Foi dada a largada! Objetivo: chegar em Petra.

A princípio, eu tinha planejado o primeiro dia de viagem em Jerusalem. Depois de muita pesquisa em guias, na internet no Trip Advisor, em blogs e sites de viagens, reservei um tour para a quinta-feira, dia 2, por lá. Petra só viria no terceiro dia, no sábado. Por sorte, os dois tours, tanto de Petra quanto de Jerusalem que reservei, eram com a mesma companhia. Na verdade, um agente de viagens de Israel me ajudou a organizar quase tudo por email. Digo por sorte porque depois de já ter comprado o tour, entraram em contato comigo pra dizer que não havia disponibilidade de vôo para o tour em Petra naquela data. Depois de trocentos emails, terminei trocando os dias dos tours de Jerusalem por Petra e fui conhecer Petra no primeiro dia.

Só que peraí, não foi simples assim não. Deixa eu contar a história desde o começo pra poder transmitir a situação por completo. Meu vôo era Zurique - Tel Aviv, às 22:45 da noite da quinta-feira. Eu fui trabalhar na quinta em Berna, normalmente como um dia comum. Fui deixar Juca, meu cachorro, no hotel fazenda de manhã cedo antes do trabalho. Estava chovendo. Saí de casa puxando mala, segurando o guarda-chuva, a coleira de Juca e a mochila do laptop do trabalho nas costas. Massa. Até aí tudo bem. Deixei Juca, fui pro trabalho e cheguei lá de mala. Claro, todo mundo foi perguntar pra onde eu tava indo, foi aquele converseiro, mas era um dia comum, com muito trabalho pela frente.

O dia passou e por volta das 19h, saí do trabalho, fui a estação de trem de Berna, ainda estava chovendo, e eu de guarda-chuva. Peguei o trem pro aeroporto de Zurique na maior agitação. Eu adoro o aeroporto de Zurique, me sinto em casa. Eficiente, organizado. Fiz check in, despachei finalmente a mala e o guarda-chuva que eu carregava não cabia na mala. Fiquei segurando o guarda-chuva feito uma lesa no aeroporto, sentei num bar e fiquei aprendendo a mexer na câmera nova.

Foi chegando perto da hora do embarque e eu fui pro portão designado. Passei pelo controle de passaporte, passei pelo raio x, me mandaram tirar a sandália, e depois de pegar um trenzinho dentro do aeroporto e andar muito, fui me aproximando do portão "E" alguma coisa, e vi aquele monte de gente com uma mochila nas costas com uma bandeira do Brasil. No portão do lado, tinha um vôo pra São Paulo saindo.

Fui na padaria do lado comprar um sorvete segurando o guarda-chuva, e na fila, tinha um com a tal mochila do Brasil nas costas. Eles não estavam indo pra SP, estavam no mesmo vôo comigo para Tel Aviv! De alguma forma, quando o cara me disse que aquele montão de gente de tudo quanto é lugar, Goiás, Piauí, Minas Gerais, estava embarcando comigo, e eu pela primeira vez partindo pra viagem só, senti que estava fazendo a coisa certa.

De repente, o tiquinho de medo que eu ainda sentia se foi, e apenas a empolgação e alegria tomavam conta de mim. Claro, um pouco de cansaço também, mas isso era um detalhe.

Embarquei, sentei na janela, coloquei o guarda-chuva no chão, apertei o cinto de segurança, fechei os olhos, e agradeci.

O vôo da Swiss saiu pontualmente e eu por mais cansada que tivesse, estava muito ansiosa pra conseguir fechar os olhos e dormir. Fiquei devorando os dois guias de viagem que comprei, e a mulher que sentou do meu lado parecia não falar nenhum idioma, e também não tinha fome, não quis o jantar que serviram. Eu comi tudo e ainda teria comido mais de tão ansiosa que eu tava. Finalmente tirei uns cochilos e quem tivesse me vendo ali, não deve ter deixado de perceber minha felicidade quando o capitão avisou que estávamos nos preparando para aterrisar.

Era 3:30 da manhã - horário local - quando o avião tocou o solo israelense. Israel é uma hora na frente da Suíça, então seis horas a mais que no Brasil. Pra mim era 2:30 da manhã e eu estava começando a bocejar.

Desci, fui seguindo a multidão que se dirigia a baggage claim, e fui me preparando pra história do visto. A história do visto em Israel é conhecida já. Se você tiver o carimbo de Israel no seu passaporte, você não pode entrar na maioria dos países árabes, que não o reconhecem como país. Essas chatices do mundo moderno, sabe. Bom, eu não tenho ainda planos concretos pra visitar outro país árabe em breve, mas nunca se sabe, então por via das dúvidas, fiz como todo mundo, e pedi pra moça que me entrevistava na entrada carimbar num papel separado. Sem problemas. Ela o fez. Depois de 500 mil perguntas, saí contente com meu papelzinho carimbado na mão, mas foi só levantar o olhar, que estavam duas seguranças pegando o papelzinho de todo mundo e rasgando naturalmente e jogando no lixo. Hm. Hesitei. Parei e antes de entregar meu papelzinho, perguntei se não ia precisar dele lá ou pra sair, sei lá, ela disse que não. E como todo mundo parecia menos preocupado que eu, entreguei o meu e fiquei sem carimbo e sem nada.

