Taj Mahal

A primeira coisa que me veio a cabeça quando essa história de ir a India a trabalho começou a ser sondada foi a possibilidade de conhecer o Taj Mahal.
Até quem não sabe nada da India sabe da importância do Taj Mahal no mundo, seja no mundo das viagens, no mundo da arquitetura, no mundo dos rajás indianos, no mundo das histórias de amor. Até quem não sabe nada da India nem da importância do Taj Mahal no mundo, se for brasileiro conhece aquela música que começa assim... "Foi a mais linda história de amor...". Realmente o Taj é famoso em diversas áreas, diversos setores, diversas dimensões e ângulos. E conhecer de perto foi a primeira preocupação que tive quando foi confirmada minha viagem a India. A India é gigante, como ir? como chegar? onde fica exatamente?
Eu só sabia que ficava no norte, e eu estava no sul, e eu ia precisar voar não sei pra onde pra chegar lá. Com a muito bem vinda ajuda do meu chefe, juntei todas as informações necessárias, organizamos tudo e eu fui. Com fé e com uma ansiedade gigantesca numa jornada onde aventura era apelido. Acho que eu nunca tinha ficado tão ansiosa pra ver um monumento assim como desta vez. Talvez porque eu estava na India com todas suas diferenças, e ainda mais sozinha, o esforço era grande. Eu tinha que me deslocar 2 mil kilômetros sendo vista como uma ET, uma estranha por todos que me olhavam, "só" pra ir ver um monumento de perto. Mas olha... que monumento, não é mesmo?!!!
O que eu tinha que fazer (e fiz) foi o seguinte: primeiro eu tinha que comprar uma passagem de avião Bangalore-Delhi, pois Delhi é onde tem um aeroporto mais perto de onde fica o Taj. Só que "mais perto" ainda é uma maneira legal de dizer. O vôo durava assim umas 3 horas, e chegando lá (Delhi é a capital da India, diga-se de passagem, a maior cidade do país. E a maior cidade da India é grande!), ir de carro até Agra, uma cidade a 200km de Delhi. O Taj Mahal fica nas proximidades de Agra. Só que em Agra não tem aeroporto. E 200km de Delhi pra lá não são assim como 200km em outro lugar do mundo onde as rodovias são boas e voce dirige numa velocidade constante e chega no seu destino num tempo razoável. As rodovias não são nem o problema, até são boas, apesar de alguns buracos crateras, mas o problema é a quantidade de gente!!! Como sempre!!! Não dá pra manter uma velocidade constante quando se tem que desviar de carroças, vacas, carros de 3 rodas a 40km por hora, feiras com gente no meio da estrada, caminhões esbarrotados de tudo-quanto-é-coisa e tudo mais que voce possa imaginar. A não ser que voce vá a 20, 30km por hora, até dá pra ir numa velocidade constantezinha, apesar de voce ainda ter que diminuir pra passar nos buracos. Mas a pista é dupla, já ajuda bastante. Mesmo assim, levamos nada menos que 5 horas e meia pra concluir os 200km de Delhi a Agra e chegar num hotel que eu reservei lá em Agra. Eu e o motorista. Motorista esse que meu chefe reservou pra mim pela empresa e não me deixou pagar nada porque eu estava fazendo such a good job. Que beleza de presente.
O Taj é fechado às sextas-feiras e eu cheguei a Agra na sexta a noite, depois de passar o dia inteiro viajando - de avião e de carro, contando as esperas em aeroportos, foram no total umas 13 horas. Tudo para ver o Taj de perto. O hotel que fiquei em Agra era maravilhoso, o Trident. Não era barato também, mas foi sugestão do meu chefe, de quando ele foi lá pela primeira vez. E como na India não dá pra brincar com higiene e cuidados, eu acatei imediatamente a sugestão dele porque sei que ele tem altos padrões. Apesar da ansiedade, dormi feito uma anja e acordei sem sinal de cansaço pra chegar ao Taj às 8 da manhã, eu, o motorista e um guia, também reservado pelo meu chefe.
