Quando a viagem não dá certo

Senta e chora. Foi o que eu fiz. Literalmente. A viagem pro Sri Lanka foi mais perrengue que diversão. Graças a Deus estou de volta a India! Os dias que passei no Sri Lanka podiam ter sido melhores... tudo foi uma sucessão de fatores infelizes combinados com a falta de sorte. É, acontece. Não é sempre que temos a sorte de dar tudo tão certo e perfeito como foi a viagem de Israel e a Turquia. Viajar pela Ásia naturalmente exige mais cuidados do que viajar pela Europa, e até pelo Oriente Médio para nós, ocidentais. Dessa vez, as coisas complicaram um pouquinho mais.

Bom, pra começar, ok, eu assumo, eu podia ter me preparado melhor. Mas como seria apenas um mísero fim de semana em Colombo, capital do Sri Lanka, eu negligenciei um pouco.. afinal, o que é um fim de semana no Sri Lanka pra quem tá na Índia por quase 3 semanas, não? Pensei errado. Um fim de semana no Sri Lanka é muita coisa e exige mais cuidados do que o que eu dediquei.

Como eu estaria trabalhando em Bangalore que é no sul da Índia, pertíssimo do Sri Lanka, achei que seria o ideal esticar até lá num fim de semana por minha conta e aproveitar mais a viagem a trabalho. Ora o vôo durava apenas 1 hora. Mas só depois que eu estava de passagem comprada, fui realmente ler a respeito de alguns cuidados e descobri que brasileiro precisa de visto pra entrar no Sri Lanka!!! A gente fica mal acostumada com essas regras que ora funciona como imigrante na Suiça, ora funciona com as regras de passaporte brasileiro. Lá fui eu numa sexta-feira até Genebra no consulado do Sri Lanka correr atrás do visto. Mas o visto foi jogo rápido. Ficou pronto no mesmo dia. Ah se todos os problemas dessa viagem do Sri Lanka se resumissem a um mísero visto no meu passaporte.

A passagem pelo ebookers.ch foi uma pechincha, mas em compensação o vôo da volta tinha conexão em Chennai, na India, e era de madrugada. Tudo bem, achei que valeria o esforço, afinal eu ia conhecer o Sri Lanka!!!

Antes de ir, pesquisei em vários lugares o que ver em Colombo e tive a impressão que não tinha taaaanta coisa assim pra ver lá além de templos budistas. Porque eu não tava afim de ir a praia. Beleza. Reservei um hotel mediano pelo booking.com e entrei em contato por email pra saber o que eles ofereciam ou sugeriam em passeios num dia. Todo email que recebi tinha sempre "don´t worry, madam". Mas po, é claro que eu me preocupo, quero saber o que vai acontecer ne.

No meio de tanta coisa acontecendo na preparação da viagem pra India com a passagem que tinha saído errada, as vacinas, o trabalho amontoando e tanta coisa pra deixar pronta, terminei sem querer confiando nesse don't worry madam do cara do hotel e não me preocupei o tanto que deveria no planejamento desse fim de semana pelo simples fato de nao ter dado tempo. Eu não dei conta. Fato.

Peguei o vôo Bangalore-Colombro pela Sri Lankan airlines e eu era a única mulher do vôo que não estava vestindo sari. Até as comissárias de bordo eram de sari.

OK! No problemo! Ah se esse fosse o problema!

O vôo foi ótimo, tranquilérrimo apesar dos srilankans serem muito conversadores. Aterrisamos em Colombo e meu carro que reservei estava lá com uma placa com meu nome me esperando pra me levar pro hotel.

O aeroporto é longe de Colombo e levei quase uma hora pra chegar no hotel. Cheguei no hotel já tardão da noite, e a primeira impressão... humm... já não foi boa.

Eu já fiquei em muito hotel marromeno nessa vida, mas esse tava muito mais pra menos. Uma escuridão danada na recepção. Eu mal conseguia entender o que o cara da recepção dizia, que sotaque difícil!!! Eu queria saber do meu tour!!!!! O cara lá da recepção só dizia pra eu não me preocupar e eu já tava me irrirando com o "madam" a cada duas palavras que ele dizia. Percebi que não tinha tour nenhum, e ele foi ligar lá naquela hora mesmo pro amigo dele chamado Raju que é motorista e podia fazer um "tour" comigo em Colombro no dia seguinte.... opa opa opa, meu amigo, pera lá, this is not what I signed up for!!!!!!!!!!! Já comecei a mudar o tom de voz e ele me dando o telefone pra falar com seu Raju... olha, eu já tava me arretando. Como vi que não ia resolver nada com esse senhor despreocupado da recepção, achei melhor me recolher, também já estava cansada e não ia resolver nada ali aquela hora da noite. Quem sabe de manhã de cabeça fria e (com sorte) outra pessoa na recepção, eu consiga resolver alguma coisa.

