A viagem para a Rússia

Antes de começar a me deixar levar pelos embalos dos posts sobre a Rússia, que eu sei que vão acontecer, preciso falar de todo o background dessa viagem. Primeiro que ir pra Rússia nunca é uma viagem comum. Tipo, vou ali na Rússia. E daí já precisa de um background. Depois, que quando comecei a viajar pela Escandinávia e fui para a Finlândia e Estônia em 2011 láá no topo da Europa, que volta e meia eu comentava algo do tipo "isso foi o mais perto que eu já cheguei da Rússia". Era meu ponto de referência, mesmo nunca tendo estado lá. Não sei, me parecia tudo tão grandioso e inalcançável, diferente e distante e símbolo maior do leste europeu, que apenas por isso a Rússia já estava na minha lista de desejos. 
No início disso tudo eu não sabia quando nem como nem com quem, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu começaria a planejar uma viagem para a Rússia. E no ano seguinte, em 2012, quando eu já estava solta e virada nas viagens, estava certa que naquele ano minha viagem para a Rússia aconteceria. Comprei guias, comecei a pesquisar datas e sondar hoteis e tal, quando veio a mudança de tudo: minha gravidez inesperada. Volta tudo, muda todos os planos porque eu não sei de nada, quem sabe é Deus.

E pronto, estamos em 2015 e desde então, muita coisa aconteceu. Edi nasceu, eu me mudei de volta para Berna, mudei de emprego, Edi crescendo, e de novo devagar as viagens voltaram a fazer parte da minha vida. Comecei a planejar com minha mãe que também era louca pra conhecer a Rússia, de irmos então nas férias quando ela viesse pra cá. Só quem em Abril ainda faz muito frio na Rússia, e mesmo com itinerário tudo já semi organizado, desistimos por conta do clima e fomos para a Romênia, Bulgária e Itália que tava mais quentinho. Mais uma vez a viagem da Rússia sendo adiada... até quando?

Tudo bem. Estou eu na minha tranquila quando veio então um amigo de Recife me dar a feliz notícia que viria me visitar no fim de agosto, ele viria à Europa para uma conferência de TI e "passaria" pela Suíça. Que ótimo, fiquei mega feliz e já anotei na agenda. Só que aí conversa vai, conversa vem, porque quando se vem do Brasil pra Europa se quer tirar o máximo de proveito da viagem, me vem ele com a proposta de ir passar uns dias em São Petersburgo. Oooopaaa!!! Como assim!

Agora estávamos falando a minha língua. Nas trocentas conversas seguintes, resolvemos então ir a Rússia e não só ir a São Petersburgo, mas Moscou também. Tipo meu sonho. E com Edi junto também claro. Seria essa finalmente a viagem tão esperada se realizando? Era uma oportunidade e mesmo que eu tivesse a chance de ir com a minha mãe de novo depois em uma época que não fizesse frio, eu iria. Então partiu. 

Compramos passagens e começamos a discutir hoteis e tudo mais se encaminhando... quando dias antes da minha viagem ao Brasil, ele me diz que seu pai está com problemas de saúde, vai passar por uma cirurgia complicada e com risco de vida e ele decide não mais viajar..... Bem, minha reação inicial foi me importar primeiramente com a saúde do pai dele, se fosse com o meu eu também estaria mais preocupada com isso do que com viagens, seja lá quais fossem. Mas no final das contas, a realidade era que eu estava agora com uma viagem marcada para a Rússia.
Pensei, pensei, conversei com várias pessoas, até algumas pessoas se interessaram em ir junto, eu tentei convencer a Swiss sobre a possibilidade de adiar as passagens ou pegar o dinheiro de volta, mas como tinha comprado passagens em preços promocionais, não era possível e ponto final. O fato era o seguinte: ou eu ia com Edi para a Rússia ou eu perdia as passagens. E aí vocês já sabem o que aconteceu... porque primeiro meu dinheiro não é capim pra perder passagens aéreas assim. Depois que com todo esse histórico de adiamentos e vai e vem, parecia agora uma questão de honra fazer essa viagem dar certo.

