Juca e eu

No Hiper Bompreço de Casa Forte lá em Recife (um supermercado), havia um pet shop. Quando começei a morar só com 20 anos lá nos Aflitos e ia fazer compra no Hiper, sempre passava por lá. Meu carinho por cachorro não é de hoje. Desde que meu pai era vivo que a gente lutava lá em casa pra ter um. Tivemos alguns, mas com tantas mudanças sempre tinhamos que nos desfazer. Mas agora eu tava morando só, e a responsabilidade era só minha. Assim entrei um dia nesse pet shop que via tantas vezes e vi um cachorrinho pequeno numa gaiola com seu irmãozinho. Seu nome de família era Little Mickey.
Pra ser sincera, não me lembro mais de onde tirei esse nome, Juca. Mas lembro que não demorei a escolher. Na época eu namorava o André, que morava perto de mim e também adorava cachorros, a mãe dele tinha uma poodle. Lembro como se fosse hoje de Juca chegando lá em casa tão pequeno, parecia uma bolinha preta peludinha, andando meio sem direção e sem correr atrás da bola quando a gente jogava. Tinha 3 meses. Era 2003.
Meu apartamento era um cubículo e se fosse hoje, eu mais consciente, acho que não compraria um bichinho pra passar tão pouco tempo com ele. Mas parece que Juca estava mesmo destinado a ser meu. No começo não foi fácil, eu fazia estágio de manhã e de tarde, a noite ia pra faculdade. Saía 7h de casa e chegava às 10 e tanta da noite, ainda ia passear com o cachorro. Me lembro de uma vez ter chegado em casa e ter encontrado um móvel de madeira todo destruído.
Não durou essa fase. Ainda bem. Lembro também que levava Juca rigorosamente a veterinária e lembro bem de ela me dizer que essa fase de morder ia passar, que ele ia aprender que aquela vida dele era assim, que ele ficava só, mas que eu sempre voltava, que ele tinha uma dona. Se a própria veterinária me confortou, me tranquilizei.
Eu não estava com Juca quando ele fez 1 ano. Estava na Alemanha e Juca ficou na casa de João Paulo, um amigo da faculdade que tinha uma casa com uns 6 ou 8 cachorros. Quando voltei da Alemanha e fui busca-lo, ele tinha engravidado uma cadelinha e nasceu a Juquete. Juca voltou pra minha casa e voltamos a nossa rotina.
Meu namoro acabou, virou o ano, em 2005 minha sobrinha nasceu, arrumei outro namorado e com uma sobrinha recem nascida em Natal, tudo quanto era feriado, eu pegava o carro com Juca e íamos a Natal. Daphne, minha sobrinha, cresceu com Juca ao seu lado em feriados e fins de semana prolongados, quando eu enfrentava a então ainda não duplicada BR.
Juca fez 3 anos. Lembro que um fim de semana que fui passar em Carpina com meu então namorado, deixei Juca sozinho no apartamento e me deu uma angústia, não conseguia aproveitar nada, falei no café da manhã pra família dele o que me incomodava e o pai dele disse que não... "é só um cachorro". Voltei correndo pra casa e ao abrir a porta não tinha um xixi... tão bonzinho. Desci correndo pro bichinho se aliviar.
Juca foi educado assim e nunca, mas nunca mesmo, fazia mais xixi e coco em casa, não mordia nada, não pegava nada no chão que não fossem seus brinquedos. Eu me orgulhava de ter "educado" um cãozinho tão esperto e amigo. Todos os meus amigos em Recife, seja do trabalho, da faculdade, do colegio, das festas, todo mundo conhecia Juca.
Mais um namoro se acabou, fiquei arrasada, chorei horrores e Juca estava lá sentado no chão do apartamento comigo. Começei a sair de novo a noite e numa noite que resolvi voltar mais cedo, que meu apartamento foi "arrombado" e tinha alguém lá que até hoje eu não sei quem era pois saiu antes que eu subissse, Juca é o único que poderia me dizer o que aconteceu naquela noite, quem estava lá, o que faziam... se soubesse falar.
Se mudou de apartamento comigo, ficou na casa de um, de outro, fez 4 anos, 5, 6. Viu quase todos meus namorados passarem pela minha vida. Nunca mordeu uma pessoa. Sorri quando eu chego em casa. Veio a Suiça e durante os vôos todos não fez um xixi na caixa de viagem.
Acho que nunca nunca jamais poderia ter arrumado companhia melhor pra mim, nesses anos todos, do que o Juca. Little Mickey Juca. Hoje, aqui com Edi se equilibrando nele e puxando sua coleira, ele só olha pra mim desconfiado como se dissesse "voce não vai fazer nada?".
Em março, Juca vai fazer 11 anos de vida. Vacinado religiosamente, chipado, pelo aparado por vezes por mim na tesoura (demoro horas), por vezes no pet shop, banhado frequentemente. Passeio com ele e com Edi todo santo dia, mesmo nos dias que to caindo aos pedaços.
Acho que meu instinto materno foi ativado faz é tempo e eu que não tinha percebido. Tem gente que acha bobagem, e ok, CLARO que bicho de estimação é diferente de filho, mas exige cuidado, carinho, obrigações.
Juca é meu grande companheiro. Esteve comigo em momentos tão importantes da minha vida, viu pessoas chegar e partir, e continua aqui. Meu amigo fiel, inteligente que atende até comandos em Alemão e Italiano já. Não poderia ter havido cachorro melhor pra me acompanhar todo esse tempo.

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