O prazer de estar solteira

Eu sou assinante da revista The Economist, e a capa da revista desta semana é esta:

A Asia está casando mais tarde e menos que no passado. Esta é a grande preocupação e as suas implicações. A reportagem é muito interessante e compara a sociedade asiática com a ocidental. Alguns países da Ásia sempre foram exemplo de desenvolvimento e um dos fatores para justificar isto era a base da família e o comportamento das mesmas.

O índice de divórcio na Ásia sempre foi mais baixo que na América e na Europa e isso sempre ajudou a empurrar a economia pra frente. A preocupação agora é que as mulheres de lá estão cada vez mais capacitadas e investindo na carreira, e consequentemente, se afastando ou adiando o tal do casamento.

Se fosse só o prazer de estar solteira e o contentamento da independência financeira e crescimento profissional das mulheres que tivesse em jogo seria muito bom. Mas o buraco é mais embaixo e todo esse "novo" comportamento tem consequências demográficas. Sem casamento, sem bebês, e as taxas de natalidade já começam a ser impactadas.

Não é de hoje que eu ouço que quanto mais instrução a mulher tem - educação, colocação profissional, etc. - mais longe ela fica de toda essa história de casamento, família, etc. Na prática, o que acontece é uma sucessão de fatos onde prioridades são colocadas em prática.

Eu já tive a chance de morar em vários lugares e observar diferentes comportamentos. Já conheci muita gente diferente e tudo isso me ajuda a ter um entendimento melhor das coisas da vida. Tive 5 relacionamentos sérios na minha vida. Namoro mesmo de dizer eu te amo e fazer planos pro futuro. As lições que aprendi em anos desses namoros têm valores que eu nem sei dizer quão grande são.

Em paralelo, eu aprendi a correr atrás do que eu queria. Queria aprender idiomas, estudar, conhecer o mundo, construir uma carreira. A busca atrás de conquistar essas coisas são a tradução da minha garra, minha perseverança e a realização de meus sonhos. Eu não sonhei em construir uma família, casar, ter filhos, não foi isso que eu busquei. Eu queria ser independente!

Sem perceber, eu virei um exemplo desta grande discussão que ronda sociedades e mulheres da minha idade. Seguindo minha velha "rotina" de fazer as coisas bem feitas e não parar de ter metas e sonhos me trouxe aos 29 anos de idade e uma independência tranquila, uma vida confortável, profissionalmente realizada, capacitada, sem falsa modéstia. Sou uma mulher inteligente, culta, ambiciosa, confiante, bem resolvida e solteira.

Em algumas sociedades, seria triste e inaceitável minha situação. Em 1960, mulher da minha idade já teria uns 3 a 4 filhos e estaria cuidando da casa. Poxa... eu amo a minha vida. Precisaria mesmo agora sair em busca de um casamento? Na minha vida e na de tantas outras mulheres como eu aqui, no Brasil e na Ásia, tem outras coisas acontecendo! Eu não descarto a possibilidade de casamento na minha vida, até porque eu acho que ainda estou muito nova pra descartar alguma coisa.. talvez não pra algumas pessoas e algumas sociedades, mas se colocarmos numa balança tantos outros aspectos na bagagem de vida que eu tenho e olhar tantas opções que o mundo oferece na vida de uma pessoa de coisas que ela pode fazer, é triste abrir mão de tudo e ficar só em casa cuidando dos filhos e do marido, quando um dia os filhos crescem e voce percebe que não conhece nada do mundo afora e se dá conta da quantidade de coisas que deixou passar.

É racional que eu queira construir uma família no futuro, mas na minha cabeça, a carreira, a profissão e a estabilidade financeira sempre vieram antes! Afinal, como prover e ser chefe de uma casa com tanta responsabilidade se voce não é capaz de prover pra si próprio?

Além de questões financeiras, eu não quero olhar pra trás e ter a sensação que é tarde demais para fazer certas coisas, e pra mim no momento, esta é a prioridade. Se eu tivesse ficado namorando a mesma pessoa por anos, quem sabe eu tivesse uma cabeça diferente. Mas os relacionamentos que eu tive acabaram, eu tenho personalidade forte e a prioridade na minha vida sempre foi mais pesada no outro aspecto, então não podia ser diferente. Eu nunca quis depender de ninguém, nem financeira nem emocionalmente. Porque relacionamentos são frágeis e no final, voce precisa dar conta da sua vida sozinho mesmo.

Eu sou sim um exemplo de mudança de comportamento feminino dos novos tempos, e tenho muito orgulho da minha posição hoje, do que me tornei. Quando comecei a morar só, eu não tinha essa cabeça. Apesar de me preocupar com estudos e carreira, eu saía a noite pra me divertir mas ficava na esperança de conhecer alguém interessante, e terminei me envolvendo com cada peça. Hoje eu sou diferente disso. Não sou infeliz por ser ou estar solteira. Minha felicidade não depende disso. Hoje eu gosto do meu canto, da minha privacidade, de ser livre pra ir e vir e decidir por mim, aprendi a apreciar outras coisas que se não estivesse sozinha não conseguiria. E eu só abriria mão de tudo isso pra encarar de verdade um novo relacionamento se realmente tivesse alguém que valesse muito a pena. Porque convenhamos, relacionamentos dá um trabalho danado.. e eu adoro minha liberdade. Como no momento não existe ninguém que vale a pena tamanho sacrifício, eu vou vivendo minha solteirice, curtindo o que ela pode me dar de melhor, usufruindo do que tanto busquei, contribuindo e fortificando a classe das unmarried women. Who run the world? Girls!


Girls Who Run The World lyrics

Marcadores: