um fim de semana intenso desses, com tanto aprendizado e com tanta coisa pra ver, pegar o avião de volta pra Genebra, chegar ao aeroporto 11 horas da noite do domingo e não ter mais trem para Berna, é permitido reclamar ou não? Passamos a noite no aeroporto tirando uns cochilos desconfortavelmente nas cadeiras junto com outros sem-coragem​-de-pagar-hotel-por-algumas-horas e pegamos o primeiro trem do dia às ​5:11 da manhã!! Tem que aproveitar enquanto somos jovens e aguentamos fazer isso, não? Fui dormir melhor mesmo nas duas horinhas no trem para Berna! Chegamos em Berna 7:30 da manhã!​ Só deu tempo de ir em casa, tomar banho, trocar de roupa e 8:30 estava no trabalho. Tudo certo! Valeu a pena. Por Berlin.​

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