Creches em Zurique

O mundo dá mesmo voltas. Quem poderia dizer que um dia estaria eu aqui falando de esquema de creche! Pois é, mas estou. Passei poucas e boas pra organizar uma creche direita pro Edi, como contei no post passado, e aqui estou para contar os prós e os contras do sistema e como funciona na prática.

Bom, a verdade é que se voce quiser ter um filho na Suíça, se programe. Se o filho vier como o meu, não programado, prepare-se, porque é uma luta. Mas é possível vence-la. Ou melhor, vencer as etapas. Se voce é uma mãe que trabalha como eu, e decidiu entregar seu filho a uma creche, parabéns, acredito genuinamente que é uma boa opção. Agora, como escolher?
Em primeiro lugar, é preciso tempo, muito tempo. Tempo para pesquisar, escolher, visitar, tirar as dúvidas, comparar, visitar de novo, avaliar as condições, instalações, preços, custo benefício, enfim. É um mundo que voce só se dá conta de quanta coisa existe quando começa a acontecer mesmo.

Com tempo, é possível organizar suas prioridades. É melhor uma creche perto de onde voce mora ou perto do trabalho? E aí procurar as creches disponíveis naquele espaço que voce determinou. O site da prefeitura de Zurich disponibiliza informações valiosas na busca de Kinderbetreuung - veja aqui. Normalmente as creches (aqui chama-se Kitas), aceitam bebes a partir dos 3 meses (que é o tempo mínimo de licença maternidade) até 3-4 anos de idade, pois depois dessa idade a criança já vai pro jardim da infância.

Nem toda Kita tem o mesmo esquema de organização de grupos. Algumas creches têm grupos apenas de bebês, e outras misturam crianças maiores com bebês. Vejo vantagens e desvantagens nas duas. Nos grupos que são só bebês, o plano de atividades do dia é totalmente diferente do plano de atividades do grupo de crianças maiores. Não tem sessão disso, sessão daquilo, o dia basicamente resume-se em passar o tempo com os bebês. Porque bebes não interagem muito. Uns precisam de mais entretenimento que outros, então tirando o básico que é tentar seguir uma rotina de alimentação e troca de fraldas, o resto não vai variar muito. Grupos apenas de bebês normalmente não tem muitos bebês juntos. Porque exigem mais cuidados e atenção, e geralmente as creches preferem ter menos bebes, até porque senão fica lotado de adultos, pois as "tias" no grupo de bebês têm mais responsabilidades. 1 tia é responsável de 1 a 2 bebes, e nunca de 2 bebes muito pequenos ao mesmo tempo. Então se for um grupo com muitos bebes, imagine a quantidade de tias.
Outra coisa é que num grupo só de bebês, os bebes só interagem com os adultos. Sim, com outros bebes, claro. Mas eles não conversam entre si. Então vão ficar mais ligados e acostumados a conviver entre adultos. Dependendo da família, isso é uma vantagem ou não. Tem gente que prefere que o filho não tenha contato com outras crianças tão cedo, por questões de doenças e tal, que prefere que tenha contato apenas com um segundo adulto tirando pai e mãe. Já outras famílias preferem totalmente o oposto.
Num grupo misturado de bebes com crianças maiores, as atividades são mais intensas e exigem um planejamento mais cauteloso. Em algumas creches, um grupo pode ter 12 crianças e 2 serem bebês pequenos. Os 2 bebês não vão participar das atividades de pintar e fazer bolo, mas podem estar presentes e assistir as interações, ao invés de ficar o tempo todo SÓ com a tia.

Uma vez estava visitando uma creche e o bebe estava sentado e caiu pra trás. Começou a chorar e a tia pegou no colo e ficou dando beijo na bochecha dele. Achei carinhoso, mas depois fiquei pensando. É muito íntimo um bebe daquele tamanho estar recebendo beijo na bochecha de uma "estranha". Porque se o bebe é daquele tamanho ele não tá ali há muito tempo, então a tia não conhece ele há tanto tempo assim. Então fiquei me martelando: eu quero que Edi fique sendo beijado por uma estranha assim tão próximo? Bom, claro isso independe do grupo e vai da política da "empresa" na postura de seus funcionários.

Por essas e outras, eu preferi que Edi ficasse num grupo misturado. Eu já não conheço muita gente por aqui, se ele fosse pra creche pra não interagir com outras crianças, de uma vez que visse criança, ia achar que era um et. Então fiz questão que ele participasse de um grupo com crianças maiores, onde ele tivesse a oportunidade de as crianças conversarem com ele, de ele ouvir outro idioma além do que ouve em casa, e que se acostumasse com mais barulho, e ainda que mesmo com a barulheira, é um ambiente mais saudável e é bom que ele vai se acostumando com outras crianças, aprende a esperar mais, a se comportar perto de outras crianças, não fica tanto tempo só ligado com a tia, enfim.
Edi vai a creche 4 vezes por semana, o dia inteiro. As creches oferecem opções de ir apenas pela manhã e apenas a tarde, e voce escolhe os dias. Como aqui na Suiça a flexibilidade de se trabalhar é bem comum nas empresas e tem gente que trabalha 1, 2, 3 dias na semana, a creche se adapta a isso. Então tem criança que só vai a creche às terças e quintas. Outra só vai na sexta, e é claro, tem criança que vai todos os dias. Eu como to trabalhando 80%, tenho a sexta-feira livre e Edi também. É o meu dia pra resolver as coisas, e um dia a mais pra ficar com meu pequeno.

