Refatoração

Refactoring, em inglês. É uma técnica para reestruturar o corpo do código de um software. Quem é da área de computação sabe que com o passar do tempo, um sistema vai passando por mudanças ali, alteraçãozinha aqui, e depois fica todo remexido. Uma refatoração é essencial para dar uma "limpada" na bagunça interna, sem alterar o comportamento externo do sistema. O uso constante desta técnica aprimora o design do software e evita a deteriorização resultante de mudanças com objetivos de curto prazo, durante o ciclo de vida do sistema. Muitas vezes o sistema dura anos e anos e anos e vários programadores "passam" pelo ciclo de vida do software e deixam sua marca, sua maneira de remexer no código, e é comum o não entendimento ou entendimento diferente entre um programador e outro da concepção geral do sistema. Então a bagunça que fica depois de tanto rebuliço é inevitável. A solução? De acordo com Martin Fowler, e uma idéia muito bem aceita e aplicada na área, é a refatoração.

O uso da refatoração melhora no entendimento do código e diminui a facilidade de inclusão de bugs. Legal, ne? Quem não é da área talvez já tenha desistido de ler achando que é um post nerd que eu resolvi escrever por aqui. Errou. Eu já disse que não sou apaixonada pela área de TI e o propósito do blog é outro, então não ia ser hoje, primeiro post da nova década, que eu ia fazer um.

Mas a analogia é válida. A refatoração. Ora, e se aplicássemos a técnica à nossa vida? Refactoring our lives. É uma nova década, gente, acho que vale a pena. Este ano chego à última idade dos 20 e já passei por tanta coisa nessa vida. Assim como na computação, onde tantos programadores "passam" pelo código de um software, tanta gente e tanta coisa já "passou" pela minha vida e deixaram marcas. Eu tenho orgulho de dizer que não me arrependo de nada não, mas às vezes olho pra trás e me olho hoje no espelho e vejo umas coisas meio bagunçadas e é preciso inserir disciplina. Por ordem na casa pra continuar entendendo o que tá se passando, viver e não simplesmente só existir.

Até hoje as "refatorações" que fiz na minha vida foram muito bem sucedidas e de fato diminuiram as chances de bugs, digo, de falhas. Com o passar do tempo, você se conhece mais, e fazendo um refactoring, sabe onde não mais errar, não mais se deixar cair, perder, sofrer. Não é infalível, pois obviamente estamos vulneráveis a outros fatores que vão além de nosso controle, mas ajuda. É fato, me tornei mais exigente, mas assim como no software com a refatoração aplicada constantemente, o sistema e eu funcionamos melhor, reduzindo as chances de quebrar, digo, de cair, falhar, sair do ar? É. Por aí.

Hoje, apesar de conseguir pertencer a diversas categorias de tribos, conhecimento de cultura, falar vários idiomas e conseguir me relacionar com gente tão diferente, me vejo cada vez mais única. Até me identifico em alguns pontos com algumas pessoas que conheço, que conheci e que vejo por aí, mas sempre tem alguma coisa que só eu tenho, ou que ainda não tenho e quero correr atrás. Mas sou única no mundo. Se eu morrer, ninguém vai me substituir. Já percorri tantos caminhos e conquistei tantos espaços que hoje digo com convicção que a minha trajetória fui eu quem fiz. Se eu morrer hoje, morro feliz. Tive muitos, mas muitos altos, e alguns baixos que prefiro encará-los como aprendizados, e olha, amigo, cada vez mais me surpreendo com o quão forte uma pessoa pode ser, o quão alto ela pode chegar e o quão longe ela pode almejar.

A vida pode mudar num piscar de olhos. Sorte? Combinação de sorte com escolhas bem feitas talvez. Mas se a gente não se ajudar, a vida não vai sair do lugar. Eu continuaria ali indo a faculdade, me enchendo de pós-graduação sem futuro e guardando certificados na gaveta e talvez pegando meu carro e indo pro meu empreguinho todo santo dia, já estaria bom demais. Pra mim, não. Não sei. Ainda não sei identificar tão bem o que me move e não me deixa parar. Essa refatoração tem sua contribuição. Eu tô indo. Tô indo no caminho que eu quis. Na rota que eu traço. O destino final, se é que há um, eu ainda não sei, mas tô curtindo o máximo que eu posso e o que planejei pra mim. Não tem como chegar num destino que eu não queira então. O que eu mais quero hoje eu não sei, mas o que eu menos quero na vida é chegar à frente do espelho um dia, me olhar e ver que não era isso que eu queria, não era ali que eu queria estar, não era. Nossa, isso sim é o que eu MENOS quero. Depois de todas as escolhas, todas as decisões difíceis e responsabilidades, eu quero e tenho mais é que me orgulhar de onde eu estou.

O sabor de olhar para trás, ver minha trajetória, ver minhas refatorações e meu código, digo, minha vida limpa, refatorada, bonita, com histórias pra contar e gostosas de lembrar é o maior triunfo que eu carrego comigo. E cheguei até aqui por meus méritos e meus esforços, isso aí ninguém nunca vai tirar de mim. Sou orgulhosa? Sou! Pra caramba!! Tenho orgulho de mim, porque eu não nasci em berço dourado não. Não me arrependo de perrengue nenhum que eu passei na vida. Que nada. Fizeram com que as refatorações fossem contextualizadas, vividas, notáveis e não aquelas que você aperta um botão e em 3 segundos já terminou.

Agora que iniciamos uma nova década, aproveito pra parar e fazer mais uma nova refatoração na minha vida, pois assim como no software, quero que o tempo útil seja longo.

Entro no meu terceiro ano de Suíça. Se eu conseguir neste ano continuar aproveitando isso aqui como eu tenho feito até agora já estou muito feliz. Mesmo com todas as dificuldades e assombros que aparecem de vez em quando, já disse no post passado e repito: o saldo é positivo, estou muito bem satisfeita, obrigada. Grandes e novos planos ainda tenho pela frente. Não sou a mulher maravilha, mas quero sim desfrutar o agora, continuar colhendo o que plantei e fazer mais e mais planos para continuar colhendo e colhendo no futuro. Porque se eu parar agora, acaba lá na frente, certo? E parar eu não páro nunca! Refatoração já!

Não sou de fazer resoluções, faço planos. Ano passado foi um grande ano, muito intenso. Muita coisa que eu planejei aconteceu e muita coisa inesperada também. Ano passado eu:
> finalmente finalizei minha dissertação de mestrado e virei mestra de verdade
> trouxe meus avós para conhecer a Europa pela primeira vez
> viajei por 8 países: Alemanha, França, Luxemburgo, Hungria, Áustria, Eslováquia, República Tcheca, Irlanda.
> andei de snowboard
> nadei no rio a 17°C
> aprendi a falar francês
> namorei um suíço que era totalmente o oposto do brasileiro
> comi muito queijo, chocolate, pão e batata
> fui a shows fantásticos: U2, Jamiroquai, Supertramp.
e tantas outras coisas mais.

Mas neste ano eu quero:
> ler mais livros
> viajar mais
> fazer uma super mega viagem num país exótico, ainda não decidi qual
> comer comidas mais saudáveis
> gastar menos
> tentar extrair pelo menos um paper ou journal article da minha dissertação de mestrado e publicar
> falar mais alemão ainda
> tirar a carteira de motorista daqui
> curtir muito meu novo emprego...
> dar conta de todas as mudanças que o novo emprego implica
e, é claro, muitas outras coisas mais.
2011 já está aí.

Marcadores: ,