Só que a Rússia não é ali Paris que você desce do trem, anda nas ruas com um mapa, pega
metrô, se vira. Em primeiro lugar, o alfabeto russo me impede de entender qualquer nome, palavra, pronúncia, o que dificulta em 200% a comunicação na rua, e o "lá eu me viro" que eu normalmente sei fazer bem fica impossibilitado. São Petersburgo nem tanto, mas Moscou é uma metropole maior que São Paulo, o centro não resume tudo que tem pra ver, as ruas são gigantescas, tudo é monstruosamente grande e com tudo isso, o grau de dificuldade de andar pelas ruas e fazer essa viagem acontecer parecia crescer exponencialmente a medida que eu ia pensando em cada aspecto que eu tinha que resolver.

Ainda bem que eu gosto de desafios ne. Pelo menos a época era boa, fim do verão, início de outono, não estava frio (frio que eu digo, o frio russo), então pelo menos isso eu tinha de vantagem. Teve gente que me perguntou se eu não tinha medo de ir pra Rússia, ainda mais só com Edi. Medo eu não tinha, ora eu pari um menino só Deus sabe como sobrevivi, cuido dele sozinha, trabalho, já viajei pro Sri Lanka num fim de semana quando trabalhava na Índia, já pisei em 44 países, moro no exterior por minha conta há anos, vou ter medo de que mais? Eu tenho medo de nada não, queria mais era viajar de fato, mas eu sabia que era preciso ir com cautela e que era preciso organizar cada ponto, cada trecho do programa nos mínimos detalhes. A melhor maneira de andar pelas cidades seria de carro mesmo, então não tinha pra onde. Eu tinha que enfiar a mão no bolso e gastar sim com guias de viagem, com motorista, com transfer, com bons hoteis pra evitar demais aborrecimentos e não estragar a viagem tão esperada.

Para você que tá lendo aí pode parecer uma loucura levar uma criança de 2 anos e meio pra Rússia turistar. Muitos dos meus colegas de trabalho com quem comentei sobre esta viagem ficaram com uma interrogação na cabeça quando eu respondi pra onde iria nas próximas férias. Tipo "a Rússia"? Outros colegas continuavam tentando entender... "é a trabalho?". Por que, gente? Não é interessante o suficiente o que tem na Rússia pra ver? Parecia que "só" em ir a Rússia já era extravagante o suficiente, ir com uma criança de 2 anos e meio então, manda internar. Adoro.
Eu não iria nem teria ido, se fosse minha primeira viagem com Edi, ou minha primeira vez viajando para lugares "diferentes". Como não é nem um nem outro e eu me considero relativamente "safa", resolvi ir, preparada, mas resolvi ir assim. Voltamos pra casa há 3 dias e eu tô aqui orgulhosamente escrevendo pra contar que deu tudo certo. As guias que nos "guiaram" literalmente em São Petersburgo e Moscou foram ótimas, Edi está um viajante nato, e eu estou aqui ainda digerindo os deslumbres que vi, ouvi e aprendi no maior país do mundo.

Foi assim minha viagem a Rússia. Depois de tantos atropelamentos, ela aconteceu, eu sabia que ia acontecer. Este ano aliás parece que está sendo o ano das viagens que não aconteceram em 2012, quando engravidei. Naquele ano estava prevista também a viagem para a Polônia, e eu fui este ano. E ainda com a companhia do meu pequeno. 

Tenho tanto pra falar, tanto pra registrar aqui, que chega tenho que me conter. Voces já sabem que meus posts costumam passar as emoções que sinto ao visitar as coisas, e eu sei ser dramática emocional. Vou me esforçar ainda mais pra passar exato as minhas impressões nos próximos posts, porque ne, é a Rússia! Até pra eu me lembrar depois de anos, quando eu voltar aqui pra ler sobre ela. Espero que gostem.

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