Terrible Twos

Na psicologia infantil, o termo "Terrible Twos" ou "Terrível dois" é conhecido como a fase de desenvolvimento social de uma criança, tipicamente por volta dos dois anos de idade, que é associado com um comportamento um tanto quanto rebelde e desafiador. Há diversos livros, artigos, revistas e sites sobre o assunto e eu não pretendo aqui dar aula de nada não. Mas preciso registrar a fase do Terrible Two do Edi.

Quando eu tava grávida, eu lia bastante sobre bebês e assuntos relacionados, mas confesso que a leitura abordava assuntos de até 1 ano, 1 ano e pouco de idade. Depois disso, a rotina ficou muito ativa demais e não me sobrava mais tempo pra ler sobre o assunto. Também não priorizei. Pra mim, as teorias podem até existir e é legal aprender sobre as coisas, mas pra mim no momento, eu pratico a teoria do "learning by doing", que é "aprender fazendo".

O Terrible Two não é uma fase fácil não, admito. Mas embora seja legal saber de dicas pra safar uma situação ou outra, quem melhor conhece a sua criança é você, então você deve ser a melhor pessoa para "sanar" os problemas desta e de quaisquer próximas fases que estejam por vir. Pra mim o Terrible Two é a fase que a criança deixa de ser bebe e começa a virar criança maior, mas onde os hábitos de bebê são deixados muuuuuito lentamente (talvez o ano inteiro de quando a criança tem 2 anos :), e isso torna o processo de transição bebe-criança beeeem arrastado.

Deixar a chupeta, desfralde, mamadeira-copo, aprender a falar e a fazer coisas sozinho. Cá pra nós, é muita novidade pra uma criança só. E por outro lado eles percebem que já são capazes de fazer muitas coisas, se sentem donos do próprio nariz, mas não têm muita noção de muita coisa. Imagine o que passa na cabeça delas, sem experiências passadas, apenas você como porto seguro para "aguentar" correr pro colo, quando qualquer coisa não ocorrer como esperado. Varia de criança pra criança, temperamento pra temperamento, cultura pra cultura. Mas em qualquer lugar do mundo, a famosa "birra" é reconhecida.

Eles querem nos testar. Eles querem experimentar o novo. Eles querem ver até onde é o limite. Eles querem fazer tudo do jeito deles. Eles querem. Querer é poder pra uma criança nessa idade. Como lidar com tanta personalidade, tanta força e desde quando meu filho se tornou tão desobediente? O meu bebe que até poucos dias mal andava direito, que se distraía com bonequinhos bobinhos e com musiquinhas, agora franze a testa e às vezes parece mesmo fazer tudo ao contrário de propósito?

Parece piada, mas é a mais pura realidade. Quem já viveu sabe como é, e quem não viveu ainda, é isso aí que está por vir. Pode parecer engraçadinho e bonitinho no começo, e "até zangado, meu filho é fofo", mas depois de algumas repetições, acredite, a diversão some e só tem espaço para a exaustão. Dúvidas, penso duas vezes se estou fazendo algo errado, por que meu filho não me obedece? Por que ele me bateu? Por que ele está assim? Saindo um pouco da emoção do momento e me tornando um pouco psicóloga de mim mesma, sendo fria e calculista: é assim mesmo, faz parte e vai passar.

Em suma, é isso. Não é o tempo todo assim, mas o Edi tem dias de rebeldia.. ou melhor, horas de rebeldia. Ainda não aconteceu de ele estar um dia inteiro rebelde. Mas algumas horas, sim. Ele está com 2 anos e 8 meses e normalmente quando eu identifico que "lá vem birra", quando começa a desobediência e as provocações, já começo a me perguntar o que pode estar "errado". Ele está com fome? Está com sono? Estou dando muita atenção? Estou dando pouca atenção? Ele está precisando brincar um pouco sozinho, precisa de algum coleguinha pra brincar, precisa ver pessoas diferentes, precisa dormir mais, precisa de ar fresco, precisa de que afinal?

