Dupla jornada: trabalho e maternidade

Muita gente me perguntou e continua me perguntando como é viver a dupla jornada de trabalhar e ser mae. Bom, eu diria até uma tripla jornada, pois além de tudo, sou chefe de família. Isso significa que além de trabalhar fora, cuidar do meu bebe, as decisoes de casa e do Edi sao minha responsabilidade.


No começo quando Edi começou a adaptaçao na creche e tivemos que nos separar, sem dúvida foi mais difícil pra mim do que pra ele. Ele nem sabia o que tava acontecendo e eu totalmente consciente tendo que me separar dele pela primeira vez, em 5 meses juntos todo santo dia e toda hora. Nao sabia que seria tao difícil. Nos primeiros dias que tinha que deixa-lo, nem ia pra casa, ficava batendo perna na rua esperando a hora de voltar. Mas num dia que fui pra casa sem ele, nossa, que aperto no coraçao ver todas as coisas dele lá e ele nao. Pronto, foi o suficiente pra cair no chão todas as minhas esperanças e começar a achar que toda essa história nao ia dar certo. Voltar pro Brasil, pedir demissão... quais eram as minhas opções mesmo?


Poxa, eu parecia ter organizado tudo tão direitinho... seria Deus rindo de novo da minha cara eu fazendo planos ainda, a essa altura do campeonato? Dessa vez, parece que foi sim. Mas ora, como eu ia conseguir me concentrar no trabalho sabendo que meu bebe, meu bebezinho que há poucos meses tinha nascido, está em um outro lugar, fora de casa, longe de casa, longe de mim, com "estranhos"? Como vao cuidar dele, e se ele chorar, e se sentir minha falta, e se sentir fome… Todos os "se" apareceram ao mesmo tempo na minha cabeça e eu me permiti sentir um certo desespero...


Pouco a pouco, a cada dia que eu deixava Edi na creche, eu também tentava me ajudar, ser positiva e racional. Get it together, Liana!!! Um dia de cada vez. Foi funcionando. Graças a Deus foram apenas alguns dias de desespero. O que hoje vejo que foi totalmente natural. Acho até que fui forte demais. De alguma forma, essa angústia foi passando, a adaptaçao na creche foi correndo melhor que eu esperava, e quem precisava de uma chacoalhada e adaptaçao era eu mesmo, nao ele. Pra ele, tudo era novo e ele nao estranhava novidades. Nessa época, pude contar com a ajuda da minha amiga de Ticino que ficou aqui comigo do meu lado nessa primeira fase de separação por alguns dias.
Primeiro dia de trabalho voltando da licença maternidade
Nos primeiros dias de trabalho, muita novidade, muita conversa, e surpreendentemente eu consegui ir me desligando, baixando um pouco a guarda e a preocupação com Edi. Eu fui mudando minha perspectiva com a creche, que Edi estava lá não apenas para continuar vivo enquanto eu estivesse longe, mas que estivesse bem, saudável, se divertindo, se distraindo, enfim, vivendo direito. As tias na creche fizeram um bom trabalho na adaptação com Edi e comigo, e eu passei a sentir confiança nelas, e deixando Edi lá. Claro, nos primeiros dias, liguei na hora do almoço pra saber como tinha sido a manhã, e a cada hora que passava era menos uma hora pra ir busca-lo. Eu imaginava a cada hora o que ele devia estar fazendo. Não preocupada neurótica, apenas alerta.

Novamente pouco a pouco, isso também foi diminuindo, melhorando, eu logo mudei de projeto, tive que me envolver mesmo no trabalho, ganhei responsabilidades, e o "luxo" de olhar pro relógio a cada hora e imaginar o que meu pequeno tivesse fazendo eu não tinha mais. Quando eu via, eu já estava tão mergulhada no meu novo projeto no trabalho, olhava pro relógio e já era 5 da tarde, hora de ir buscar Edi na creche.
Ainda bem! Antes super ocupada no trabalho, do que com tempo sobrando sem dar espaço pros meus pensamentos darem voltas sentindo falta do Edi. Hoje, trabalhando de segunda a quinta há 3 meses e com Edi na creche, fico tão feliz, mas tão feliz de ter dado certo. Pra mim e pra ele. Ora, pra ele porque como disse nos posts anteriores sobre a questão da creche, é maravilhoso pra ele ter contato com outras crianças e não ficar só preso a mim. E pra mim, é bom poder ter um pouco da minha vida, e poder tocar minha carreira que é o que me sustenta. Já dizia meu amigo Glaucio da faculdade em Recife: o trabalho é a espinha dorsal da vida.

O Eric tem altos e baixos. Hora está presente, hora não está. Mas infelizmente participa pouco do nosso dia a dia. Eu já desisti porque não dá pra contar com ninguém tão instável. Então eu que não estou acostumada a esperar por ninguém, vou lá e faço tudo eu mesma mesmo. E tá bem assim. Tem horas que ele está, que preferiria mesmo estar só eu e Edi. Sou eu quem o leva e traz da creche, que corre pra pegar o ônibus e toma café da manhã no trem a caminho do trabalho. Me distraio com meu dia super corrido, me satisfaço com meus projetos e meu time de estudantes que nem sabe mas tem me enchido de motivação. Quando vejo, o dia já passou, pego Edi na creche, as tias me contam o dia dele detalhadamente e a noite é nossa. Assim como as sextas-feiras e os fins de semana.
E antes que me perguntem, tive sim problemas na volta ao trabalho. Não foi assim tão smooth, pelo contrário, foi como eu ouvia dizer mesmo... "mulher que trabalha e vira mãe não é vista como a mesma no trabalho", "ter filho pra jogar numa creche e continuar trabalhando? melhor não ter!", "filho criado em creche!" e outros comentários terror. Mas ora, pra cima de mim, que cheguei aqui de mala e cuia e fui contradizendo clichês de mulher brasileira no exterior, de mulher na informática, e etc etc e tal. pra cada um que me aparecesse... me pareceu "apenas" mais uma batalha desafiadora a ser vencida. E venci.

