Moscou - Parte 1

Que coisa, ne? A viagem da Rússia tão sonhada, tão esperada, terminei tendo que dar um gap aqui no blog na publicação dos posts da viagem. Deixa então eu dar uma relembrada do que já foi escrito até agora... Fui a Rússia no início de setembro, os posts estão aqui na tag. Por diversos motivos, me afastei um pouco do blog nas últimas semanas e a sequência dos posts que sofreu com isso. O último post da viagem foi sobre os palácios de Peterhof e Pushkin, nos arredores de São Petersburgo, publicado em 22 de setembro de 2015. Já tem post de São Petersburgo, dos detalhes da viagem e introduções. O post seguinte seria então sobre a grande Moscou, que eu já havia começado a escrever mas terminei postando outras coisas no meio. Não terminei o post de Moscou ainda, estava até agora assim:
Juro que tentei escrever um post intermediário antes desse aqui, tem dois no rascunho... como se numa tentativa de adiar esse momento difícil, a desafiadora tarefa de escrever sobre Moscou. O post que vai ficar marcado aqui para sempre a viagem à capital da Rússia, a viagem que eu tanto sonhei. Tenho medo de falar demais da história e depois de uns anos não ter saco pra ler, tenho medo de não falar sobre a história e só ir falando do que fiz lá como um diário de viagem, e depois querer me lembrar do que aconteceu nos pontos que visitei e não lembrar mais da história. Pode parecer que esse "receio" possa acontecer com qualquer post de qualquer viagem, mas não. Estou cheia de dedos porque a Rússia é a Rússia! Então vamos ver o que que sai aqui nesse post hoje.
A capital russa exige ser explorada, demanda uma visita. Tem tanta coisa estrondosa ali de pé esperando pra ser vista... esse era no fundo o sentimento que eu tinha antes de visitar a Rússia. Essa impressão superficial, como se o que víssemos de longe, mesmo sendo enorme, fosse só a ponta do iceberg. Depois de conhecer São Petersburgo, que fui entendendo melhor e de perto a história dos czares e da União Soviética, lá em São Petersburgo mesmo, teve uma hora que pensei... "...e em Moscou, como deve ser?". Claro que eu já tinha visto fotos e vídeos daquelas ruas enooormes, largas, prédios comunistas e construções históricas. Será que seria igual a São Petersburgo? Tipo São Petersburgo sendo um pouco maior?
Bem... Moscou é muuuuuuuuuuuito mais que São Petersburgo! Mais digo maior, mais coisa pra ver, mais história, mais antiguidade, mais mordernidade, prédios maiores e mais antigos e mais importantes. Moscou vai muito mais a fundo na história russa, mas claro, sem tirar a importância de São Petersburgo. Moscou está definitivamente na minha lista de cidades top top top a serem visitadas. Iria de novo sem problemas e visitaria tudo de novo. Quer fazer uma viagem tipo "A VIAGEM" na vida? Vá a Moscou. 
Moscou é sinônimo de poder e prestígio há muito muito tempo. Desde o reinado do príncipe Ivan III quando a cidade floresceu e prosperou, no fim do século 15, aliás, foi a partir daí quando os príncipes/reis passaram a ser chamados de "czar", pois era o termo russo para "Cesar", o chefe do Império Romano. Aliás, não só o nome foi "importado" do italiano, o próprio czar russo chamou arquitetos italianos para construir muitas igrejas e catedrais, inclusive o famoso Kremlin, a sede do governo russo, que eu vou fazer um post a parte só sobre ele ainda.
Mas é ainda possível ir mais pra trás na história e falar da Rússia Kievana, lá no ano 1000, para enxergar as origens de Moscou e da formação da Rússia em si. É aí que digo que Moscou tem mais história, ou um peso grande na história. Não vou entrar em muitos detalhes, até porque não me cabe tanto conhecimento, mas a Rússia Kieviana foi o que levou à formação de três nações que conhecemos hoje: Ucrânia, Bielorússia e Rússia. Foi nesta época também que a fé cristã ortodoxa foi aceita pelos eslavos e é a principal religião da Rússia até hoje.
Moscou foi invadida muitas vezes por diversos povos ao longo dos anos, como os tártaros, os poloneses, pois sempre tinha a importância de ser o "centro" da Rússia, mesmo que não esteja geograficamente no centro do país que é hoje. Isso tudo mudou com a fundação de São Petersburgo pelo czar Pedro, o Grande, de quem eu falei tanto já nos posts passados. A antiga Petrogrado ficava às margens do rio Neva e isso foi visto com muitas vantagens na época. Moscou perdeu o status de capital em 1703.
A história russa também é marcada pela invasão das tropas de Napoleão Bonaparte em 1812 a Moscou. Os franceses encontraram uma cidade abandonada, principalmente no auge do inverno russo com temperaturas extremamente geladas. Napoleão foi posteriormente perseguido pelos russos, e depois da vitória, Moscou voltou a crescer em ritmo acelerado e virou capital novamente, desta vez da União Soviética, em 1918. Mas as dificuldades não pararam aí. O nazismo alemão chegou à Moscou, a cidade foi evacuada, incluindo Stalin, e várias preciosidades dentre prédios históricos e museus símbolos da história russa foram destruídos. Pessoas perderam a vida tentando salvar obras de arte e objetos de valor da corte russa.
