1 ano sem pisar no Brasil

Esta semana está fazendo um ano da última vez que fui ao Brasil. Nunca passei tanto tempo sem ir ao meu país e isso tem razões e consequências.

Queria muito ter ido passar o Natal com minha família, mas por eu ter mudado de emprego, o Natal foi no meio do processo de tramitação da minha permissão no Ministério do Trabalho Suíço, quando ainda não estava certo se eu teria que voltar ao Brasil e receber minha permissão lá, ou se precisaria de qualquer coisa daqui e que talvez precisasse da minha presença aqui nesse meio tempo. Enfim.

Passou Natal, passou Ano Novo, depois de um ano longo de tantos acontecimentos marcantes e tantos planos e expectativas pra essa troca de emprego que implicaria na minha permanência na Suíça; fui ficando por aqui e depois de tudo, no final, deu tudo certo e aqui estou eu completando aniversário de tempo longe do BR.

Sem dúvida isso me traz consequências, primeiro por estar longe de onde eu vim, mesmo já tendo rodado tanto nesse mundo, e depois por ter passado esse tempo aqui, na Suíça. Será que estou sendo cada vez menos "brasileira" porque estou tanto tempo - e cada vez mais tempo - longe do Brasil?

Muita coisa mudou e eu sinto que não sou mais a mesma pessoa. Claro, Lulu Santos já disse: tudo muda o tempo todo, mas eu bem me lembro também nas aulas de Filosofia das discussões sobre as teorias de Parmênides x Heráclito, e às vezes encontro ali fundamentos quando ainda acho que no fundo sou a mesminha. Mas se penso demais, fico ainda mais confusa.

O que mudou? Oh... tantas coisas... acho que sou mais quieta do que antes. Influência desse povo suíço um tanto quanto reservado, frio, mas com a cabeça sem parar de funcionar um segundo, tão centrados, inteligentes e corretos. Talvez isso me deixe mais arisca pras coisas também: falar menos, pensar mais. Mas aí meu pai, que já não está mais nesse mundo há quase 13 anos, pra vc ver como faz tempo, já me dizia que eu era já: arisca. E aí, sou a mesma ou não?

Ao mesmo tempo, é natural essa mudança, essa evolução, amadurecer sempre mais com o passar do tempo, independente de onde esteja. Veja, eu não estou falando de costumes e hábitos. Isso aí hoje tenho vários novos e com certeza são todos influências de onde eu moro e da vida que eu levo aqui. Mas o que me faz pensar é na eterna essência, no trabalho contínuo de construção de caráter, nas influências de uma personalidade, que que esse um ano sem ir no Brasil impacta sobre mim, sabe como é? Ou deixa de impactar, talvez...

Fui a Itália nesta Páscoa e já passei a comparar algumas coisas que via lá com a Suíça, como se a Suíça fosse agora o que eu chamo de casa, porque de alguma forma é, é aqui que eu moro e é aqui que passo meus dias, minhas semanas, há quase 2 anos. Como seria então se quando eu for ao Brasil de novo? O que eu vou estranhar, o que eu não vou gostar, o que eu vou reconhecer como meu, o que vai me encher os olhos d´água?

Não é que eu me preocupe com isso, estou aqui por escolha minha e ter tido que ficar tanto tempo sem ir lá foi preciso devido às circunstâncias e o modo como tudo aconteceu na época que eu queria e podia ter ido. Se eu tivesse podido, eu teria ido. Agora não sei quando irei de novo. Enquanto isso, eu continuo por aqui, mudando. Ou não.

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