2 anos de Suiça

Eu adoro esse blog. Tenho feito um esforço danado para mantê-lo atualizado com frequência. Mas olha, não tá fácil não. Além de tudo, ultimamente tenho recebido vários emails de leitores com perguntas, o que eu adoro, vale salientar. Adoro receber email sobre um post que escrevi há um século e a pessoa lê e vem falar comigo. Eu sempre respondo, pode levar um tempinho, mas sempre respondo, e por vezes o email vai e volta dezenas de vezes, vira uma discussão, trocamos ideias. Acho demais, obrigada, gente!

Mas eu tenho recebido também vários emails com dúvidas assim, digamos não específicas a um post, mas sobre vários, sobre vários assuntos e tal. Por muitas vezes, eu venho aqui no blog pra refletir, escrevo sobre as lutas de cada dia na vida de uma expatriada, sobre as vitórias, as batalhas, os eternos questionamentos. E é muito bacana ler esses posts depois de um tempo e notar as diferenças, os progressos. Muito me alegra em saber que tais posts servem também para outras pessoas que gastam um tempo matutando sobre as mesmas coisas. E depois ainda perguntam pra que serve um blog!

A questão agora é que fez 2 anos dia 5 de Julho que eu cheguei a Suíça. Meu Deus do céu, tanta coisa já aconteceu! Não tem como não refletir nas mudanças e nos acontecimentos que passaram. Queria eu ter contado tudinho mesmo aqui no blog. 2 anos!

Nesses 2 anos, cheguei aqui deslumbrada com toda essa qualidade de vida, esse transporte irritantemente pontual, essas ruas lisas, comecei a trabalhar num emprego que ia durar apenas 1 ano e 8 meses, conheci tanta gente, tantas nacionalidades, fui a tantos lugares, viajei tanto, fui a tantos países, namorei, me mudei, mudei de status, mudei de emprego, mudei a cor do cabelo. Ora, no meio de tanta mudança e evolução, mas nunca que daria pra permanecer a mesma pessoa.

Mesmo já tendo me mudado bastante na minha infância e adolescência no Brasil e já tendo passado um tempo nos EUA e na Alemanha, já tendo viajado por aí, não digo que tirei de letra o choque do começo não. Cada lugar tem suas particularidades. Claro, a experiência foi muito bem vinda nesse momento. Senão, como eu ia aguentar os dias difíceis, os fins de semana solitários, a saudade dos amigos em Recife, o aperto da vontade de jogar tudo pro alto e voltar pro calor? O inverno é longo, as pessoas são frias, o trabalho é ambiente de trabalho, o idioma é louco, e foi por muito tempo mais difícil que fácil.

É uma questão pessoal pra mim estar aqui. Não estou amarrada com ninguém, não tenho descendência alemão, suíça, portuguesa, nada. Lembro até quando eu comecei a estudar Alemão em Recife, todo mundo tinha um motivo: ah, uma tinha um namorado alemão, o outro tinha o avô que era alemão, a outra tinha estado na Alemanha, e eu? Nunca tinha estado na Alemanha, nunca tinha conhecido um alemão, não conhecia ninguém que falava Alemão, simplesmente escolhi aprender Alemão, ué, não posso?! E todo mundo na sala olhava pra mim se perguntando "...mas por quê?". Enfim.

Acho que desde que eu comecei a morar sozinha em Recife, com 21 anos, que eu mesmo sem saber embarquei nessa jornada de me tornar dona do meu próprio nariz, de crescer, de me tornar independente, mesmo sem fazer a menor ideia de como eu ia conseguir isto. Se era através do Alemão, se era através da faculdade de Ciência da Computação que eu penei tanto, se eram com as aulinhas de Inglês que eu dava no Wisdom, o Mestrado, não sei. Acho que tudo. Tudo isso, e não só isso. As pessoas que passaram pela minha vida também me ajudaram muito. As fases que eu vivi.

Tudo me fortificou pra aguentar bem essa "barra" aqui e não desabar. Eu procuro ser uma pessoa positiva, pra cima, e não gosto de ficar me lamentando. Mas não é novidade pra ninguém que a vida de uma expatriada não é só coisa boa. Eu não venho aqui chorar minhas mágoas, prefiro procurar uma solução e comemorar as vitórias.

Hoje, com 2 anos de Suiça, eu continuo satisfeita. Mesmo com todas as dificuldades, mesmo nessa busca sem fim pela fluência no Alemão, eu continuo a dizer que sim, está valendo a pena, demais mesmo, e eu continuo querendo ficar por aqui. Sei que tudo tem um preço e eu sinto na pele e no coração o que mais me faz falta. Mas não se pode ter tudo, e no momento, meu objetivo é continuar por aqui. Ainda não terminei de fazer o que vim fazer aqui. E por enquanto, isso é prioridade.

Troquei de emprego há 4 meses e não podia ter tomado atitude melhor. O ambiente não é multicultural como antes, mas não é menos desafiador. O trabalho é bem complexo, mas é muito bom. Adoro ficar ocupada o dia inteiro e ter a sensação na sexta-feira que a semana voou. Zurique é uma cidade incrível. Conheci muita gente nova. Algumas pessoas em especial têm me ajudado diariamente desde o começo na minha adaptação, na minha integração, nas minhas atividades. Da mesma maneira, outras pessoas da minha fase inicial na Suíça continuam fazendo parte da minha vida, mesmo que o contato tenha diminuído. E outras, simplesmente perdi contato. Acontece.

Tenho falado muito pouco Português, quando falo sinto dificuldade em formular as frases, preciso de mais tempo, pois meu cérebro parece que demora pra se desligar do Alemão e fica querendo estruturar a frase do jeito que é em Alemão. Até no Inglês também já tenho notado essa deficiência. Preciso liberar memória RAM... Mas hoje estou com uma relação mais amigável também com o dialeto que eu odiaaaava no começo, o Schwyzerdütsch (alemão suíço). Odiava porque soa feio e eu não entendia bulhufas. Hoje eu entendo. Ouvi tanto que terminei acostumando. Falo algumas coisas, algumas palavras. Mas também tem tantas variações do dialeto que só em pensar já complica.

"Das Leben ist eine Überraschung!" - disse meu chefe na minha primeira semana de trabalho quando saímos pra comer uma pizza e eu conheci um colega do trabalho que é fracês, mora na Alemanha há 10 anos, mas fala Português! "A vida é uma surpresa!". E é mesmo. Não consigo nem imaginar como vou estar daqui a 1 ano, o que vai ter mudado daqui até lá. Será que vou completar 3 anos de Suíça? Será que vou estar em paz com o Alemão? Será? O que será que vai mais acontecer? Não sei, só Deus sabe. Mas estou aqui prontinha pra descobrir.

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