Os preços variam claro dependendo da frequência escolhida. Algumas creches exigem que a criança vá pelo menos 2 vezes na semana. Eu entendo o lado deles, porque imagina a logística pra alocar as crianças, organizar o grupo de acordo com as disponibilidades e as tias! Bebes até 18 meses pagam sempre mais. A média é 130 francos por dia. Normalmente há uma taxa de inscrição que varia muito. Em algumas creches é uma taxa simbólica de 100 francos, e em outras é uma mensalidade a parte. E uma mensalidade, dependendo da quantidade de dias que a criança vai a creche, pode chegar a quase 3 mil francos.
Os preços não variam tanto de uma creche a outra. Talvez uma seja 110 francos por dia, a outra 130, por exemplo. O que influencia mais no preço, que pude perceber, é mesmo a localização. Num bairro onde há muitos estrangeiros ou que seja mais distante do centro da cidade, o valor da "diária" é mais baixo. Uma frequência média, como Edi, que vai 4 dias na semana o dia inteiro, não sai por menos que 2 mil francos não. Por mês. Aí, uma alternativa é a ajuda do governo, a subvenção. Algumas creches convencionadas com a prefeitura oferecem vagas subsidiadas, onde uma parte da mensalidade é paga pelo governo. Tudo depende do salário da família e uns cálculos que estão explicados neste site.

O departamento de esportes da prefeitura oferece um fator de contribuição, que é calculado de acordo com o salário dos pais, ou de quem tem a guarda da criança, e aqui na Suíça, se os pais não forem casados, a guarda é automaticamente toda da mãe, a não ser que o pai queira dividir, e aí tem que entrar com advogado na justiça. Não é nosso caso. Uma porcentagem é determinada de quanto os pais da criança tem que pagar pela creche. O resto é pago pelo governo. Esse subsídio pode ser pedido diretamente a prefeitura pelo site, e o retorno chega pelo correio, não precisa nem ter o trabalho de ir lá, assinar qualquer coisa. O que acontece é que as creches têm suas próprias regras em relação a isso. Primeiro que nem todas as creches aceitam crianças com subsídio do governo. Depois as que aceitam, são apenas X vagas subsidiadas disponíveis, e não todas. E pra terminar, nem todas aceitam por exemplo uma criança que tenha subsídio quase que completo do governo. As razões eu não sei, mas é assim. E o contrato que é feito entre voce, o governo e a creche dura 1 ano. É preciso renovar e recalcular o fator de contribuição todo de novo a cada ano. Mas se conseguir ajuda do governo, é uma grande vitória.
No nosso caso, como eu pago a maioria das despesas de Edi, ele mora num endereço que está no meu nome e depende de mim, eu entrei em contato com o departamento de esportes para ver se tinha direito. Por sorte, a creche aceitava Edi como vaga subsidiada e com os meus 80% agora de trabalho, tive direito a um bom fator de contribuição, o que me ajuda bastante no orçamento. É nessas horas que voce fica com medo de ser promovida, aumentar o salário e ter de recalcular o fator de contribuição hahahahahaha....

Outra coisa que eu fiz questão de ser criteriosa foi as instalações. Eu visitei várias creches. Nossa, tinha umas que eu fui visitar lá no fim do mundo, chovendo, já fui até de taxi uma vez visitar uma creche porque não conseguia achar nem pelo google maps no meu celular. Tudo foi importante pra eu conhecer mais opções e ir restringindo meu gosto de como eu preferia uma creche pro Edi.
Tudo tem que ser avaliado. Escadas, separação da área pro bebe engatinhar, quarto com berços junto ou separado com crianças maiores, banheiro, trocador, climatização, janelas, se o espaço é arejado, se pega sol, se não pega, se faz muito frio no inverno, se o aquecedor funciona direito, se é muito quente, se tem animais de estimação para crianças maiores, se é perto da cozinha, se tem tomadas, ufa! Olha, é uma lista grande. Isso aí vai de cada um, mas eu já não gostava por exemplo se chegava pra visitar uma creche e via um bebe lá engatinhando sem ninguém prestando atenção, junto com as crianças maiores.