O aeroporto de Tel Aviv é enorme. Saí andando seguindo as placas e finalmente achei a esteira do meu vôo, minha mala e quando os portões de desembarque se abriram para minha saída, logo vi meu nome lá numa plaquinha. Ora, eu não sou marinheira de primeira viagem, deixei acertado com o agente de viagens alguém pra me buscar no aeroporto. Mas calma, antes que você me chame de fresca, era 4:30 da manhã, e eu tinha que pegar um outro vôo no outro aeroporto de Tel Aviv para Eilat, na fronteira com a Jordânia, para de lá, me juntar ao tour que iria pra Petra. Sim, assim direto. O vôo que saía do outro aero e ia para Eilat saía às 6:40 e o check in era às 5:40. E já era 4:30 da manhã quando eu desembarquei!

Ora, eu não conheço o lugar, ia me estressar com pouco tempo pra conseguir fazer tudo a tempo, reservar um transfer era a melhor saída. O tour de Petra era um dia só, então eu voltaria a Tel Aviv ainda no final do mesmo dia. Então o combinado com o transfer foi de ele me receber no aeroporto Ben Gurion em Tel Aviv, me levar até o hotel em Tel Aviv que eu já havia reservado, deixar minha mala lá e me levar pro outro aeroporto pra pegar o vôo pra Eilat. E assim foi. Deixei a mala e o guarda-chuva no hotel.

Depois de passar no hotel e muita tentativa de puxar papo do motorista, ele me deixou no aeroporto Sde Dov, em Tel Aviv às 5:40. O dia estava amanhecendo e o aeroporto estava... fechado!!! A segurança me mandou esperar do lado de fora e ali foi formando uma fila atrás de mim com os outros passageiros que chegavam. Enquanto isso, o sol ia nascendo. Eu apenas com a roupa do corpo, minha bolsa e minha máquina fotográfica, esperando o aeroporto abrir.

6h da manhã o aeroporto abriu. É, sem pressa, ne, afinal, quem é que tá com sono aqui?!

Acho que esse aero conseguiu ser menor ainda que o aeroporto de Berna. Cheguei lá, fui fazer check in. O segurança era israelense casado com uma brasileira e falava Português! Putz, ne. Acho que ele simpatizou comigo (ou não) e eu fui sorteada a fazerem um controle chatérrimo comigo, fazendo ainda mais perguntas que a mulher do visto no outro aeroporto. Uma história de uma pazinha de plástico azul com um treco branco passando pela minha bolsa e pelas minhas coisas pra detectar não sei o que. Claro, estava tudo bem, e eu estava muito empolgada pra já perder a paciência ali. Sorri pra todo mundo e fiquei com meu cartão de embarque esperando embarcar feliz da vida.

O aeroporto era só isso aí da foto mesmo e todos os vôos iam para Eilat.

Eilat fica no fim do Golfo de Aqaba, na costa de Israel. É a única cidade israelense que dá pro Mar Vermelho e é conhecida como um destino descolado e badalado de férias. As pessoas que estavam para embarcar estavam no maior clima de verão, sol, calor, e mesmo elas falando em Hebreu, dava pra entender que estavam muito animadas.
A companhia aérea se chama Arkia. Nunca tinha ouvido falar. Pena que ela não faz parte da Star Alliance e eu não pude contar as milhas pro meu cartão Victoria da TAP hehehe..

Os olhos de todo mundo se arregalavam quando pediam pra ver meu passaporte e liam "Brasil". "Ahh Brazil! Very nice!". Tentei até responder "Switzerland" algumas vezes quando me perguntaram de onde eu vinha, e pude perceber que a reação não era tão comovente.
O avião era minúsculo e fazia um dia lindo. Estava começando a quinta-feira e eu tinha dormido umas 2 horas quebradas no vôo. Acho que nem isso tudo..

No caminho do aeroporto, no avião, e por onde eu botava os olhos, já fui captando as diferenças nas feições das pessoas, na maneira de falar o idioma novo pros meus ouvidos, e fiquei sorrindo comigo, satisfeita por estar ali, em Israel, finalmente.
De Tel Aviv para Eilat seria 1 hora de vôo. A paisagem dos arredores e que eu via da janela era estonteante. Parecia que todo tempo bom do mundo tinha se juntado pra acontecer ali naquela manhã, porque o dia estava deslumbrante, não tinha uma nuvem no céu e eu nunca tinha visto céu tão azul.

Diante da mais bela visão, não sei como, mas da minha janela adormeci em poucos minutos depois que me sentei. E só acordei quando o avião já estava descendo.
Eu e o cidadão do meu lado dormimos o vôo inteiro muito bem, obrigada. Eu até sonhei.

Fazia calor.

