Belgrado

É, ainda não tá na moda ir fazer turismo em Belgrado não. O vôo Zurique-Belgrado na sexta-feira de manhã tinha homens de negócio e gente falando sérvio. Não vi ninguém com mochila nas costas feito eu. O dia ia ser comprido... eu na minha infinita empolgação planejei de ir nesse vôo de manhã, passar o dia lá andando e ao final da sexta-feira ir pra Sarajevo e dormir em Sarajevo. Isso significa que eu não tinha um ponto de apoio em Belgrado. Era chegar, arrumar um guarda-volumes pra guardar minha mochila e ir andar. Beleza..
O vôo era super curto, 1 hora e 50 minutos depois e já estava aterrisando em Belgrado. Assim que cheguei, vi um balcão de informação turística com um monte de folhetos, mas ninguém pra atender. Fiquei lá um tempo olhando os folhetos, peguei um mapa, esperei, esperei, mas ninguém apareceu. Aí desisti e continuei a sair do aeroporto. Passei pela imigração, mostrei meu visto, ganhei um novo carimbo e fui procurar guarda-volumes. Surpresa! Não há!! Eu como sou uma viajante aprendiz - já modéstia a parte - preparada, levei uma mochila pequena só com o essencial, caso tivesse que andar com a danada nas costas. E a Lei de Murphy não falha. Lá fui eu com a mochila descobrir como fazer pra sair do aeroporto e chegar no centro de Belgrado, que não é perto. Não tinha organizado nenhum transfer. Na saída, aquele monte de homem oferecendo taxi, eu me fingindo de surda, achei um ônibus bem na frente da saída de desembarque do aeroporto com um papel colado escrito RAILWAY STATION e SLAVIJA SQUARE. Era esse mesmo!
Perguntei ao motorista quando custava, entendi 2,50, abri minha carteira e o dinheiro da Bósnia tava misturando com o da Sérvia. Eu sem saber qual era qual com o motorista esperando eu entrar no ônibus, peguei 10 marcos bosneo sem saber que era o dinheiro errado. Já comecei bem ne! Ele olhou pra mim e disse qualquer coisa em sérvio, quando eu me toquei que tinha pego o dinheiro errado. Custava 250 dinar! Entreguei lá o dinheiro certo e finalmente consegui sair do aeroporto com a minha mochila nas costas. Uns 20 minutos depois, eu ainda estava no ônibus. O centro é longe. Enquanto isso, eu ia prestando atenção no lado de fora, às paisagens, aos prédios, às construções em grande parte mais velhas que novas. A medida que as ruas iam ficando mais movimentadas, o trânsito ia ficando mais lento, o ônibus se aproximava do centro. A cidade é organizada, as ruas são bem pavimentadas, mas não há como não notar alguns lugares pedindo pra ser reformado, uns carros que não deviam estar circulando já há muito tempo, e coisas do tipo, sabe. Não é pobreza, é apenas um pouco de mal trato, vamos dizer.
Desci na Praça Slavija, tirei do bolso o mapa que peguei no balcão de informação ao turista do aeroporto sem ninguém pra atender, e fui descobrir como chegava de lá a Igreja St. Sava, que era a capa do meu guia da cidade, e eu queria conhecê-la primeiro, por questões geográficas na organização do itinerário que fiz na minha cabeça.
E pronto, de repente já estava lá de mochila nas costas e tudo, 10 horas da manhã turistando por Belgrado. Por sorte, a igreja não era longe da praça Slavija. Fui andando, tirando foto, prestando atenção as coisas por onde passava. Em geral, as pessoas até respeitam os sinais de trânsito. Não é como aqui na Suiça que tudo é respeitado exageradamente, mas até que é direitinho. Voce ouve ainda uma buzinada, carro passando no sinal vermelho, uma pessoa atravessando a rua fora da faixa, coisa que aqui na Suiça voce raramente nunca vê. Mas tudo bem. O tempo estava ótimo, céu azul azul, sol e temperatura boa. Turistas assim como eu tinha pouquíssimos. Quando fui chegando perto da igreja de St. Sava foi que comecei a ver grupos de turistas, vi 2. 2 grupos de idosos alemães, e lá na frente à igreja mesmo, nem tinha tanto turista assim. Muita gente de lá mesmo, passeando com os filhos, sentado na praça da frente, ou indo à igreja mesmo só pra rezar.
São Sava foi um príncipe e o primeiro arcebispo sérvio, do século XII. Foi também um dos santos mais importantes da Igreja Ortodoxa Sérvia e se dizia fundador dela. A igreja é gigante, mas ainda está em reformas do lado de dentro. A construção dela começou em 1930, mas por causa das guerras, foi restaurada e ainda está passando por construções internas. Mas a fachada é incrível, com placas de mármore, os sérvios se orgulham desse patrimônio. Eu não sei muito da Igreja Católica Ortodoxa, mas vi que a maneira que eles louvam é diferente do meu catolicismo. A começar que quando entrei na igreja, vi tanta gente em pé lá rezando, eles fazem o sinal da cruz 3 vezes, acendem muitas velas, beijam as imagens e tocam em tudo. A Igreja Católica Ortodoxa segue mais ou menos os mesmos princípios da Igreja Católica Apostólica Romana, mas os cristãos ortodoxos não reconhecem a autoridade do Papa, a Imaculada Conceição, e assim se dividem como uma nova religião segmentada do catolicismo.
