Processo de desfralde

Outro dia me escreveram um E-Mail chamando a atenção da descrição do meu blog que dizia "Viagens, dia a dia, cultura, e agora, maternidade", como se a maternidade estivesse completando meu ciclo como pessoa, como mulher. Eu mudei um pouco a descrição, mas de fato, a maternidade me trouxe um nível de plenitude que eu nem sabia que existia, no que diz respeito a confiança de mim mesma, força, capacidade, superação, disciplina e amor incondicional. É tudo muito intenso e a responsabilidade de criar e educar um ser é uma coisa sensacional e aterrorizante ao mesmo tempo. Mas antes que eu me deixe levar nos meus devaneios, hoje vim aqui falar de um assunto um pouco íntimo e já me perdoe aí você, mas é um marco importantíssimo tanto para a criança que está deixando de ser bebê e virando "toddler", ou seja, criança acima de 2, 3 anos que começa a ser mais independente, e também importante para a mãe (e pai, se for o caso): o desfralde.

É muito prático quando seu filho(a) é bebezinho e você pode por uma fralda e fazer qualquer outra coisa, e poder trocar a fralde depois de 3, 4 horas. Digo isso agora sob outro ponto de vista, o que tenho agora, pois na época trocar a fralda a cada X horas já era pra mim trabalhoso. No ponto de vista que a partir do momento que a criança começa o desfralde, os horários de ir ao banheiro são praticamente a coisa mais importante do dia... e você sente até saudade do tempo que podia por uma fralda e sair com seu bebê pra cima e pra baixo despreocupada, podendo ir em qualquer trocador pra trocar a fralda dele(a) quando fosse necessário.

Quando o Edi fez 2 anos, eu comecei a pensar em tirar a fralda dele, já naquela ânsia que a gente fica involuntariamente, talvez porque impressionada com o tanto que ele desenvolveu até aqui, de que nosso bebe está crescendo e que os próximos passos precisam ser dados. Já é hora de tirar a fralda? Porém quando eu tentava explicar a ele ir ao banheiro e tal, tinha a sensação que ele não me entendia. Ele tava começaaando a falar, então fiquei na dúvida se era realmente uma boa época para isso. Me lembro até de conversar com um colega (homem) do trabalho sobre isso, pois ele se orgulhava em dizer que as filhas dele nunca usaram fraldas. Desde recem-nascidas, foram treinadas a fazer xixi e cocô ao sinal de um carinho no pé, e hoje já com 3 e 1 ano respectivamente, elas eram super independentes e tal. E eu sem nenhum parceiro do meu lado para me ajudar a refletir se era hora de tirar a fralda do Edi e tal.

Puxa, o Edi já com mais de 2 e eu aqui achando que não consigo.... olha, quer saber, desencanei. Não sei, acho que foi feeling mesmo, me convenci que cada criança é de um jeito e já que o Edi tinha usado fralda até aqui, decidi deixar mais um tempo e me despreocupei. Não era hora de desfralde. Comprei mais uma remessa de pacotes de fraldas pra mais uns meses aqui pra casa e deixei pra lá, convencida de que quando chegasse a hora, nós saberíamos.

Ótimo. O tempo passou, continuamos vivendo, paseando e brincando super tranquilos, até o início desse ano, quando Edi estava perto de fazer 3 anos, e parece que deu um daqueles picos de crescimento, sabe, que a calça fica curta, o sapato apertado, e quando a gente saía e eu tinha que troca-lo, ele mal cabia no trocador. Não cabia mais, estava muito grande, o trocador era para bebezinhos, as pernas dele ficavam sobrando demais e ficava muito difícil para trocar a fralda dele quando estávamos na rua.

Bem, perto de fazer 3 anos Edi já entendia tudo que eu dizia e falava muuuita coisa, o que me trouxe de volta a questão do desfralde. Já que ele já entendia tudo, podia agora muito bem entender quando eu explicasse que xixi e cocô é no banheiro. Mil obstáculos apareceram na minha mente como que querendo me fazer desistir, do tipo: mas eu não estou em casa a semana inteira com ele, de que adianta eu treinar com ele em casa, e na creche ele fazer diferente, ou ter ainda as meninas da creche falando tudo em Alemão com ele, enquanto eu estou dando instruções em Português? Acho que tentei inconscientemente transferir a responsabilidade (ou a trabalhera) para a creche e disse lá que o levasse ao banheiro junto com as outras crianças, "já que ele passa a maior parte da semana lá", pensei eu.

