Helsinki

A Finlândia foi um país que muito me impressionou pela bagagem histórica que carrega. No vôo de 3 horas, eu passei o tempo inteiro lendo o guia Insight Pockets que fala também da história e da cultura do lugar que é muitíssimo interessante. Ou melhor, li quase as 3 horas inteiras.

Um americano que sentava do meu lado puxou conversa perguntando se eu tava indo morar lá por estar tão interessada na leitura. E de vez em quando conversávamos durante o vôo. Ele é americano, mora na Suíça, mas passou 1 ano a trabalho em Helsinki. Disse que eu veria tudo que tem pra ver em Helsinki em 2 horas. Disse que o inverno lá é a coisa mais depressiva do universo, que as pessoas são as mais frias possíveis e que ele nunca voltaria lá se realmente não fosse preciso.

Essa teria sido a primeira impressão que eu teria tido da Finlândia, se eu tivesse dado ouvidos só a ele, e não tivesse dado atenção ao que eu li no guia. Péssima impressão. Tudo bem que eu estava indo em Junho, apenas um fim de semana prolongado, iria também esticar até a Estônia, e era o mais norte que eu haveria de estar. Então fosse como fosse, eu estava empolgada para conhecer o lugar que escolhi. Mais um país.

Tá certo que não tem assim taaaaaanta coisa pra ver em Helsinki, mas 2 horas só também é muito pouco. Eu andei um dia inteiro por lá, e só não andei mais no último dia porque apareceu um temporal louco. Mas o dia que andei deu pra conhecer bem o que eu queria.

Os países do norte da Europa sempre meio que me assustaram um pouco quando eu pensava em visitá-los, pelo simples fato..... do clima. No inverno, a Finlândia é um dos lugares mais escuros e mais frios do planeta. Então mesmo que em março, abril, ou já no outono em outubro e novembro quando tinha dias de férias, eu nunca tinha coragem de me arriscar. Apenas alguns meses atrás botei o pé pela primeira vez na Escandinávia, quando fui a Dinamarca. Então era tudo muito novidade pra mim.

A Finlândia é o mais menos povoado da União Européia, com pouco mais de 5 milhões de pessoas.

O interesse de finalmente realizar essa viagem aumentou nos últimos tempos e eu resolvi enfrentar essa aventura no báltico, primeiro porque é verão, então o clima não podia me fazer medo, depois porque tenho um interesse e uma curiosidade especial pela Rússia. E ali seria o mais próximo da Rússia que eu haveria de já ter estado.

Primeiro, o clima. Eu bati perna por Helsinki num sábado de muito sol e zero nuvens no céu. Não achei que fosse sentir calor, então fui de calça, tênis e camiseta de manga 3/4. Bem... achei errado. Lá pro meio do dia, esquentou muito e eu fiquei o resto do dia lá suando de calça jeans, meia, blusa de manga... achei engraçado que estava sentindo calor na Finlândia.

Segundo, influências da Rússia. Está presente por todos os lados. A Finlândia passou por muitos conflitos entre suecos e russos pra ver quem tinha o controle daquele território. Então desde o século XI, ora esteve sob domínio da Suécia, ora dos russos. Antes disso, os Vikings dominavam a costa e os habitantes viviam de pesca e agricultura.
Com tantas disputas de controle do país, o crescimento da Finlândia aconteceu devagar, comparado ao resto da Europa. A capital Helsinki tem por todos os lados provas do seu reflorescimento recente. O reinado do imperador russo Alexandre III de 1881 a 1894, seguido de Nicolas II de 1894 a 1917 viu grandes progressos e radicais reformas, como por exemplo, foi o segundo país no mundo que deu o direito à mulher de votar e se candidatar ao parlamento, depois da Nova Zelândia.

