Skopje

Skopje é a capital da Macedônia e foi a primeira parada da minha viagem balcânica pela Macedônia e Albânia. Eu não sabia muita coisa de lá e a viagem foi programada em pouco tempo, ou seja, não tive muito tempo pra ler sobre o lugar. Não era bem o caso de eu querer me deixar surpreender como foi com Estocolmo eu e Magali andando de qualquer jeito. Pra Macedonia, eu queria me preparar como pudesse, então com o pouco tempo, me preveni como deu. Chegando lá, eu estava munida do guia Bradt Travel Guide e uma das primeiras coisas que li é que a cidade é dividida em norte muçulmano e sul cristão ortodoxo, o que me deixou meio pensativa e imaginando que a cidade poderia ter um clima tenso e antes de ir até tirei minha corrente com a cruz que tenho de Jerusalem. Sei la ne, vai que alguem nao gosta.. pra voce ver como eu tava por fora. O guia é escrito por uma inglesa de decendência malasia que morou lá por 5 anos então eu estava meio desconfiada, mas tem tão poucos guias decentes e sites com informações sobre a Macedônia, que eu acreditei desacreditando em muita coisa que fui lendo sobre Skopje.... Até chegar lá!
Eu não sabia o que esperar, não sabia o que ia encontrar. Podia ser que Skopje fosse como uma simples ex república comunista sofrida ou severa e intolerante. Eu tinha reservado um tour privado e o dia inteiro que passei com a minha guia e o motorista nativos da Macedônia e de Skopje valeram muito mais que o tal livro e qualquer pensamento duvidoso que eu ainda tivesse sobre a Macedônia foi pro beleleu. Skopje assim como a Macedônia inteira tem sim muita influência de diversas origens, incluindo islâmica e cristã ortodoxa. Como falei no post passado, o que não falta ali é um molho diferente na tal salada macedônia, mas a cidade não é necessariamente dividida assim. A cidade é sim cortada, mas pelo rio Vardar e o centro de Skopje é predominantemente turco, pois foi ali onde os turcos mais viveram na longa época do império otomano, e hoje essa área é o centro antigo da cidade, o principal ponto turístico, pode-se dizer.
São várias e várias ruazinhas com lojinhas estilo bazar turco vendendo antiguidades e qualquer outra coisa. Claro, os turcos eram em sua maioria muçulmanos, então é ali onde se vêem muitas mesquitas e influências islâmicas desde aquela época.
As ruas do centro antigo de Skopje me lembraram um pouco o centro de Sarajevo e alguns cafes me lembraram os bazares de Istanbul. Ao topo da montanha por trás do centro, fica o forte Kale, herança do governo otomano, de onde se tem uma bela visão da capital macedônia.
Cruzando a famosa Stone Bridge, ponte que data do século 15, estamos no centro "novo" de Skopje. Há um projeto chamado "Skopje 2014" onde até então o governo almeja ter a cidade restaurada e com uma nova cara para atrair turistas e alavancar essa fonte de renda. Então de acordo com a minha guia, e com o que eu vi, tudo está em reconstrução! É verdade mesmo, por todos os lados, principalmente nessa parte nova da cidade, quase tudo está ajeitando, prédios reformando, investimentos gregos ali, construção turca acolá. Há várias estátuas que vi por lá que de acordo com minha guia não estavam lá há 2, 3 anos atrás. Tudo parte desse projeto Skopje 2014. Tenho certeza que quem for lá daqui a 2 anos vai ver já muita coisa que eu não vi, e espero que realmente ajude a cidade a atrair gente, porque merece.
É aí o coração novo da cidade, é aí onde ficam os prédios do governo, o museu nacional que eu queria visitar mas estava fechado pra reforma, prédios da universidade, forums, é aí que a cidade funciona e vibra todos os dias. Estão fazendo um esforço grande para manter a cidade apresentável nesse projeto de 2014 e olha, eu dou nota 10. Depois de tudo que o país passou, estar finalmente caminhando com suas próprias pernas mesmo a passos lentos é honorável.
Como se já não bastasse os maus tratos do comunismo, quase todas as construções do século 18 e 19 da antiga Skopje foi destruída pelo terremoto de 1963 que matou muita gente e deixou milhares desabrigados. Então esse projeto Skopje 2014 já vem é tarde. Desde que conseguiu independência em 1991, conflitos com a Sérvia, Kosovo, Grécia e Albânia foram constantes e não era seguro viajar por essas bandas.
Skopje passou pelas mãos de muitos governantes, dentre bizantinos, eslavos, gregos, búlgaros, austro-húngaros, sérvios e turcos, mudou de nome várias vezes, e é fácil ver como ela foi diferentemente influenciada. Por outro lado, tenho pra mim que a influência que a própria Skopje tem sob o mundo é meio que subestimada.
Ora veja bem, foi a 20km dali que nasceu o imperador bizantino Justiniano. Foi ali onde nasceu tambem a Madre Teresa - sim, a que foi pra Calcutá - e tem um museu no centro onde era sua casa! E por último, mas não menos importante, Alexandre o Grande teve sua estátua ereta em 2008 na praça principal de Skopje, já causando mau estar com a Grécia pois o território onde Alexandre o Grande nasceu era na época de domínio grego.
Mas a Macedonia agora parece estar atrás de cultivar mesmo sua história sem se importar com o que seus vizinhos vão achar. Até o aeroporto foi renomeado "Alexandre o Grande" aumentando ainda mais a tensão com a Grécia, e a Macedônia está firme se segurando como pode. Admirável.