Lá dentro acho que tinha mais sérvio mesmo rezando e fazendo suas preces do que turista. Incrível. Fiquei até sem jeito de interromper a reza de alguém pra pedir pra tirar uma foto pra mim. Mas oh well, era só o começo. Igreja St. Sava conhecida, fui continuar minha andança. De novo com meu mapinha na mão, fui voltando a praça Slavija pra de lá seguir subindo a rua Kralja Milana e chegar no centrão mesmo. O caminho não era curto não, mas era bom que ainda tava no começo do dia, eu tava disposta, o dia tava bonito, e eu tinha muito que observar na minha caminhada.
No meu guia diz que Belgrado é uma cidade relaxed. Eu discordo. Não achei nada relax não, achei bem corrida. Pelo menos o centro e os lugares por onde andei, não senti uma atmosfera relaxada em nenhum momento. Nem quando parei pra comer. Na caminhada até chegar ao centro onde tem a rua de pedestres, a Knez Mihailova, achei tudo bem com cara de cidade grande, prédios e mais prédios, lanchonetes, uma rua numa cidade grande, como no centro de São Paulo. Andando até chegar a praça Trg Republike que é enorme e onde fica o Museu Nacional e o prédio do Parlamento onde muitos protestos já aconteceram na época do governo iugoslavo, dali dá pra ir em várias direções - ao sul de Belgrado, a rua de compras Knez Mihailova, e é um grande ponto de encontro, com fontes, bancos, cafes e mesas na calçada, muita gente, além dos prédios famosos que falei antes.
Ok, ali nessa praça voce tem a impressão de estar numa capital europeia. Mas olha, só aí também viu. No resto, é puro leste europeu mesmo. Indo para a Knez Mihailova que é a rua de compras, meu guia diz que ali voce se sente em qualquer boulevard das grandes capitais europeias. Eu até entendo, mas falta muito pra Mihailova ficar como a Mariahilferstrasse em Viena, ou a Bahnhofstrasse em Zurich. Tem algumas lojas bacanas, mas os prédios ainda são bem mal conservados, e a variedade é menor. Eu não to reclamando não, é só uma comparação, uma observação. Não fui em Belgrado fazer compras. Se bem que lá em GAP e em Zurich não tem.
Mas dá pra andar tranquilamente. Na rua de pedestres e nas outras ruas, caminhar em Belgrado não bate nenhum medo, não é nada de outro mundo. Se voce tiver com bastante paciência pra entender as placas e souber pra onde vai principalmente, não tem problema nenhum. Teve hora de eu perceber que estava lá parada com o mapa na mão num sinal de trânsito olhando pra placa com o nome da rua, olhando pro meu mapa, olhando pra placa, olhando pro meu mapa... o sinal fechando e abrindo, fechando e abrindo, e nada.... eu lá no mesmo lugar. Difícil de entender viu. Eu não conheço o alfabeto, então ficava lá comparando pra ver se batia onde eu achava que estava com o que onde eu realmente estava. Ruim como for esse idioma maluco, eu não me perdi nenhuma vez e é relativamente simples se situar por lá.
Outra pequena dificuldade que encontrei também foi a ausência do Inglês. Po, pouca gente fala Inglês lá hein. Nas lojas que entrei, na lanchonete, na rua mesmo, as pessoas não falam. Imagine o sufoco ne. Teve uma hora que eu fui perguntar informação de uma rua no mapa numa farmácia, e a mulher respondia em Sérvio, e eu falava Inglês, e ela em Sérvio, e eu em Inglês, pense.... Mas consegui me virar. O calor na metade do dia já tava grande, a mochila nas costas começava a pesar mais que o normal, e era hora de um Frikam. Frikam é a marca de picolé mais popular em Belgrado! Em cada esquina, em cada botequim, tinha lá um Frikam e todo mundo com um Frikam na mão. É bonzinho.
Bati perna ainda por um bom tempo, até chegar a Kalemegdan, que é o forte de grande importância na história, com vista para o Rio Danúbio e Sava, obviamente com um importante papel para os antigos governantes desse país - celtas, otomanos, austríacos. Mas o parque é tão interessante que eu vou fazer um post só pra ele. Fica na outra ponta de onde eu comecei meu tour, na igreja de St. Sava. Ou seja, forte visitado, estava completo meu principal itinerário montado, que queria conhecer. Só era o tempo de voltar andando tudo de novo, a rua de pedestres Knez Mihailova que também não é curta, a Kralja Milana, até chegar novamente na praça Slavija de onde a cada 20 minutos tinha ônibus de volta para o aeroporto. É, aquele de 2,50. err quer dizer, de 250.
No total foram 12 horas andando non stop em Belgrado, capital da Sérvia. É, não é muito. Não entrei em nenhum museu, não fiz nada que gastasse muito tempo. No máximo entrei em igrejas. Meu objetivo era bater perna e conhecer high level a cidade em seu outdoor. E acho que consegui.
Próximo post conto do forte em Kalemegdan!

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