Só em 6 de Dezembro de 1917 a Finlândia ganhou status de independência, embora ainda nessa época, tropas russas continuavam ocupando o espaço de terra finlandês o que levou a uma guerra civil em 1918 e o governo finalmente foi forçado a ceder.
Catedral Uspenski
A catedral Uspenski é um bom exemplo dos conflitos entre russos e suecos. Depois que os russos derrotaram os suecos em 1809, decidiram que um símbolo ortodoxo faltavam em Helsinki e resolveram construir uma enorme catedral ortodoxa, no estilo bizantino russo, no lugar reservado para construção de um palácio imperial. É a maior catedral ortodoxa do ocidente. Entretanto, quando a Finlândia ganhou independência da Rússia em 1918, os laços da catedral com a Rússia foram cortados e hoje ainda é possível observar um pouco da mistura com o luteranismo e o cristianismo no seu interior. Embora no interior ainda seja muito clara a tradição ortodoxa, uma igreja sem bancos, com paredes pintadas com dizeres em russo e muita riqueza de detalhes, muito impressionante.
A catedral Uspenski fica no distrito de Katajanokka que é próximo à marina e a feira da prefeitura (Market Square) que é basicamente o centro da cidade.

Mas o interesse da Rússia na Finlândia não parou quando esta conseguiu sua independência. A posição da Finlândia como parte da Rússia continuou a ser questionada. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Finlândia enfrentou a Rússia duas vezes, mas com a derrota da Alemanha, foi forçada a se retratar com a União Soviética e novamente aceitar exigências e acordos.

Vários tratados foram assinados dizendo que a Finlândia deveria novamente ceder partes de seu território à Rússia, e o país foi obrigado a rejeitar fazer parte do Plano Marshall, e não aceitar dinheiro dos EUA para investir na sua reconstrução, embora tenha sido descoberto depois que o país foi secretamente amparado pelos americanos, que ajudaram no seu desenvolvimento.

Durante a Guerra Fria, a Finlândia vivia muito de agricultura. Os Jogos Olímpicos de 1952 trouxeram muitos turistas ao país, embora até a década de 70, muitos finlandeses continuavam migrando para a Suécia em busca de melhores oportunidades de trabalho.

Em 1993 a Finlândia começou a negociar sua entrada na União Européia, que aconteceu oficialmente em 1995.
Apesar do atraso na sua industrialização, a Finlândia hoje é muito bem colocada no que diz respeito a desenvolvimento, tecnologia, saúde, qualidade de vida, embora permaneça também entre um dos primeiros no ranking que suicídio do mundo, junto com a Rússia, Lituânia, Letônia e Estônia, aquela área toda junta ali em cima.
Se orientar em Helsinki não é difícil. A cidade não é grande e eu andei praticamente tudo a pé mesmo. Andei o dia inteiro, fiquei morta, é verdade, mas fazia um clima tão agradável que eu queria mesmo ficar exposta ao sol. E a Finlândia segue padrões de transporte e organização europeus. O transporte é organizado, pontual, seguro, então é muito simples andar por lá, não tem mistério.
Esplanadi
A essa época por lá acontece um fenômeno muito interessante da natureza. Às 11 horas da noite ainda tá assim sol, como se fosse 4, 5 horas da tarde, sabe como é. O sol começa a baixar de verdade lá pra meia noite, embora nunca fique totalmente escuro, céu escuro de verdade não fica. Fica azul marinho médio, não escuro. Não escurece nunca! 3 horas da manhã o sol já começa a nascer de novo e 5 horas da manhã tá maior solzão como se fosse meio dia!!! Muito engraçado! Em compensação no inverno, não quero nem pensar como deve ser ruim ter tão pouca luz do sol por dia...
Da mesma maneira que eu fiquei super surpresa com o solzão que fazia lá no sábado, e até no domingo, na segunda-feira fiquei mais surpresa ainda com a virada que o tempo deu. A temperatura caiu uns 20 graus e não parava de chover um minuto, não tinha um raio de sol, e muito vento. Esse verão da Europa, olha, não dá pra confiar. Tem sempre que ter um guarda-chuva e um casaco de reserva porque é mais normal o tempo virar do avesso, do que permanecer um verão agradável e constante.

Mas ainda bem que eu já teria que voltar na segunda-feira mesmo e não perdi muito com a chuvarada. Aliás, ...perder? Conto no próximo post sobre a maior surpresa que eu poderia ter: um carnaval brasileiro em plena Helsinki que eu encontrei por acaso!

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