Quando o blog estava fechado, cheguei a escrever um dia na página do blog no Facebook que o dia no trabalho estava pegando fogo e que estava doida pra abrir o blog e contar tudo. Bom, tudo, eu não vou contar. Mas em suma, um dos meus chefes foi literalmente claro que não me queria mais trabalhando com ele. E assim, sem razão. Ou melhor, como ele mesmo disse, porque eu "tinha um problema", isto é, um filho. E eu vou escrever de caps lock pra deixar bem claro: COMO SE TER UM FILHO INCAPACITASSE ALGUEM DE ALGUMA COISA! Ahh mas aquilo me deu mais combustível pra provar de novo do que eu era capaz. Aliás, como a vida parece insistir comigo...
Ele que me contratou, ele que me mandou pra India, ele que me promoveu, que parecia tão confiante e que apostou tanto em mim, agora estava me descartando? Por que motivo? Por que razão? Meu amigo, voce não sabe o que eu passei não pra chegar até aqui, com filho com tudo. Bom, graças a Deus, meu emprego não dependia só dele, porque senão ele tinha me posto na rua assim just like that. Meu outro chefe e a chefe do RH ficaram "do meu lado", e como eles são maiores, nós juntos vencemos, claro, com a prova de que eu continuava capaz. Me deram outro projeto, que eu agarrei com unhas e dentes e como eu, modestia a parte, sei fazer bem quando quero, fiz. E o resto foi consequencia só pra poder empinar meu nariz pro tal ex chefe.

Recebi elogios do chefe do projeto na Alemanha, recebi proposta pra ir lá liderar o time de teste de lá, e claro, não fui por causa de Edi, e já tenho outros projetos esperando no ano que vem. Em tão pouco tempo, o eco soou e chegou suavemente aos ouvidos do meu ex chefe. E como tudo que vai volta, um belo dia ele me chamou novamente pra conversar, e pediu desculpas, disse que não tinha sido bem assim e etc.

Gente, como é que a pessoa em 2013 faz um papelão desses. E o retorno foi breve, em parte devido ao meu grande esforço e vontade de mostrar serviço. Nessa brincadeira toda, sim, tive que fazer horas extras, quem me acompanha no Instagram (@lsos) me viu trabalhando de madrugada, de noite, fim de semana. Por sorte nessa época o Eric estava junto e ajudou com o Edi pra eu poder dormir e continuar viva. No final, de quebra, ganhei 5 dias a mais de férias. ho ho ho! in your face!
Pois bem. Não sou uma pessoa má nem vingativa, mas me provocar sem motivo, me julgar sem precedentes e duvidar da minha capacidade, meu amigo, voce está na verdade me ajudando a eu me esforçar ainda mais pra conseguir as coisas. E olha, eu consigo. Portanto, ele nem sabe, mas meu antigo chefe me ajudou ainda mais a mostrar serviço e me por em evidência, várias pessoas que não estavam nem ligando que eu tava voltando de licença maternidade ficaram de olho esperando ver a qualidade do meu trabalho (e viram) pra ver se fazia sentido os questionamentos do cidadão, e ainda tive as férias antecipadas com os dias que ganhei a mais por conta das horas extra. Ele me fez foi um favor.

Por sorte Edi normalmente dorme a noite inteira. Desde os 3 meses e pouco, começou a dormir a noite inteira e no começo quando voltei a trabalhar as noites foram bem tranquilas. Eu que acordava sozinha e ia lá ver se ele tava bem, e ele tava lá no décimo sono. No 4o mês quando começaram a aparecer os dentinhos de baixo, ele acordava a noite algumas vezes, o que me deixava mais acabadinha de manhã, porque de novo, nem sempre o Eric tava aqui. Hoje graças a Deus ele tem dormido bem. Quando acorda a noite, é com fome, e é só mamar rapidinho que pronto, já vai dormir de novo. Ainda não chegou o dia que ele acorda às 3 da manhã querendo brincar ainda bem hahahahahahaha!
E a noite quando chego em casa e fico com ele, estou sim cansada do dia no trabalho, mas é de novo aquela coisa.. se por um lado eu venho no caminho de ir busca-lo na creche pensando nas reuniões e nos testes e etc, quando o vejo, parece que aperta um botão e eu páro de pensar em tudo isso imediatamente. Enquanto venho pra casa com ele, aqui em casa enquanto estou com ele, eu estou COM ELE. Me desligo totalmente do trabalho, e de alguma forma, aparece energia pra brincar, cozinhar, dar papinha, dar banho. E eu gosto de fazer tudo isso. Não é impressionante?

Sem dúvida a fase que estou passando é uma das mais difíceis que já vivi na vida. Mas como já disse aqui uma vez, se fosse fácil não tinha graça. Quando chega a sexta-feira e eu olho pra semana, eu até agradeço por ter conseguido mais uma semana. Eu nunca estive tão cansada na vida, mas também tão motivada. Nunca me senti tão realizada, no trabalho e como mãe. Conseguir me organizar pra conciliar as duas coisas é uma vitória. Dar conta da dupla jornada é tarefa difícil pra burro. Olha, meus neurônios e minhas costas que o digam! É mais que se dividir em duas, é quase que ter uma dupla personalidade mesmo. Duas vidas tão mas tão diferentes, mas que de alguma forma se completam, ou melhor, me completam.


Eu só tenho mesmo é que esperar que tempos melhores venham, porque os tempos bons são os de hoje.

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