O motorista falava pouco Inglês, mas o guia era ex professor da universidade, falava muito bem Inglês e eu joguei as mãos para o céu de estar dando tudo certo. Chegamos lá no parque onde fica o Taj, descemos do carro eu e o guia, e começou a sessão celebridade. Muitas pessoas tinha por todos os lados, mas ali eram muitas pessoas me olhando, tirando foto descaradamente, pelo simples fato de eu não parecer indiana. A maioria esmagadora de gente que estava ali visitando o Taj Mahal naquele sábado era simplesmente dali mesmo, indiana. Muitos, muitos indianos. Excursões de escolas, famílias, grupos de amigos, era indiano pra tudo quanto era lado.
Turistas assim com cara de ocidental eram poucos. Poucos mesmo, contava-se nos dedos. Então era meio que atração especial ali ver uma cor de pele um pouco mais clara. Então enquanto eu e o meu guia andávamos no parque, chegando nas imediações da entrada do parque, já começava a sessão de fotos e gente pedindo pra tirar foto comigo. Eu no início achei muito esquisito aquele monte de gente me olhando, até achei que tinha alguma coisa errada com a minha roupa (que se voce olhar a roupa das indianas, até deve ter), e minha reação era sempre de surpresa quando alguém pedia pra tirar foto comigo, eu dizia que não era famosa, mas não importava. Eles queriam porque queriam tirar foto, estavam lá tão sorridentes, que eu depois pedi pro meu guia tirar também foto de algumas pessoas que pediam pra tirar foto comigo.
Para entrar no Taj, indiano paga 20 Rupees, o que é menos de 50 centavos de dolar. Mas estrangeiro paga 700 Rupees!!! Comparado ao preço que os indianos pagam, estrangeiro paga um assalto pra entrar ali, mas fazendo a conversão, 700 Rupees é menos de 15 dolares, então tá tudo certo. Vejo isso como um incentivo pros indianos visitarem seus monumentos. Mas ao mesmo tempo é mais um exemplo de como eles tentam extorquir dinheiro de estrangeiro. É porque eu tava muito empolgada pra conhecer o Taj e muito bem humorada, mas nos passeios que fiz por Agra, Delhi, Mysore e Bangalore, perdi a conta de quantas vezes respirei fundo pra não me irritar por ver que algum indiano seja guia ou conhecido tentando me oferecer ou vender algo por um valor absurdamente mais alto do real, só porque eu era estrangeira. Em qualquer chance que eles tinham, eu via uma tentativa às vezes sutil às vezes não de tentar se aproveitar e levar vantagem no valor das coisas. Mas tudo bem, esse não é o objetivo deste post. E como eu disse, eu não queria me irritar, afinal estava prestes a ver de perto o majestoso Taj!
Paguei os 700 Rupees e fomos andando no meio de (MUITA) gente, macacos, camelos e esquilos. O complexo é enorme e o parque é bem cuidado, organizado, e é difícil conter a ansiedade quando a gente anda, anda e nada de Taj aparecer. O guia lá explicando, falando da história por trás do monumento, mas ora, eu já tinha lido até de trás pra frente a história do Taj, eu queria VÊ-LO DE PERTO!!!! E aí, como mostra a primeira foto deste post, de repente aparece ele de relance, no fundo da passagem que eu me aproximo. Magnífico, esplendoroso.........
..................................................................o TAJ MAHAL!!!
É interessante refletir por que o Taj Mahal é tão famoso mundo afora e foi escolhido como uma das 7 maravilhas do mundo moderno. Seria pela sua perfeita simetria, sua proporções deslumbrantemente simples, ou pela história do imperador e sua esposa por trás de tudo?
No século XVII, o imperador Shah Jahan era um general muçulmano que celebrava festivais islâmicos e proibiu investimentos em reformas de igrejas e templos. Ele queria fortalecer os laços islâmicos na India. E seguia tradições como a de ter várias esposas. Arjumand Banu Begum, ou Mumtaz Mahal como era conhecida, era sua terceira esposa e a favorita. Casaram em 1612 e todos os 14 filhos do imperador que nasceram depois desta data eram dela. Ela morreu em 1631 aos 39 anos quando dava luz ao décimo quarto. O imperador mandou construir logo em seguida uma espécie de tumba para guardar o corpo dela, e o dele, quando ele morresse. A tumba foi mais que ornamentada e o resultado foi um monumento que levou 17 anos para ser construído, lindo, mais que perfeito, todo de mármore trazido de elefante de Makrana, a 300km dentro do estado do Rajastão, decorado numa beleza eclética onde de perto se vê caligrafia árabe desenhada no mármore branco, rosas reluzindo no sol que só aumentam a magia do lugar.