Fui pro meu quarto. Outra decepção. O quarto tinha cheiro de mofo e foi só o cidadão lá abrir a porta que eu já comecei a espirrar. Liguei o ar pra ver se melhorava, mas estava tão cansada, que deixei pra lá minhas patricices e fui dormir. No dia seguinte, acordei, encarei o banho no banheiro escuro e precisando de reforma, me arrumei e desci pro cafe da manhã. Surpresa! O café não está incluso na diária e custa 9 dólares. Mas... trust me, o café não valia 9 dólares. Resultado: não tomei café. Bebi água e fui pra recepção resolver meu tour.

O cara na recepção era outro mas ele falava a mesma coisa-- o tal do senhor Raju. Me colocou pra falar com ele no telefone e eu não entendia absolutamente nada do que ele dizia!!!! Perdi a paciência e peguei o email que tinha impresso que dizia que eles tinham várias opções de agentes de viagens que poderiam me ajudar no meu dia em Colombo, e no meio da cena que eu fazia lá, apareceu a gerente me chamando pra conversar num canto. Eu também mal entendia o que ela dizia e desisti. Estava decidida a ir pra outro hotel, e dizia a ela pra fazer meu check out e me dizer quanto eu tinha que pagar que eu ia embora. Mas a gerente não me deixava e quanto mais ela insistia pra eu ficar e ouvi-la, mais eu me irritava.

Finalmente ela disse que havia outra parte no hotel com quartos novos e renovados e por apenas 5 dolares a mais por dia eu poderia trocar de quarto e ir lá me acalmar pra depois resolver a situação do tour. Fui lá com ela ver o quarto e era melhor mesmo. Mas ora, por que não me ofereceram essa birosca antes?!?! Dormi lá no mofo podendo ter dormido melhor... anyways.. sobre o tour, estava lá conversando com a gerente e quem me aparece??? O senhor Raju!!!! Com 35 anos de experiência em tours, segundo ele, começou a falar e mostrar no meu guia da Lonely Planet os lugares que ele ia me levar.

É, pensei racionalmente e mudar de hotel seria muuuuuito gasto porque esse já estava pago, e hotel em Colombo não é barato. Já era mais de 10 horas da manhã, eu só tinha bebido água e odeio ter a sensação de estar perdendo tempo. Eu já estava ali mesmo, meu novo quarto era melhorzinho e o senhor Raju começou a passar alguma confiança. Ora, por que não? Fui.

Olha, sei não, senhor Raju pode ter 35 anos de experiência mas tem que melhorar MUUUUITO. Parecia uma pegadinha, no minuto que entramos no carro - e não me leve a mal, era um carro de luxo muito bom e muito confortável - parecia brincadeira. Ele não entendia o que eu dizia, e o Inglês dele parecia que tinha piorado assim num piscar de olhos. Na primeira parada que fizemos que foi num templo budista, ele queria me deixar lá e marcar uma hora pra me buscar de volta. HAHAHAHA!!! MEU SENHOR VOCE SO PODE TA DE BRINCADEIRA!!!! Nada disso, mandei ele ir comigo, cade os 35 anos de experiência? Eu queria um TOUR! Com explicações e tudo mais. Ele foi, mas as explicações tá devendo até agora. Nem as perguntas que eu fiz ele entendia, muito menos respondia. Péssimo. Tive que apelar lá no meio do circo pegando fogo ao meu guia quando queria saber de alguma coisa. Mas, tá na chuva é pra se molhar. Só tem tu, vai tu mesmo, como diria em Recife.

Meu tour com o senhor Raju foi um teste de paciência. Sim, visitei vários lugares interessantes em Colombo, templos, museus, praia, mas ele era nada mais que um motorista. Só.

Nem tirei muitas fotos em Colombo porque segundo lugar, senhor Raju era um péssimo fotógrafo e eu estava me esforçando muito pra curtir o passeio.

Além do que, o calor lá fora estava de matar, então não tinha nem muito ânimo pra sair do carro e sorrir pra foto.

Pro segundo dia, meu plano era conhecer Kandy ou Galle, a uns 100 e poucos km de Colombo, cidades históricas e interessantes. Mas com senhor Raju eu não iria de novo nem a pau! Ele até fez um preço camarada porque deve ter percebido na minha cara de decepção que eu não era a mais feliz das turistas. Mas de novo com ele eu não ia não. Quando voltei do meu passeio pro hotel, contei até 10 e fui na recepção descobrir como arrumar um jeito de ir até Kandy ou Galle. Alguns minutos depois, conversei com outro agente de viagem no telefone pra arrumar a viagem pro dia seguinte, mas eu não sei se era porque eu já tava chateada com tudo e comigo por não ter planejado isso melhor, ou se era porque a proposta do tour do cara no telefone não era boa mesmo, que eu desisti. Não, deixa pra lá. Não vou sair de Colombo. E passei basicamente o dia seguinte no hotel dormindo e acordando esperando a hora de pegar meu vôo de volta a India. Infelizmente o que eu haveria de ver em Colombo, tinha visto com senhor Raju.

