rumo do blog de uma expatriada

A gente se enche de sonhos, metas e coragem, começa a por a realização de um sonho em prática e cria um blog pra registrar cada momento, cada passo, cada sentimento ao longo do caminho. Porque é tudo tão especial e único que voce não quer perder uma lembrança. É legal, sua família e amigos do Brasil acompanham, voce escreve desinibida, conta detalhes e não tá nem aí se alguém que voce não conhece vai chegar a ler.

O início tem tantas maravilhas, é tudo absolutamente novidade, voce anda sorrindo e abestalhada com tudo que vê e cada situação que passa. Não tem nem noção de como será a vida daqui a 1 ano, está aberta a fazer amizades com quem for, sorri pra todo mundo e dá pulos de felicidade pra quem lhe sorrir de volta.

Há tanta coisa pra contar no seu primeiro ano que voce nem sabe por onde começar. A primeira ida ao Brasil de volta, o reencontro com os amigos, a família fazendo mil perguntas, e voce se sente nas nuvens.

No segundo ano, as coisas deixam de ser novidade e começa a entrar uma rotina na vida que voce até sentia falta. Viaja, mas se sente bem em voltar pra casa, que sim, já tem cara de casa e voce já se sente em casa. As amizades começam a se separar, afinidades determinam quem realmente vai fazer parte da sua vida no seu segundo ano da nova vida, e voce nem acredita em algumas coisas que escreveu logo no inicio que hoje parecem tão normais. Voce se ve dando informação na rua, entendendo gírias do idioma local e novas pessoas chegando ao trabalho, a vizinhança vêem voce como veterana, quem diria.

Como tudo na vida, há altos e baixos nessa nova não tão nova empreitada, mas voce lutou tanto pra conseguir chegar aqui que busca sempre ser positiva e olhar o lado bom da coisa. O trabalho que não é tão bom assim, o frio que pega pesado no auge do inverno, seus amigos fazem uma falta desgraçada, o idioma novo que insiste em quebrar sua cabeça e tem dias que voce só queria o colo da sua mãe. Dias negros, dias chuvosos, dias difíceis. Tudo melhora quando chega o sol, a primavera dá sinal, todo mundo na rua parece mais contente, e voce se lembra o que veio fazer aqui. Viaja de novo, se apaixona pelas diferenças culturais que lhe despertou um certo interesse no início, ah, que vida maravilhosa estar livre pra ir aonde quiser e conhecer tantas coisas novas.

Como é bom reencontrar pessoas que fizeram parte da sua chegada aqui, voces até parecem velhos amigos, veja só como é a vida. Em plena Suiça! E tão longe do Brasil encontrar brasileiros com histórias tão diferentes que os levaram até aqui e até esse encontro contigo, não pode ser em vão. Aí voce se lembra como é bom conversar no seu idioma, e vê que tem dificuldades em articular no seu próprio idioma porque tem falado tanto outros idiomas, e dá risadas porque algumas expressões agoram soam engraçadas.

Os locais (no caso os suiços) que já lhe conhecem há algum tempo vêem voce de um modo especial e voce percebe do modo como eles te tratam que apesar de tanto tempo longe de casa, não perdeu sua essência.

É tarefa contínua, quando longe do Brasil por tanto tempo, manter sua essência, seus valores. Não é porque estou aqui e "ninguém" me conhece que vou fazer coisas que lá não faria. É um sonho sendo realizado mas com um cenário lindo e perigoso ao mesmo tempo, de descobertas e tentações. Como em qualquer lugar que voce estivesse, a vida é uma só e te põe a testes a todo momento. É um exercício diário lembrar-se o porque de estar e ter vindo pra cá. Não acomodar-se com coisas que não está satisfeita e continuar todos os dias fazer valer tamanho esforço.

Ser brasileira no exterior não é fácil. É preciso muita paciência e dicernimento pra separar conceitos e clichês que os estrangeiros têm não só de nós mas uns dos outros. E ser um estrangeiro automaticamente requer passar por isso. Porque assim como nem toda brasileira sabe sambar e só quer saber de sombra e água de coco, o mesmo vale para os russos que não são somente viciados em vodka, os alemães que não são todos rudes e insensíveis ou os nem todos os italianos falam alto e são malandros.

Eu poderia escrever aqui um diário literalmente sobre cada acontecimento, cada aprendizado e cenas de diferentes situações que vivo aqui. Embora o propósito do blog tenha sido no início registrar isso mesmo, é impossível fazer isso porque apesar de grande importância pra mim, o blog é secundário e eu escrevo o que me vem a mente na hora, o que tenho vontade, o que me dá prazer de escrever, ou um desabafo. Adoro escrever das minhas viagens, porque essas sim eu adoro vir aqui e recordar os lugares que passei. O dia a dia já é mais complicado, e eu ainda não quero descartar esse assunto daqui, porque embora esteja sempre mudando muita coisa na rotina aqui, pra mim algumas coisas são selbstverständlich e é simplesmente chato ficar escrevendo como se eu tivesse obrigação de dar satisfação pra alguem.

Fico muito contente quando recebo um email de alguem que está passando por alguma situação parecida com alguma que já escrevi aqui no blog e vejo como o blog serve de ajuda ou inspiração pra tanta gente. Ao longo de 3 anos, já pensei várias vezes e fechar o blog, parar de escrever tantos detalhes ou parar de postar fotos. Quando vejo, estou aqui novamente curtindo os comentários e as recordações de posts passados.

Sei que tem gente que vem aqui não com a melhor das intenções, e fica esperando encontrar um acontecimento marcante como um post com detalhes de uma discussão, do fim ou início do meu namoro, de saídas até a madrugada ou coisas loucas. E pra essas pessoas, simplesmente não tenho nada a dizer. Sei que a partir do momento que temos um blog, meio que abrimos espaço pra qualquer pessoa escrever o que quiser de volta, mas o blog é meu e eu ainda me dou o direito de mandar nele.

Estou longe de me tornar uma viajante profissional, quem me dera. Fico muito satisfeita quando vejo recomendações de posts das minhas viagens em blogs mega especializados como o do Ricardo Freire, ou quando recebo emails de empresas querendo fazer um acordo, oferecendo um banner ou coisa do tipo. Este blog não é um blog de viagens. Continua a ser relatos de uma brasileira na terra dos alpes e do chocolate, mas relatando viagens que faço e quaisquer outras coisas que venham a fazer parte da vida do lado de cá. O destino dele a partir daqui voce acompanha aqui mesmo.

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