Claro, não deu certo. Ele não fazia. Aliás, por mais tempo que ele passe na creche durante a semana (vai 4 dias por semana), é aqui em casa que ele se sente mais vontade, se é que você me entende. Então, não tinha jeito, era comigo mesmo.

Comecei a pesquisar técnicas na internet e ler blogs sobre como tirar a bendita fralda da criança, relatos e experiências de A e B, bolei mais ou menos um plano na minha cabeça, me enchi de coragem, e num fim de semana depois de ele fazer 3 anos, decidi que seria aquele fim de semana. Um fim de semana no fim de Abril que fez mais um pouco de calor, quando eu podia deixar o Edi sem fralda, de short e não de calça em casa, e que eu estaria disposta a lidar com as consequências...

Para traduzir o processo numa linguagem que o Edi entendesse e ficasse uma coisa mais interessante e não apenas ordens, fiz uma brincadeira. O chamei para desenhar, peguei uma cartela de adesivos de balões, e disse que toda vez que ele conseguisse fazer xixi ou cocô no banheiro, ganharia um balão. O deixei em casa de short e "começamos a brincadeira". Vez ou outra eu perguntava se ele queria ir ao banheiro, mas ele não conhecia ainda a ânsia, a vontade de ir ao banheiro, nem de segurar o xixi pra solta-lo apenas quando estivesse no vaso.

Tivemos vários acidentes no início, cuecas e shorts molhados de xixi, xixi no tapete, xixi no chão, xixi no sofá, armei um varal no banheiro e um na sala para estender as roupas desastradas. Foi um fim de semana de muito trabalho, muita paciência e insistência, e de muito aprendizado também. Toda vez que ele fazia xixi nas calças, eu via a frustração no rosto dele, de que tinha feito algo errado, de que não tinha conseguido segurar pra fazer no banheiro, que não tinha me avisado, mas principalmente porque não ia conseguir ganhar um balão. Eu, embora desanimada de ter que lavar mais um par de shorts e mais uma cueca, tentava manter o otimismo e dizia que não tinha problema, dava um beijo e um abraço, o levava ao banheiro para lavar as perninhas e que tentaríamos na próxima vez.

Outras vezes o levava ao banheiro e ele sentava lá só esperando vir o xixi, mas saíamos do banheiro sem sucesso. Quando de tanto tentar, uma vez deu certo, fomos ao banheiro e ele conseguiu fazer xixi, que alegria!!! Fiquei mais feliz do que ele. Fomos correndo pro quarto escolher a cor do balão e colar o adesivo no nosso painel. A partir daí cada pingo de xixi que caía no vaso era comemorado. Quem é mãe sabe o que é isso.

Dia após dia, sexta, sábado e domingo, repetindo a mesma coisa. Sábado foram menos acidentes e os balões começaram a encher o painel. Já no domingo, para a minha surpresa, já não tivemos nenhum acidente. Edi parecia gostar tanto da brincadeira, que das vezes que fomos ao banheiro, e não foram poucas, a maioria foi bem sucedida. Nenhum, zero acidentes, nada de short molhado de xixi, nem número 2, niente. Tudo apropriadamente feito no vaso sanitário, que aliás, nem falei, coloquei um adaptador da Baby Björn no assento, para ele poder sentar bem, e uma daquelas escadinhas para conseguir subir sozinho ao vaso e sentar a sua altura.

     

Segunda-feira seguinte, saímos para ir pra creche e o Edi sem fralda. Era a primeira vez que ele saía de casa sem fralda. Medo, muito medo de ele fazer xixi no carrinho e estragar o estofado todo, mas minha confiança no meu filho foi maior. Chegamos à creche, carrinho seco e muito orgulho. Hora de falar sério. Avisei lá que agora sim tínhamos começado o processo sério e que ele estava sem fralda e deveria ficar sem fralda, ir ao banheiro regularmente e em caso de acidentes, havia uma mudinha de roupa limpa e cuecas na gavetinha dele.