As quatro minaretes em volta do monumento que guardam a tumba da rainha não deixam dúvidas que ali existia um reinado muçulmano, e fazem lembrar o quanto a India é tão cheia de diversidades. Eu estava ali na India, em Agra, cara a cara com o Taj Mahal, uma prova de amor como jamais vista, no meio de toda aquela gente sique, hindu, muçulmana, ouvindo conversas que eu não entendia nada, e sendo abordada para estar na foto de gente que eu nem conheço. Quantas vezes na vida eu estaria de novo numa situação como esta? Surreal.
A lenda diz que o tal Shah Jahan planejava ainda construir uma tumba similar para ele próprio no outro lado do rio de mármore preto, mas ficou só na lenda mesmo. O Taj é único e lá dentro não há nada, apenas a tumba dele e dela, uma do lado da outra, cercadas por mais mármore totalmente trabalhado, guardando o corpo dos dois lovers, e lá dentro tem que tirar os sapatos pra entrar. Infelizmente fotos das tumbas não são permitidas mas voce pode fuçar aqui.
Conhecer o Taj de perto foi assim mágico. A cor dos mármores e das pedrinhas que reluzem é uma coisa de outro mundo. Eu não sei. Na India não teve guerras e destruições como na Europa que derrubou um monte de coisa que teve de ser reerguida depois. Então talvez fosse o impressionismo de estar ali pisando num monumento de tamanha importância intacto desde séculos com uma história tão bonita de fundo, que eu fiquei tão abestalhada. O Taj é conhecido como a joia da arte muçulmana na India e uma das obras primas mais admiradas do planeta. E eu estava lá, num belíssimo sábado de sol, abençoada com um dia sem nuvens no céu vendo de perto este belíssimo patrimônio da humanidade. Essas fotos são pra vida toda e as lembranças que tenho na minha mente são priceless.
Além de tudo, eu tive a maior sorte de pegar um guia que gostava de bater foto. Além de ele me explicar muito bem tudo sobre a história e o Taj, ele nem esperava eu pedir pra ele tirar uma foto, ele se oferecia e dizia "aqui vai ficar uma foto ótima, faça assim" e mandava eu fazer poses pra ele tirar foto. Nem sempre é fácil estampar um sorriso bonito e descontraído no rosto quando quem tá tirando a foto é alguém que voce não conhece muito bem ne, eu mesma as vezes não fico muito a vontade não, mas ali eu tava tão feliz de estar ali que achei as fotos sensacionais. Depois eu tive que sorrir menos pra ele como fotógrafo porque voce sabe, eles tendem a ser gentis até demais, e quando ele começou a dizer que concordava com o monte de gente que tava tirando foto comigo porque eu era muito bonita e bla bla, e ele próprio tirou fotos minhas com o celular dele, eu achei antiprofissional, afinal ele estava ali a trabalho como meu guia. Mas tudo bem, eu estava na India, conhecendo o Taj Mahal feliz da vida, e não ia ser mais um indiano querendo tirar foto comigo que ia estragar meu belíssimo dia e minha maravilhosa experiência. Afinal, eu tinha acabado de chegar na India. A ida a Agra foi no dia seguinte da minha chegada a Bangalore. Meu primeiríssimo fim de semana na India! Eu tinha viajado 9 horas de Frankfurt a Bangalore, 4 horas no trem de Berna a Frankfurt, 3 horas de Bangalore a Delhi, 5 horas de Delhi a Agra, sem falar nas esperas nos aeroportos entre uma coisa e outra. Eu não ia me irritar fácil depois de tanto esforço.
