Nante

Dessa vez o post vai trazer relatos e fotos de cultura suiça. Ou pelo menos essa é minha intenção. Se dizem que o coração do país e da sua cultura encontra-se nas menores cidades e não nas cidades grandes misturadas de gente de todo lugar, eu conheci de perto a nata da cultura suiça.
Se voce buscar no google por Nante, nada vai encontrar. Ou quase nada. Talvez previsão do tempo. Nante não é nem uma cidade, é uma vila, um lugarejo na Suiça. Pra ter uma ideia, a população é de 40 pessoas. Praticamente uma família. Pra se ter uma noção ainda mais precisa, vamos do maior pro menor: sabe Ticino? A parte italiana da Suiça, ok. Airolo é uma municipalidade de Ticino, do distrito de Leventina. Leventina é um vale, próximo aos alpes Lepontino, no lado sul do túnel St. Gotthard, que divide a Suiça italiana da alemã. Airolo consiste na junção de alguns vilarejos: Valle, Madrano, Brugnasco, Nante e Fontana.
Se voce quiser ir a Airolo, vai conseguir fácil. É a primeira parada de trem inter regional em Ticino, e é um ponto de ski também. Tem alguma informação na internet sobre o lugar e tudo mais. Mas Nante não. Como eu fui bater lá? Minha amiga suiça italiana é de lá. Eu já fui várias vezes a Ticino, e até já passei o Natal lá mesmo em Nante. Mas era inverno, fui de passagem rápida, tava sempre nevando e não conheci muita coisa. Então agora no verão, fomos convidados a conhecer Nante mais de perto.
Abrir a janela e ver os alpes. Essa era a imagem que me vinha a cabeça quando pensava em Nante. Mas é mais que isso. Pra começar, fica a mais de mil metros acima do nível do mar. Lá está sempre mais fresco, ou no inverno, mais frio mesmo frio torando. Lá sempre neva primeiro e sempre é o último lugar a deixar de nevar. Isto é, talvez em outubro já comece o inverno, que só termina em maio, podemos dizer. Outono e primavera duram talvez uma semana. Nante está próxima aos alpes, é um vilarejo no meio da montanha, com uma paisagem que mais parece um novo quadro a cada ângulo diferente que voce posiciona seus olhos.
Diga se essas fotos não parecem montagens? Ou fotos de papel de parede no seu computador? Ou de brinquedo? Ora, eu que já estou aqui há 4 anos, tive que me segurar pra não esgotar a memória da minha câmera. Esse foi o post mais difícil de selecionar fotos. Acho que posso passar 100 anos aqui que nunca essas paisagens lindíssimas vão ser normais pra mim. E em Nante, além de vistas deslumbrantes dos alpes ainda com neve no topo mesmo no verão, pode-se ter cenas ainda mais suiças com vaquinhas andando e batendo seus sinos. Casa com bandeiras suiças na porta, sem grade, sem portão, sem cerca, sem nada.
Ali o cachorro da família fica solto, não se tranca a porta a noite, todo mundo cumprimenta todo mundo, e o centro da "cidade" só tem um bar e um correio. Ônibus pra chegar lá tem, em horários mega restritos e eu em todos os dias e as vezes que estive lá, não vi nenhuma vez. Mas mais impressionante ainda, é ver que a única bandeira estiada além da Suiça numa vila tão pequena é a do Brasil. Realmente agora eu posso dizer que tem brasileiro em tudo quanto é canto, porque ora, qual a probabilidade de haver um brasileiro numa vila de 40 pessoas?
As pessoas que moram ali trabalham na fábrica de produção de queijo, capim pra vaca comer, no único bar da cidade. As crianças vão à escola em Airolo, no pé da montanha. E quando crescem, vão estudar em algum lugar por perto, mas sempre estão lá nos fins de semana e feriados. Pelo menos foi esse o estereotipo que pude traçar através das pessoas que conversei por lá.
E ainda mais impressionante, o dono do bar me ouviu falando não sei o que do Brasil e veio se apresentar. Passou 15 anos no Brasil, casou-se com uma brasileira, separou-se e agora está de volta à Suiça. Gente, Brasil é muito mais popular do que a gente imagina.
Acho que ali foi o mais próximo que já cheguei da cultura suiça. Mesmo sendo na parte italiana do país, que é minoria, as tradições são cultivadas como em qualquer canto, ou cantão. Lindo demais.

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