Eu que estou a grande parte do tempo com ele geralmente consigo identificar sim a causa para essa consequência tão exasperadora e quando o comportamento dele começa a ficar exageradamente irritante, é hora de agir. Primeiro de tudo: não perder a paciência. Em casa, na rua, com todo mundo olhando, não importa. Preciso sempre estar no controle da situação para não perder a paciência e a razão. Mesmo parecendo às vezes não adiantar absolutamente nada, prefiro tentar conversar, falar, repetir, repetir de novo e de novo e de novo. Sim, às vezes preciso segura-lo contra a sua vontade, preciso senta-lo no carrinho enquanto ele chora bem alto, preciso escovar os dentes dele mesmo sem ele querer.

Uma vez ele fez birra que não queria comer na mesa, aí eu deixei ele almoçar no sofá. Porque melhor comer no sofá do que não comer ne. Esse foi o meu argumento comigo mesma para permitir que isso acontecesse. Pronto. Uma vez só foi suficiente para toda vez ser uma luta de argumentos para ele almoçar na mesa novamente. Sei que preciso manter a postura e mostrar sempre 100% que eu estou no controle, mas admito de novo, às vezes estou sim exausta, cansaderrima, sem um pingo mais de paciência para argumentar nem com Juca, quanto mais com Edi, que oh well, eu deixo ele jantar no sofá, ou não jantar se não quiser, e assumo as consequencias no dia seguinte, ou nos dias seguintes.

Desacredito que todo dia tudo igual faça do meu filho uma criança melhor. Claro que a rotina é importante, ou até mesmo fundamental para o desenvolvimento sadio de uma criança. Assumo as responsabilidades, mas um pouco de espontaneidade não faz mal a ninguem. Uma coisa que me incomoda ainda um pouco aqui na Suíça é esse desprendimento fácil que eles parecem ter com os filhos. Não sei, uma necessidade que se tornem logo independentes. Seja colocando os bichinhos para irem andando sozinhos na rua para a escola ou ignorando quando choram por qualquer motivo na rua. Talvez seja a falta de jeito, cresceram assim e não sabem ser diferente. Eu tiro pelo Eric que estremece quando o Edi dá um pio na rua.

Crianças francesas (e suíças) e qualquer nacionalidade fazem birra sim, o que diferencia é como os pais reagem a isso por aqui. Gritar, reagir, bater, ou ser indiferente, manter o sangue frio e fingir que nada está acontecendo? De tanto ver o comportamento dos pais, as crianças birrentas suíças terminam uma hora desistindo, creio eu.

Eu não gosto de ignorar quando o Edi está fazendo mal criação. Por mais que me doa nos nervos, prefiro reagir de maneira positiva, mesmo que não seja apanhando o brinquedo (ou seja lá o que for) que ele jogou no chão sem motivo, e mandando (549 vezes) ele apanhar ele próprio. Já diziam por aí: educar dá trabalho, se não está dando trabalho é porque você não está educando.

A fase dos Terrible Two é um verdadeiro teste de paciência para os pais. Tem horas que dá vontade de me trancar no banheiro. Como disse no post passado, nem todo dia é fácil. O Terrible Two não é necessariamente difícil, exaustivo e louco. É tudo isso, mas é também uma (cuidado!) *delicia* ver o Edi progredindo como pessoa. Testando limites e mostrando suas vontades pode parecer uma chatice mas tudo depende como você ve as coisas. É lindo de se ver como ele tem personalidade, entender que isso faz parte do seu desenvolvimento e é uma fase.

Sim, tenho mais olheiras, rugas e cabelo branco por TANTO exercício de paciência, mas ninguém disse que seria fácil. Faz parte do meu papel de mãe, do desenvolvimento do meu amado filho e se é assim que tem que ser, não me resta outra saída a não ser manter o humor da melhor maneira possível e continuar atravessando essa fase level hard. Imagino que ao terminar essa fase, venha outra... Será que é level hard também?!

Marcadores: , ,