Depois de ter conhecido de perto o Taj, ter tirado as sandálias, ter entrado lá e começar a ir embora, pedi um minuto ao guia e sentei. Sentei lá num banco do lado do parque e eu só queria me aquietar. Queria me afastar um pouco do montão de gente, não queria sorrir pras fotos dos outros, só queria um minuto ali de paz, me desligar um pouco da euforia e me dar conta de onde eu estava, do que eu tava fazendo. Olha, eu não sei. Talvez seja porque a India seja muito longe do Brasil, mas eu conheço pouca gente que já esteve ali. Minhas fotos que postei no Facebook deste belíssimo cenário tiveram mais de 100 curtições e comentários. O Taj atrai entre 2 a 4 milhões de visitantes por ano. Mais de 200 mil de fora da India. O calor em alguns meses ali deve ser insuportável, o trânsito em Agra é péssimo e pra chegar a Agra é difícil pra caramba. E ainda assim, o mausoléo é foco de atrações diversas, sob uma grande responsabilidade emocional da história que carrega e suas perfeições de engenharia.
A quietação não durou muito não. Me senti simplesmente privilegiada de poder estar ali. Claro, com tanta fama e ostentação, o Taj já foi alvo de muitos rumores, cópias mundo afora e muita gente depende dele pra viver. O parque onde o Taj fica é mantido pelos donos da propriedade e pelo instituto de geologia que ajuda a manter o monumento bem cuidado. Eles ganham muito dinheiro com as visitas dos estrangeiros. Além disso, existem várias comunidades ou sei lá como chamam de grupos artesanais que fabricam ou tentam produzir o mármore e as flores que decoram o Taj. Depois da visita aí, meu guia me levou pra conhecer o trabalho a mão que eles fazem.
Tudo muito interessante, nobre e tal, mas claro o objetivo é ganhar dinheiro, então depois de todo o bla bla bla de como é minucioso o trabalho feito a mão, foram me oferecer tudo e qualquer tipo de coisa feito com o mármore e as flores lá. Eu achei tudo muito interessante, mas me diz que que eu vou fazer com uma mesa de mármore do Taj Mahal aqui no meu apartamento? Primeiro que pra carregar ia ser um parto ne. Ah, não, eles fazem entrega em qualquer lugar do globo!
Não, sério, o trabalho é muito interessante, mas existe uma linha sutil de limite entre ser interessante e fazer parte do conhecimento lá do passeio turístico e levar pra casa. Thanks, but no thanks. Foi bom pra imaginar como realmente deve ter levado anos e anos pra construir o Taj com essa trabalheira toda dos mármores e rosas, mas basta, só conhecer basta, não preciso levar um pra casa. Além do que, os preços eram absurdos. Mesmo em rupees indianos.
Meu guia era esse aí da ponta da foto acima. Não, olha, não me leve a mal. Eu estava com um humor ótimo, adorei tê-lo como guia, adorei ir lá ver o Taj e ver de perto o trabalho artesanal de cada pecinha de mármore, mas eu não curto (aliás quem curte?) quando sinto que estou sendo vítima de uma cilada pega-turista, sabe como é? Enquanto eu tava ali andando pelo Taj com todo mundo, maravilha. A partir do momento que me vejo numa sala só eu de "ocidental" com um indiano querendo me empurrar um elefante de mármore do Taj Mahal por 200 dolares, já tenho que me esforçar pra manter meu bom humor e esgotar todas as maneiras de dizer que não to interessada em comprar nada.
Ai ai, mas pelo menos a gente ganha história pra contar, não? Tudo é experiência, tudo é válido. Como eu disse, meu humor e meu nível de tolerância estavam muito elevados, eu estava vendo de perto o Taj Mahal! Nada nem ninguém haveria de acabar com aquele momento. Podia ter gente pedindo pra tirar foto a cada 5 minutos, podia ter o chão sujo que eu tinha que pisar pra entrar no Taj, podia ser o calor que não tava fácil, ou o cara querendo que eu comprasse qualquer coisa de mármore, minha visita no Taj Mahal foi inesquecível! Pelo simples fato de eu ter ido ao Taj Mahal!!!
Ainda pretendo contar dos outros lugares que visitei, dos outros passeios que fiz, afinal tantos lugares interessantes como o Forte Vermelho lá em Agra mesmo, o Qutb Minar, em Delhi, os tantos templos em Bangalore e os jardins em Mysore, além das grandes experiências no dia a dia de trabalho em Bangalore, mas não sei se nada chegará aos pés do fascinante Taj, o tão belo Taj Mahal.

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