Check out do hotel, mais um stresse. Contas de câmbio erradas, recibo rasurado, um horror. Haja paciência! O hotel foi o Renuka City Hotel. Um dos motivos que eu reservei minha estadia lá foi o fator localização. Ora, mas foi ingenuidade minha achar que ia fazer alguma diferença. Como se Colombo fosse Sarajevo ou Helsinque que é só sair do hotel e ir bater perna.

Bom, meu vôo na verdade eram 2 vôos. De Colombo ia a Chennai, já na India, e de lá mais um vôo para Bangalore, e finalmente voltar pro meu hotelzinho querido. No check in, me colocaram numa poltrona lá no final do avião, mas quando estava pra embarcar, porque eu era a única estrangeira do voo, me colocaram na primeira classe. Achei ótimo, fui lá na maior mordomia, sem saber o que estava por vir.

Cheguei em Chennai e..... mais uma surpresa!!!!!! Minha mala estava aberta, com cadeado quebrado e com minhas coisas todas reviradas, necessaires abertas..... horrivel, horrivel, horrivel.... eu que já estava com stress acumulado dos últimos acontecimentos e no limite da minha paciência, comecei a chorar e me segurei pra não explodir... mas foi em vão... dei um escândalo lá no aeroporto quando a Jet Airways disse que não ia fazer nada a respeito. Eu não vou nem escrever em detalhes aqui sobre esse momento, porque só de lembrar, me dá uma raiva tão grande mas tão grande, que eu só falto explodir!! Dei falta de um perfume, uma camiseta e um relógio, coisas pequenas, e depois de pesar a mala e ver que o peso estava mais ou menos o mesmo, a mulher lá da cia aérea só pediu desculpas pelo ocorrido e disse que não podia fazer nada. Ora, levaram objetos pequenos, claro que não faz diferença no peso! E só o fato da minha mala estar arrombada sem o cadeado e com o ziper destruído deveria servir pra alguma coisa!!!! Mas não.. fiquei lá parecendo uma louca chorando desesperada com todo mundo me olhando. Não foi nem o fato de ter sido roubada que me deixou mais chateada. Fiquei furiosa pela falta de interesse da cia aérea em fazer qualquer coisa por mim, e num momento que eu tava lá totalmente vulnerável, desprotegida, com alguém sei lá quem abrindo minha mala e mexendo nas minhas coisas!!! Ahhhh que óóóóóóóódiiooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Muita raiva, muita. O que eu mais queria era chegar no hotel aqui em Bangalore... e ainda tinha mais um vôo pela frente... Bom, mas aí eu não ia despachar novamente a mala no novo voo. Era uma malinha pequena, tinha despachado no vôo anterior por conta dos líquidos que tinha dentro. Mas depois dessa, se me barrassem pelos liquidos, eu os deixava, mas não despachava minha mala de novo de jeito nenhum, ela iria comigo lá em cima na cabine. Surpresa de novo??? Me barraram quando fui passar no raio x com a mala, mas não pelos líquidos, mas pelo canivete suiço!!!!!!!!!!!!!! Ah.. parece pegadinha ne? Deixei a piiiiiiiii do canivete suiço e embarquei na cabine com minha mala. O Liana, por que voce nao fez isso antes? Nada disso teria acontecido...

Bom, eu não vi o avião decolar nem aterrisar. Só acordei quando ouvi a menina do meu lado desafivelando o cinto. De tão cansada que estava, dormi feito uma pedra mesmo. Saí do aeroporto de Bangalore com minha mala rezando pro motorista estar lá fora me esperando e claro, esse fim de semana definitivamente não era meus dias de sorte. Ele não estava. Lá vai eu ligar pro cara do transporte da empresa que organiza... e liga pra lá, e liga pra cá... 15 minutos depois aparece o cidadão. Devo ter parecido a sujeita mais antipática da face da terra, porque não sorri, não dei bom dia, não entreguei minha mala pra ele carregar, não abri a boca. Depois de tudo que eu passei nesse fim de semana, eu só queria chegar aqui no hotel, tomar um banho e relaxar. Afinal amanhã tenho que estar inteira pra um dia intenso de trabalho como se nada tivesse acontecido.

Fica como experiência. Nem sempre as viagens são como programamos, e nesse caso, que eu nem programei direito, nem sempre é como a gente espera.

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