Com o fim da USSR e Boris Yeltsin no poder em 1991, Moscou passa a ser capital da agora então Federação Russa e começa a crescer novamente, com expansões de linhas de metrô, oportunidades de trabalho, restaurações de prédios e museus. Moscou se transforma numa megacidade, uma cidade cosmopolita, cheia de história, cultura e vida, porém até hoje ainda luta contra problemas como crime organizado e diferenças sociais.
Até o parágrafo acima era o que eu tinha escrito até então sobre a Rússia. Falei tanto e ainda tem tanto o que se falar. Se voce me perguntar o que mais gostei de visitar em Moscou, eu vou ficar pensativa. Claro que dos pontos turísticos, a Praça Vermelha e o Kremlin são provavelmente os mais conhecidos, e eu hei de concordar da sua significância. Mas não quero tirar a relevância dos outros pontos turísticos que eu visitei, que são merecedores de atenção.
A Catedral de Cristo Salvador, por exemplo, que disputa o título de principal catedral da cidade, juntamente com a Catedral de São Basílio, aquela que parece um bolo confeitado, famosa em fotos e cartões postais da Rússia. Veja bem, a Catedral de Cristo Salvador que existe ali hoje, com as cúpulas douradas em forma de cebola, é uma réplica da original que foi explodida em 1933 durante o comunismo, pois ela representava a vitória do exército russo sobre as forças napoleônicas, sob a liderança do czar Alexandre I, um verdadeiro ícone do renascimento cristão ortodoxo. Foi destruída porque durante o comunismo ela foi considerada um símbolo do Império Czarista e havia a intenção de construir ali um Palácio dos Sovietes, ao invés da igreja. O projeto porém nunca foi concretizado. Nos anos 90 após a queda da USSR, os chefes da igreja ortodoxa russa lideraram um movimento para reconstruir a catedral, com o apoio da sociedade, e voila. Ali está ela.
A nova catedral de Cristo Salvador foi inaugurada no ano 2000, praticamente idêntica à original, resgatando assim o patriotismo e a cultura russa mais ainda. Eu visitei mas infelizmente não pode tirar foto lá dentro. Como disputar o título de catedral da cidade com um legado desses? Só mesmo a Catedral de São Basílio tem cacife para tal façanha.
A Catedral ortodoxa russa de São Basílio fica na Praça Vermelha e foi erguida entre 1555 e 1561, a mando do czar Ivã 4, o Terrível de quem já falei aqui também. O motivo da construção foi para comemorar a captura de importantes cidades russas e marca o centro geométrico da cidade e o centro do seu crescimento, desde o século 14. E por incrível que pareça, o que está lá hoje na Praça Vermelha, é a construção original.
Diferente da Catedral de Cristo Salvador, a Catedral de São Basílio consiste de várias igrejas e não uma grande igreja. Quando você entra, são 9 pequenas capelas no interior, entrelaçadas e quase escondidas uma da outra, entre escadas e passagens estreitas. Não tem nenhuma construção na Rússia como ela, nada parecido pode ser encontrado no milênio inteiro da tradição bizantina, é o clímax da arquitetura russa. Como eu disse, só ela mesmo para competir com a Catedral de Cristo Salvador.
A Catedral de São Basílio tem esse nome pois em 1588 o czar Fiodor Ivanovich ordenou que uma nova capela fosse agregrada ao lado da construção, sobre a tumba de São Basílio, conhecido como o "Louco por Cristo" e virou santo russo da igreja ortodoxa pois era um sujeito muito excêntrico, andava nu, carregava correntes pesadas e fazia pequenos roubos para dar aos pobres. Ficou conhecido por repreender Ivã o Terrível, por não dar a devida atenção ao edifício que virou igreja. Pela sua popularidade, a Catedral tomou seu nome.
A riqueza de detalhes e combinações de formas e cores do exterior da Catedral de São Basílio é realmente impressionante, como nada que eu já tenha visto até então. Diferente da Catedral de Cristo Salvador que é mais clássica e mais comportada. Dentro, a Catedral de São Basílio é também diferente e excêntrica, pois não se trata de uma grande igreja, mas de várias capelas, quase um labirinto, com paredes pintadas em estilo ortodoxo russo e muitos muitos detalhes.
Ora veja, só isso aí já é praticamente um post inteiro, de tanta história que tem pra contar. Aliás, acho que vou fazer assim mesmo, vou dividir o post de Moscou em 2 partes, para que não fique tão enorme, que dê até preguiça de ler tudo, e no próximo post conto dos outros pontos que visitei na cidade, com seu contexto histórico, como sempre faço, que tal? Acho que fica melhor.
Foram só 2 dias e meio em Moscou, mas o pouco tempo foi tão bem aproveitado, que as mil fotos não me deixam mentir. Estou aqui revendo as fotos e com uma sensação muito boa de ter podido estar lá, de ter realizado essa viagem finalmente. Quem tem acompanhado as notícias já viu que a Rússia é um país "perigoso" para se indispor, e tanto a Turquia quanto a Síria tiveram provas disso. Diante de uma pre-guerra que vivemos hoje, temo que o país perca ainda mais da sua história. Espero que não, espero que a paz sobressaia e que a Rússia continue aí, aberta a quem quiser vê-la, pois ela é única.

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