Sarajevo

A capital da Bósnia hoje parece uma cidade que parou no tempo. Embora os guias de turismo insistam em dizer que é uma das cidades que mais cresce do leste europeu, a verdade é que desde que perdeu 11 mil cidadãos na guerra da Bósnia na década de 90, Sarajevo não conseguiu se recuperar totalmente. Hoje ela tem quase 3 milhões de pessoas. Apesar do esforço e investimentos em reconstruções, reformas e restaurações, da antiga glória de lá só se vê resquícios.
É muito prédio abandonado caindo aos pedaços, meios de transporte que não são renovados há décadas. Poucos minutos andando em Sarajevo, tem-se a clara impressão de que você voltou no tempo. Lá não tem nada de luxo, nada de chique. Sarajevo é simples. Eu fiquei hospedada no centro antigo e pra falar a verdade, eu curti mais bater perna em Sarajevo do que em Belgrado. Sei lá, Belgrado é grande demais, é confuso, muito trânsito. Já Sarajevo apesar de mais acabadinha, é mais calma, é menor, mais tranquila, as ruas são mais estreitas. Claro, nas rodovias as ruas são largas, mas o centro, onde se faz turismo, é menor, mais concentrado, e mais aconchegante.
Talvez seja porque eu estou acostumada a morar em Berna e to acostumada a cidade com ritmo mais lento, mas eu amei o centro antigo de Sarajevo, Baščaršija. Um pequeno labirinto de ruazinhas estreitinhas, com várias lojinhas, bares, ideal pra ser explorado a pé mesmo. É o coração da cidade. Muito charmoso, simples, bater perna em Baščaršija é uma delícia. Voce anda, olha pratos de cobre, souvenirs autênticos, um conjunto de café, e daqui a pouco dá de cara com uma mesquita, anda mais um pouco, bate numa igreja. Achei maravilhoso ficar andando ali.
Falando em café, o café bósneo é muito famoso e merece um parêntese. Tradição do lugar, mesmo com a temperatura batendo 30 graus, em cada esquina, em cada bar, em cada lojinha, era gente tomando um café bósneo sem se preocupar com nada mais. Não me pergunte a diferença de como é feito, mas eu tomei e achei parecido com o café turco, só que mais grosso, mais forte, mas o gosto é bom. É sempre servido com um cubo de gelatina, e o grande lance que os bósneos se orgulham de diferenciar o café bósneo do café turco é não misturar o açúcar no café, mas comer o açúcar antes puro, e aí depois apenas beber o café.
Eu me juntei a um pequeno grupo num tour no sábado de manhã que andaria pelo centro antigo de Sarajevo. Tinha duas inglesas e uma alemã, eu e a guia que era de lá. Foi super legal bater perna num grupo tão pequeno porque pudemos conversar melhor, conhecer mais do que a guia tinha pra dizer, que era suuuuper interessante porque era ela de lá mesmo, era jovem, viveu na pele as consequências da guerra da Bósnia e ponde contar pra gente um pouco da sua experiência. Seu pai era militar e teve que servir quando o país entrou em guerra, e ela e a mãe foram para a Alemanha, ficar lá durante o tempo da guerra pra se proteger do conflito. Ela era muito pequena, aprendeu Alemão, e quando viu o pai de novo 5 anos depois, não lembrava mais dele. Hoje depois de já ter conversado com seu pai de novo, mais madura e ciente do que o país estava vivendo naquele momento, ela entende que foi uma das piores coisas que o pai dela já viveu: ser obrigado a servir, sobreviver, voltar da guerra, encontrar a família e a filha não o reconhecer. Ela disse que quando o viu pela primeira vez depois da guerra, o pai estava muito magro, mal cuidado... Deve ter sido uma época muito difícil mesmo. Depois de mais alguns anos, todos voltaram a morar em Sarajevo, ela terminou os estudos e hoje é guia de turismo.
Sarajevo é muito rica culturalmente, muito distinta. Eu mesma nunca tinha visitado nada parecido. Muito autêntica, e apesar da pobreza, é muito tranquilo de andar. Por vezes eu meio que me perdi no centro com tanta rua pra lá e pra cá, mas nada demais, o centro não é assim tão grande e logo logo eu me achei. A maioria das atrações se concentram ali, então é tudo muito prático. Me hospedei num hotel muito bonzinho no centro, com free wifi, café da manhã e muito em conta, e era só sair do hotel e eu já estava no centro.
Sarajevo não é uma cidade de museus majestosos, fachadas imponentes, é uma cidade vibrante de estilo único e uma cultura rica.  Sarajevo é uma bonita cidade, e as pessoas de lá são bem amigáveis. Bem mais que em Belgrado, eu achei. Apesar de ser a capital da Bósnia, não carrega ostentações e vantages de cidade grande não. O Festival de Filmes que acontece por lá no final de Agosto foi uma grande vitória, resistência da época da guerra e mantém vivo o espírito de cenário cultural da cidade.
Muita coisa na cidade foi construída devido aos Jogos Olímpicos de 1984 que aconteceu ali. Uma revolução socialista, dizem os locais. As Olimpíadas de 84 em Sarajevo foram um marco, época de prosperidade, investimentos, turistas e renovações. Pena que tudo veio abaixo com a guerra de 92 a 95.
Todo mundo fala Inglês. Os restaurantes são uma atração a parte. Todos sempre cheios, os menus quase todos só com comida bósnea. Eu estava morta de fome no sábado a noite, e quando fui dar uma volta e olhar o que todos estavam comendo, só via Ćevapčići! Ćevapčići é nada mais que bolinhos carne moída com pão tipo Kebab, cebola e queijo. Todo mundo estava comendo isso! Eu fiquei curiosa e fui comer também. É bom, nada de extravagante. Mas as opções são bem mais vastas. Ninguém passa fome se tiver afim de explorar a culinária da Bósnia!
Que mais me chamou atenção de atração turística foi o túnel, construído clandestinamente na época da guerra para abastecer a cidade longe da influência dos sérvios. Hoje uma parte do túnel é um museu próximo ao aeroporto, principal atração turística de Sarajevo, que eu contarei no próximo post.

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