Chegando em Eilat, desci correndo e na saída do aeroporto, que também era muito pequeno, estava a Rita, organizadora do tour de Petra, com uma placa, me recebeu e me direcionou pro mini bus que me aguardava.

Era quase 8 horas da manhã, 7 horas da manhã pra mim. No mini bus, já estava quase todo mundo que iria pro tour de Petra comigo. A maioria das pessoas do grupo era uma família só. Uns americanos (dos EUA, não da América do Sul :), que estavam super empolgados e dispostos, apesar da idade de alguns. Foram logo puxando assunto comigo quando me viram tirando foto.

Era o começo (...ou a continuação?) de um loooongo dia.
Este mini bus nos levava apenas até a fronteira de Israel com a Jordânia. De lá, descíamos e íamos de novo enfrentar o controle de passaporte, agora com menos rigor, afinal estávamos todos juntos no tour para Petra.

Fomos andando e ficamos na fila para verificação do passaporte. O sistema estava fora do ar e tivemos que esperar quase uma hora até voltar. Enquanto isso, fiquei conversando com todo mundo da família americana que era muito simpática.

Sei lá o que está escrito nesse papel, mas foi o que me deram pra atravessar a fronteira quando o sistema voltou ao ar. E realmente atravessamos. Literalmente. Andando. Sob um sol maravilhoso.

Depois de passar bolsa de novo no raio x, mais perguntas e mais carimbos no passaporte, finalmente, depois de muitas horas, estávamos lá caminhando, chegando a Jordânia.
Do outro lado, já na Jordânia, estava um outro mini bus, com o motorista e o guia originalmente da Jordânia mesmo, esperando por nós. Dali, seguiríamos por mais 2 horas de estrada até chegar a Petra.

O guia era muito simpático, falava Inglês muito bem, e de todos os tours que fiz nos dias seguintes, ele foi o melhor.

Muito chão, muito barro, muita poeira, muito calor. Passamos por Aqaba e outras cidades. A estrada era muito boa, o que ia de contraste com o que via do lado de fora da van. Mesmo praticamente sem dormir, fui ouvindo atentamente todas as explicações que o guia ia dando na viagem até chegar a Petra.
O guia ia nos dando informações sobre a Jordânia, sobre a população, sobre a política, sobre o papel da mulher, conflitos, etc. Tudo para ir nos preparando e nos pondo no clima do lugar que estávamos pisando. A Jordânia é um país islâmico e tem muita influência sobre a história de Israel até hoje. A capital Amman é dita por ser bem moderna e desenvolvida, mas meu maior interesse desta visita fenômeno era mesmo conhecer Petra.
No meio da viagem, ainda paramos numa cidadezinha que nem existe no mapa para toaletes e água. Havia uma lojinha de souvenirs e ali começou o que eu temia - o assédio dos árabes.

Em 2006, me aborreci no Egito com tanta gente me comendo com os olhos como se nunca tivesse visto uma mulher ao vivo e a cores na vida, então ainda estava meio tensa e apreensiva, sem saber como seria na Jordânia.

Entrei na lojinha e começou... "where are you from?, where are you from???"... acho muito chato e invasivo isso que eles fazem, pra falar a verdade.. po, e eu tenho que dizer de onde eu sou por quê, ne?! Enfim. Graças a Deus eu relaxei quando o guia me chamou e disse abertamente que iam sim puxar papo comigo porque eu parecia meio européia, mas tinha alguma coisa de árabe e isso pra eles chamava muito a atenção. Sei. Será que tem em algum lugar provado que Europa + Arábias = Brasil, hein? Olha, sinceramente, nem quis saber o que é de árabe que eu tenho, só sei que só aquele bate papo rápido ali com o guia que já tinha me passado algo de bom, me senti melhor.
Fiquei andando pela loja de souvenir tranquila e não fiquei também mais prestando atenção nos árabes. Se eles continuaram perguntando de onde eu era eu não sei, só sei que dali pra frente foi só alegria.

O tal do jordânio sabia mesmo o que fazia. Sempre no controle do grupo, transmitindo informações valiosas e interessantes do que íamos vendo, e mesmo árabe, muito aberto e carismático. Ele fez a diferença no passeio, sem dúvida nenhuma.

O grupo que eu estava também era muito bom. Tenho muitas histórias pra contar e muitas lembranças boas desse tour.

Depois da parada no meio do nada, voltamos pro ar condicionado do mini bus e continuamos a viagem até chegar a Petra. Passadas pouco mais de 2 horas, por volta das 10:30 da manhã, 9:30 pra mim, 4:30 da manhã horário de Brasília, eu praticamente sem dormir, nós chegamos a Petra, uma das mais impressionantes cidades arqueológicas do planeta.

A temperatura passava facilmente dos 30 graus. Não tinha muita gente. Estava eu no local onde há registro de seres humanos desde a pré-história. Onde ainda antes disso já foi um deserto. Aula de história aí só ao vivo.

Começava a caminhada de 7 horas pela cidade de pedra, Petra...

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