A equipe também conta muito. Eu não conhecia ninguém aqui pra me dar recomendações, então confiei muito no feeling e no meu sexto sentido em apostar no profissionalismo e comportamento das tias, no pouco tempo que pude conversar com elas no início. O fato de a diretora da creche do Edi falar Português ajudou imenso. Em compensação, a creche não é bilíngue, e as tias que tenho contato só falam Alemão, e ainda fazem esforço pra falar Hochdeutsch senão seria só Alemão suiço, afff!
As tias têm formação e cursos de cuidados com crinças e outras fazem estágio. Mas mais importante que isso, é poder perceber se gostam de crinças e estão fazendo isso porque realmente gostam ou porque precisam. Bem, como Edi é muito pequeno, e começou muito bebe ainda no grupo dele na creche, a lider do grupo e a segunda mais experiente eram responsáveis por cuidar dele. As outras tias do grupo eram pratikantin, que é tipo estagiárias, então não tem tanta experiência com bebes. Então no início do período da adaptação, que dependendo da creche vai de 1 a 2 semanas, passamos muuuuito tempo conversando diariamente sobre Edi, sua rotina, suas dificuldades e o que ele gosta. Pra que elas conhecessem mais ele e tivessem o máximo de informações pra chegar já com alguma familiaridade com ele.
Graças a Deus isso foi funcionando bem, a adaptação foi gradual e no final deu certo. E eu pude sentir que elas gostaram do Edi e Edi gostou de lá. Até hoje, todos os dias, quando vou busca-lo, temos uma pequena reunião rápida onde vejo lá o mini relatório de quanto ele mamou, que horas, o que comeu, a que horas, quanto dormiu, se fez cocô, até a consistência do cocô e outros detalhes por exemplo como ele interagiu hoje, se chorou, se brincou, enfim. Chegar lá pra deixar Edi e ve-lo sorrindo quando ve as tias me deixa muuuito mais tranquila.

Eu quero me manter informada e saber do desenvolvimento de Edi mesmo quando ele está lá na creche, e elas me passam tudo. Claro que de vez em quando uma tá doente, troca o shift e a outra esquece de escrever, ou uma meia tá faltando, ou o gorrinho de outro menino tá na gaveta de Edi. Isso é normal, uma creche com muitas crianças é como uma casa com muitas crianças. Não dá pra ficar sendo cri cri a esse ponto.

Me lembro no início quando eu tive que me separar de Edi na adaptação por uma horinha, e quando chegava pra busca-lo e o via com um brinquedo qualquer na boca, meu Deus, eu me coçava por dentro já pensando que ele podia pegar doença com aquilo na boca que sei lá por onde passou. Ha! É claro que ele está mais vulnerável a pegar doenças em contato com outras crianças, mas já me convenci com a história dos anticorpos, e sei que ele vai ter que passar por isso. Não dá também pra coloca-lo numa bolha. Edi já teve gripe, magendarmgrippe, que é a gripe da barriga, e vai provavelmente ainda pegar vários outros virus vindos dos coleguinhas da creche. Und ist gut.

Mas é tão bacana hoje ver como ele sorri quando chega lá e reconhece as tias. Como as crianças maiores gostam dele e o chamam de Edi. Uma vez estava no onibus e uma mulher chegou pra mim "voce é a mãe do Edi?", era a mãe de um coleguinha da creche que só falava no Edi em casa.
É tudo também um aprendizado pra mim, ne, vamos combinar. Outro dia fui na reunião de pais, e como no grupo do Edi eu sou a única estrangeira "primária", todos tiveram que falar Hochdeutsch por minha causa. Mas o mais "exótico" pra mim dessa reunião foi servir cerveja e vinhos no final da reunião. E como foi legal ouvir de alguns pais os comentários que seus filhos têm muito carinho por Edi. Uma mãe me disse que a filha dela agora brinca muito de mãe e filho com o boneco e o nome do filho dela é Eduard.

Enfim. Hoje, vejo que a escolha de por Edi numa creche foi o certo e graças a Deus esta creche está se saindo melhor que o esperado. Eu confio neles quando deixo meu filho lá, eu sinto que eles conhecem e se importam com Edi e o melhor, Edi se sente bem lá.
Algumas creches que visitei também tinham um espírito mais comercial, que familiar. Não conseguia ver o interesse em fazer meu filho se sentir a vontade, mais do que o interesse em como íamos resolver a questão do subsídio. Algumas são um negócio, mais do que pessoas interessadas em fazer o que gostam que é cuidar de criança. Mas isso depende muito de feeling pra se fazer notar.

Materiais do dia a dia normalmente têm que ser levados pelos pais. Fraldas, leite em pó, mamadeira, roupas extras, cremes. Edi tem praticamente uma segunda casa, porque tá tudo lá. As creches normalmente oferecem alguma coisa nas refeições mas é mais frutas e verduras. Por exemplo, Edi come papinhas todas feitas lá mesmo, mas eu posso levar uma que eu fiz ou que comprei e pedir para darem também.

Enfim, eu poderia escrever mais cem posts sobre as experiências na creche do Edi até agora. Acho que a checklist para avaliar a melhor creche para seu bebe é extensa, e Deus sabe como é complicado combinar as melhores coisas. Alguns criterios são comuns a todos, mas a avaliação vai depender das necessidades de cada um. E ninguém melhor do que voce como mãe para saber o que é melhor para o seu filho. O que importa é que seu bebe se adeque bem a essa realidade e que seja uma coisa boa. Claro, a separação nunca é fácil, mas já que é necessária, que seja da forma mais suave possível. E que a creche seja sim uma extensão de casa.

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