Posso falar?

Ontem chegou um colega aqui na minha sala e disse assim "I envy you, Liana" ("tenho inveja de você, Liana"), e eu disse "por que?" e ele "because soon you'll be out of the prison" ("porque em breve você estará fora da prisão"). É, engraçado, eu ri, e fiquei pensando nisso até agora.

A parada é a seguinte: estou sentindo como se estivesse numa espécia de prisão mesmo, de mãos acorrentadas, onde já fiz o que tinha que fazer, agora é aguardar a "saída da prisão". Sei nem se eu devia já tá falando isso aqui, mas também a esta altura do campeonato acho que também já nem importa.

A real é que I quit. Sim, pedi demissão, entreguei minha carta de resignação ao meu diretor, tive várias conversas com meu chefe, a chefe de RH, o chefe do chefe, nada deu jeito, uma decisão precisava ser tomada e eu fiz. Na verdade, eu não podia me dar ao luxo de voltar atrás. Quem acompanha esse blog sabe que esse meu trabalho hoje atrapalha minha qualidade de vida. A delicadeza da situação aqui é que todo esse rolo se passa com uma expatriada. Eu sou brasileira e para estar aqui, preciso de documentos legais. Não posso simplesmente agir como se estivesse no Brasil, me demitir porque tô de saco cheio e tchau, vou ver o que faço. Aqui a banda toca outro ritmo.

Até então eu venho dançando o ritmo que a banda toca, mas ficar num trabalho que não me satisfaço, ah, não fico. Foi assim no meu primeiro estágio quando a empresa anunciou que seria vendida e ficou um caos lá dentro, e será assim sempre que necessário. Graças a Deus nunca tive a má sorte de ser demitida, as vezes que saí do emprego foi porque não gostava ou porque precisei optar entre os estudos. Mas olha, vejo tanta gente infeliz com seu emprego, será que o mundo tá tão difícil assim pra arrumar emprego que a pessoa se submete a dias seguidos de tortura só pelo dinheiro?

Prefiro acreditar que sempre pode ter algo melhor ali na esquina esperando por mim. Preciso me dar valor, a mim e ao meu esforço de ter chegado até aqui, ne. Afinal não estudei anos e anos na minha adolescência pra estar hoje adulta jovem ou jovem adulta sei lá insatisfeita com o que conquistei com meu suor. Sei que nem todo mundo é ambiciosa como eu e às vezes aquele empreguinho mais ou menos tá de bom tamanho, mas pra mim não é assim. Sei também que não vou ser jovem pra sempre pra poder escolher tanto, mas não posso me conformar assim tão fácil. E se você acha que só pelo fato de estar trabalhando aqui na Suíça anula o "fácil", errou. Pra mim, continuar onde estou seria "fácil" e seria me conformar.

No meu trabalho hoje, vejo tanta gente inconformada com as coisas e não mexem um dedo pra mudar qualquer coisa. Apenas reclama e continua lá com aquela cara azeda e dando patada nos outros. É, gente assim tem em todo canto e não só aí ou aqui, mas... DEUS ME LIVRE! Olhe, no dia que eu me tornar carrancuda por causa do meu trabalho, pode mandar internar, porque antes disso acontecer, em minha sã consciência, passarei por quantos empregos forem necessários. Começo tudo de novo de novo e de novo. Cansa? Cansa pra caramba, mas se eu não me der valor, quem vai dar? Se posso fazer mais do que eu faço hoje, se o que eu tô fazendo não tá legal, tem outra coisa ali que eu sei que posso alcançar que se encaixa mais no meu perfil, que sei que posso ficar mais satisfeita lá, eu vou ficar parada porque? Ne?

Eu não, eu vou a luta! Problema é que no momento, no momento meeeeeeesmo estou sufocada, porque estou no meu aviso prévio e tenho que trabalhar neste período. Só que é um saco, porque você não é mais considerada direito pras atividades porque tomam por certo que você já tá quase fora, então é melhor outra pessoa fazer no seu lugar, e na verdade você (na verdade, eu) já não tem mais saco mesmo pra se esforçar na execução de uma atividade que tem data certa pra acabar. Resultado: estou sufocada. Cada dia no trabalho é uma contagem regressiva das horas pra ir embora, é um dia a menos, mas um dia a mais, ah, estou nas últimas...

Estou esgotada de tantas atividades que participei mal sucedidas, de má administração e de falsos-competentes. Estou farta daqui, mas ao mesmo tempo com toda energia pra começar na nova função que me submeti, no novo emprego. Ah cheia de vontade pra conhecer os novos projetos lá, os novos desafios, os novos times, e tenho que ficar guardando essa vontade, dormir com essa vontade. Haja força!

Nietzsche já dizia que o que não mata, fortalece, e eu acredito nele.

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