Outro ponto forte - talvez não tãão turístico pra todo mundo mas ainda sim de interesse de quem vai a Macedônia - são os monastérios. Mais de 60% da Macedônia hoje é cristã ortodoxa, então os monastérios que existem hoje são de grande importância para o país, considerando que nos 500 anos que o país passou sob influência do império otomano, a prática de outra religião se não a muçulmana não era incentivada e havia várias regras que desfavoreciam outras religiões, como igrejas tinham que ser menores que as mesquitas, por exemplo.
Alguns monastérios como o Sveti Spas datam do século 14 e tiveram que ser reformados nos séculos 18 e 19. Alguns têm partes secretas subterrâneas e alguns têm pinturas que refletem não só a religião como a típica pintura fresco de igrejas ortodoxas, mas que refletiam as tradições e folclores macedônios.
Fomos num monastério mais longe do centro de Skopje, o St. Panteleymon, Plaosnik, e esse foi muito legal porque é um convento de verdade, com aprendizes de freiras longe do barulho urbano, e esse monastério foi construído nas ruínas da antiga igreja do século 4! Grandes pesquisas e descobertas arqueológicas por ali provaram mosaicos antigos achados do século 4. Acredita-se que esse monastério foi construído quando São Clemente chegou em Ohrid a mando do rei Boris I da Bulgária e restaurou a igreja.
O lugar é tido como onde São Clemente ensinou a liturgia e disciplinas de variações do alfabeto glagolitico  que é o mais antigo da origem eslava, no qual o idioma macedônio é baseado hoje. São Clemente, por isso, como voce pode imaginar, é de extrema importância na história da Macedônia e ele construiu uma cripta nesse mesmo monastério, e está ali enterrado desde o ano 916.

Como voce pode ver, o dia foi intenso, as fotos foram algumas centenas e a cabeça a mil com tanta informação, tanta coisa nova e tanto aprendizado. Monasterios, museus, centro antigo, centro novo, mesquitas, praças, vista panoramica. Tudo muito bom viu. No final das contas, eu tive uma impressão muito positiva de Skopje. Pessoas, comércio, ruas, trânsito - nada de caos, nada alarmante, apenas um país tentando se reerguer do seu passado turbulento e andar com suas próprias pernas. Sente-se um esforço em tratar bem o turista, embora turismo não seja (ainda) o forte da Macedônia, mesmo sem todos falarem inglês perfeito por exemplo, a viagem foi muito agradável em todos os sentidos. Skopje tem tudo para se tornar em breve um atraente destino de passeios. Esse post foi mais pra introduzir o que vi por lá, mas ainda quero escrever mais, como informações práticas de como ir, como chegar, então aguarda aí que já vem mais informações sobre a Macedônia. Além, é claro, do paraíso escondido chamado Matka. E depois ainda me perguntam o que eu fui fazer na Macedônia!

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