Na empresa onde eu trabalho agora, temos o "Sapient Gives Back day", que é o dia quando nós que trabalhamos lá, fazemos alguma coisa para ajudar a comunidade local voluntariamente, no sentido de exercer responsabilidade social.
A ideia já é conhecida e praticada nos EUA, em Londres, na Índia e na Alemanha, mas aqui na Suíça foi a primeira vez que aconteceu.
A Sapient Suíça não é muito grande e muita gente que trabalha aqui na verdade é da Sapient Alemanha e vem e volta de Dusseldorf ou de Munique toda semana pra trabalhar aqui e volta na sexta-feira. Então termina que funcionário da Sapient Suíça mesmo não tem muitos. E aí tentar botar um evento desses pra frente sem muita gente ia ser furada.
Mas pelo visto a empresa está crescendo, e este ano de 2011 ficou decidido que teríamos nosso Sapient Gives Back, que é uma forma da Sapient retribuir reconhecimentos de trabalhos, projetos, etc. à comunidade. Então por aqui, nós fomos auxiliar uma escola de crianças especiais a organizar o evento de verão deles, lá em Schaffhausen, uma cidade já bem próxima da fronteira com a Alemanha.
Não foi fácil adiantar um monte de trabalho na quarta e na quinta-feira pra poder tirar a sexta-feira inteira livre pra fazer isso. E eu nem precisava, o trabalho é voluntário. Mas eu queria participar. Queria ajudar, queria ver de perto como isso funciona, participar e contribuir também, prestigiar o evento da empresa. Além de tudo, não é sempre que se tem uma oportunidade assim, pra mim, estrangeira morando na Suíça, de chegar tão perto da comunidade local, ainda mais se tratando de crianças que necessitam de cuidados especiais, que são casos tão delicados.
E como foi interessante. Uma experiência verdadeiramente valiosa. O evento de verão na verdade era uma festinha com várias atividades. Tinha brincadeiras, brinquedos no jardim, um mágico no pátio, uma cantina improvisada com doces, bolos e pipoca, churrasco. E nós tínhamos que montar as mesas, colocar os enfeites, fazer o churrasco, assistir às crianças, etc. Enfim, dar uma mãozinha.
Schaffhausen fica a 2 horas de trem de Berna, então imagina pra mim... tive ainda que gastar 4 horas dentro do trem pra ir e voltar ne, mas tudo bem. Chegamos lá cedo ainda, 11 e pouca da manhã. Ajeitamos algumas coisas, nos apresentamos ao diretor, tinha um lanche pra gente, e logo depois começamos a trabalhar na organização. Nos dividimos em grupos e juntos conseguimos deixar tudo pronto, pois às 2 da tarde, as crianças já começavam a chegar.
Depois que as crianças chegaram, nós ficamos responsáveis de ficar nos brinquedos ou servindo. Então tinha gente coordenando lá o pula pula, a sala de pinturas no rosto, e eu fiquei responsável por essa brincadeira aí, que era basicamente dois baldes de água com uma bomba e uma pistola de água, onde um tinha que bombear água e o outro apontar a pistola de água pra apagar o foguinho de mentirinha que tinha na casinha na areia logo a frente.
Então eu tinha que ficar também enchendo o balde de água com a mangueira que tinha lá. Só que lembre-se: eram crianças especiais. Algumas só falavam o dialeto, e pra mim era um mega desafio estar ali lidando com elas. Umas com síndrome de down, outras autistas, outras com alguma deficiência mental, e até doenças raras, como um menino que parecia ter 3 anos e na verdade tinha 8.
Ele tinha uma força de leão e foi até bom ele ir lá me ajudar, porque tinha hora que eu tinha que ajudar uma criança que não conseguia bombear, encher o balde de água, e ainda explicar pras crianças na fila como funcionava a brincadeira, tudo ao mesmo tempo. Tava vendo a hora de dar um tilt em mim e eu começar a falar em Português! Aahahahahahahaha....
Foi bem legal e divertido, mas tinha horas que o bicho pegava, criança chorava, se desentendia com a outra, mas os pais chegaram às 4 horas, e aí nosso trabalho deu uma aliviada, pois eles apareciam pra "apaziguar" a situação com mais facilidade. Me senti como uma monitora numa escola.
E teve horas que mesmo no maior auê lá, eu olhava pra aquelas pessoas a minha volta, todas alegres, comendo pipoca, contentes, sorridentes... e eu nem consigo imaginar o que elas já devem ter passado, cada um dos pais que vi ali, com suas crianças especiais, tanto que eles já tiveram que passar, quantas e tantas dificuldades que devem existir na criação e educação de crianças assim, sabe. Senti como se, mesmo que ali por apenas um dia, eu tava fazendo alguma coisa por elas também.
Gostei demais da iniciativa da Sapient. Tenho falado pouco do dia a dia aqui no blog devido ao monte de viagem de ultimamente, mas estou adorando o trabalho. Trocar de emprego foi a melhor coisa que eu fiz aqui na Suíça. Graças a Deus! E graças a Deus que deu tudo certo como eu esperava. O trabalho é ótimo, as pessoas, o clima, estou amando tudo. E com acontecimentos assim, que tornam o dia a dia e a relação com a empresa não só tanto aquela coisa de dia-a-dia trabalho, trabalho, trabalho e stress, têm feito minha relação com meu novo emprego ser muito mas muito agradável. Ter a oportunidade ainda de participar de eventos de exercer responsabilidade social como este me deixa ainda mais satisfeita.
Foi um dia e tanto. Um dia exaustivo. Mas um dia pra guardar na memória. Ainda tinha 2 horas na volta pra casa e terminei chegando em casa quase 10 da noite. E ainda perdi meu celular. Quer dizer, ele tá aqui, mas tá desacordado. No meio da confusão lá da brincadeira do balde com água, estava eu falando no celular, fui dar uma de dengue da xuxa achando que tinha várias mãos, segurei o telefone com o ombro enquanto enchia o balde com água com uma mão e com a outra mão segurava a pistola de água... resultado? O telefone escorregou diretamente para o balde cheiiiinho d'água. É... acontece. O que importa é que o evento de verão deles lá foi um sucesso e a gente teve nossa participação.Marcadores: cultura, relatos, suíça, trabalho, vida na suíça