A gente não cresce. A gente aprende a se comportar em público.

Ouvi essa frase outro dia e fiquei pensando. Há vários anos atrás quando assisti "De Repente 30", imaginava meus 30 anos tão longe e sabia-se lá Deus o que eu estaria fazendo aos 30 anos. Hoje estou eu aqui no fim dos meus 20 e poucos anos, penso "o que mudei?".

Sabe aquela música do Lulu Santos Já é, quando a pessoa olha pra trás e se pergunta se é isso mesmo, se estamos vivendo o que almejamos e tal. Acho que tem muito a ver com a responsabilidade de cada um em sua vida fazer tal reflexão de vez em quando, claro sem excluir eventualidades que não podem ser previstas. Mas olho pra trás, e vejo o quanto mudei, embora de uma certa forma permaneça a mesma pessoa. Então o que é que mudou realmente?

Recife 2007
Há anos atrás eu andava cercada de amigos em Recife por todos os lados. Quando não tinha nada pra fazer aqui, arrumava algo pra fazer ali, e eu sempre me via muito a vontade. Íamos a praia, saíamos a noite, dormíamos na casa do outro, falávamos bobagens até o amanhecer. E até no trabalho me lembro de algumas coisas que hoje não sei se aconteceria.

Sei lá, trabalhei com vários tipos de pessoas, mas sempre encontrava minha turma e sempre fui muito espontânea e até impulsiva. Falei muita coisa que depois pensei e achei que teria sido melhor se tivesse ficado calada, ou tivesse agido assim e assado.

Hoje eu penso mais antes de falar. Meço minhas palavras, e sei mais ou menos como agir com cada tipo de pessoa. Sim, também tem muita coisa que guardo e depois penso que deveria ter dito. Será que é assim com todo mundo, ou eu que to ficando velha e retraída? Também não sei se teria subido na minha profissão e chegado aonde estou hoje se não tivesse guardado certas coisas pra mim e aprendido a me adaptar a algumas situações e pessoas. Sim claro, isso vem com a experiência. Estou lidando com um control freak no trabalho que quer um relatório diário tim tim por tim tim num projeto, e no outro projeto estou lidando com um gerente que não tá nem aí pros detalhes, só quer o trabalho feito. Ora, se eu agir e tratar os dois da mesma forma, eu é que me lasco.
Recife 2005

Com o tempo, a gente também aprende a se comportar melhor, se adaptar às pessoas com que lidamos, e sim isso exige muita maturidade, responsabilidade, e apesar de agir diferente com pessoas diferentes, se manter a mesma pessoa. Acima de tudo, um desafio. Afinal voce não vai ser uma santa no trabalho e uma louca desvairada na sexta a noite, ne. Ou melhor, até pode ser o meio termo entre as duas, contanto que faça seu trabalho direito e não deixe de ser quem voce é.

Aí, depois de tanto tempo agindo tão espontaneamente na minha zona de conforto lá em Recife, aqui na Suiça tive que aprender tanta coisa e a lidar com tanta gente, e comigo mesma, e com os amigos diferentes, as amizades tão diferentes e o dia a dia, que se não formos mesmo muito pé no chão e seguro de nós, perdemos o rumo e o controle das coisas.

Zurique 2011
Apesar de ter aprendido, amadurecido, vivido tanta coisa, no fundo, eu ainda adoro conversar bobagens com minhas amigas do Brasil na internet, adoro fazer palhaçadas, dançar, e tenho saudade do colo da minha mãe. Não cresci? Cresci sim, claro. Mas parece que isso nunca vai mudar. É claro que eu não vou ficar fazendo piada no trabalho com meus chefes, mas isso não significa que eu não adore mais fazer piadas. Há anos atrás, talvez eu fizesse uma ou outra e fizesse coisas que hoje não faço mais na frente de pessoas que não tenho muita intimidade. Eu cresci. Aprendi a me comportar em público, a controlar minhas emoções e impulsos.

O mesmo vale para amizades, vizinhos, namorados, relacionamentos em geral. A vida continua, o tempo passa, e os relacionamentos de antigamente parecem aumentar de valor, se sentir a vontade e não precisar se preocupar com suas ações quando pessoas estão por perto vale ouro, e voce se lembra de como era tão fácil antes. Talvez por isso dizem que a gente aprende com a idade. E talvez por isso seja tão importante e valiosos os momentos que passamos com quem a gente gosta, com quem tem afinidade.
Suiça 2012
Aqui na Suiça eu não tenho muitos amigos como no Brasil, primeiro porque somos muito diferentes e os interesses são diferentes, a cultura é diferente, e por mais tempo que a gente passe aqui, não é fácil. Acho que não é fácil até entre eles mesmos, mas aí já é outra história. Aqui quando se encontra gente com afinidade, pode escrever que vai ser difícil separar. Pode morar longe, pode chover e nevar.

No meu trabalho, damos um duro danado e a recompensa mais imediata é quando tem aquele apero na sexta-feira e todo mundo se sente a vontade suficiente pra ir se soltando, conversar um pouco algo que não seja de trabalho, e quando vejo, estamos lá no karaoke. É, eu nunca fiz amigos bebendo leite mesmo.

Fribourg 2012
Pode chamar o povo de frio, disso e daquilo outro, mas no fundo são pessoas que tiveram histórias diferentes das nossas. Cresceram nesse frio de -12 graus e não se mexem naturalmente ao ouvir um batuque. Mas no fundo têm as mesmas necessidades que todo mundo, sentem emoções e querem curtir a vida. Não virei defensora da raça não, to só relatando meu ponto de vista. Porque vi que com alguns dos amigos aqui, posso ser eu mesma o tempo inteiro, falo o que quiser (na medida do possível ne, não falamos Português), a gente ri, se diverte, e são momentos assim que a gente espairece e percebe que, mesmo em outro continente, embora tenha amadurecido bastante, aprendido muitas e muitas coisas, a gente não cresceu coisa nenhuma, só aprendeu a se comportar em público.

----------------

Não deixe de votar no blog Ela é americana na competicao de blogs de experiencias no exterior http://www.lexiophiles.com/english/vote-for-your-favorite-ix12-blog-2 
A votação só vai até dia 12 de Fevereiro!
Obrigada!

Marcadores: , ,