Passei o dia no trabalho tão ansiosa pra saber como estava sendo o dia do Edi na creche, se ele estava conseguindo ir ao banheiro. Nos primeiros dias, ainda aconteceram alguns acidentes lá na creche, ele fez xixi na roupa. Ao chegar em casa depois do expediente, não tinha folga, continuávamos o treinamento. Para dormir, entretanto, sempre o deixava de fralda, pois por mais que eu tenha lido que a criança só faz xixi de noite quando está acordada, Edi acorda meio desacordado então, porque a fralda dele sempre acordava cheia.

No fim de semana seguinte o treinamento continuou em casa, e para sair eu ainda colocava fralda nele. Foi engraçado quando estávamos na rua no fim de semana seguinte e o Edi pedindo pra ir ao banheiro, cruzando as pernas parecendo que estava apertado pra fazer xixi, e eu dizia que ele podia fazer xixi, pois estava de fralda, e ele dizendo que não, que queria ir ao banheiro.

Eventualmente as cartelas de adesivos de balões acabaram e não tinha mais espaço no painel para contabilizar os xixis e cocôs, então a brincadeira foi esquecida e o banheiro foi se tornando uma coisa normal no dia a dia do Edi. Em casa, nunca mais tivemos acidentes. Aliás de uns dias pra cá ele quer ir até sozinho já. No entanto pra sair, depende. Até algumas semanas atrás, quando íamos estar fora de casa por um período longo de tempo, eu colocava fralda nele, e quando eram saídas curtas, não. Mas ao perceber que a fralda voltava seca mesmo nos passeios mais longos e que ele segurava o xixi pra fazer em casa, passei a sair com ele sempre sem fralda, e explicar que quando ele quisesse fazer xixi fora de casa, me dissesse para arrumarmos um banheiro.

Comprei na Müller um toillette portátil que é um saquinho impermeável onde a criança pode fazer seu xixi lá e o fundo do saquinho tem uma camada que absorve o xixi e não passa no plástico. Era uma possibilidade que estaria sempre a mão quando ele me pedisse pra fazer xixi e não houvesse um banheiro por perto. Por várias vezes abri o saquinho e ele não conseguiu fazer, mesmo tendo dito que queria ir ao banheiro, ele simplesmente não está acostumado nem se sente a vontade de fazer xixi e cocô fora de casa.


Tivemos ainda alguns poucos acidentes na rua, quando ele segura, segura, segura o xixi por tanto tempo, dizendo que não quer ir ao banheiro, e depois molha a roupa toda. Sou uma mãe bem previnida e sempre ando com uma roupa extra, inclusive meias e cuecas, já pensando em situações assim. Só o sapato que molhou também e sequei o quanto eu podia com lencinhos de papel, mas não deu jeito. Só lavando mesmo depois de chegar em casa.

Acho que o Edi aprendeu muito bem e muito rápido o processo de desfralde. Mas acho que isso só aconteceu porque o desfralde aconteceu numa época que ele já conseguia entender o que eu explicava pra ele. Se eu tivesse começado antes com ele muito pequeno ainda, ele não ia me entender, teríamos tido provavelmente muitos mais acidentes e eu só ia me estressar de tanta insistência e nós dois íamos acabar frustrados.

Ainda tenho muitos pacotes de fraldas aqui que estão sendo usados num ritmo muuuuito menor do que antes, pois agora eu só coloco fralda no Edi pra dormir. Continuo colocando porque por mais vezes que eu veja a fralda seca ao acordar, já aconteceu de eu esquecer de por a fralda nele antes de ir dormir, e ele fazer xixi na cama. O trabalho que é tirar o lençol, lavar e lavar o colchão não tá no gibi. Prefiro continuar com a fralda noturna mesmo. Apesar de já acontecido também, de eu esquecer de por a fralda nele ao dormir, e não ter acidente nenhum, ou seja, não tem como adivinhar. Vou continuar com a fralda noturna ainda por mais algum tempo, pelo menos até o estoque que tem aqui acabar. 

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