Copa do mundo de Ski

Cheguei. Atrasada, mas cheguei. 2012 já começou com todo gás e só agora eu to aqui com coragem pra escrever. O primeiro post do ano não vai ser sobre o ano novo em Oslo. Ainda vou escrever sobre isso, mas resolvi mudar um pouco a ordem das coisas e escrever um post sobre a Suiça porque afinal estou entrando no meu terceiro ano de terras alpinas então nada mais justo. Depois porque o acontecimento desse fim de semana é muito legal.
Está acontecendo aqui na Suiça de sexta-feira passada (dia 13) até hoje (15 de janeiro) a copa do mundo de ski! A copa acontece nos alpes que descem da Jungfrau, o topo da Europa a 3500m acima do nível da planície, e chegam a Wengen, a 1200m, nas ladeiras cheias de neve de Lauberhorn. Não poderia ser em outro lugar ne, com tantos alpes e montanhas gigantes cobertas de neve e uma paisagem tão linda, só poderia acontecer aqui mesmo.
Quando minha amiga do trabalho me chamou pra ir ver uma corrida de ski, pra falar a verdade eu nem sabia que era de fato a copa de ski. Porque em alemão, eles só chamam de Rennen que é corrida, então ok, topei ir lá ver a tal corrida. Acordei no sábado às 5:30 da madrugada, saí de casa na calada da noite, porque era preciso pegar 3 trens pra chegar lá. Íamos até Interlaken, depois até Lauterbrunnen, e depois finalmente chegar a Wengen, que é o ponto de chegada dos esquiadores. Pra chegar nesses becos alpes é assim mesmo, tem que pegar trem escondido aqui e acolá pra chegar. E essa jornada de trem ia levar 2 horas. Beleza.
Mas quando pegamos o primeiro trem a destino de Interlaken, já percebemos algo diferente. O trem não tinha um lugar vago, tinha gente viajando no chão e pelas escadas, uma loucura. Mas até aí tudo bem, afinal suiço que é suiço acorda cedo mesmo pra ir pra montanha esquiar e andar de snowboard em pleno inverno. Pode não ter neve aqui na cidade, mas lá em cima tá tudo branquinho. Enfim, não achei que todo mundo estivesse indo pro mesmo lugar. ......até o trem chegar em Interlaken e termos que fazer a baldeação, e na plataforma do trem que iria para Lauterbrunnen, estava simplesmente TODO mundo junto esperando o trem chegar...

Isso porque pegamos o trem às 7 da manhã, tá, detalhe. Beleza. O trem chegou, conseguimos um lugar pra sentar e o trem foi que não cabia um ski a mais. Nas paradas seguintes, era triste ver a cara de descontentamento das pessoas que esperavam ansiosas na plataforma e não podiam entrar porque não tinha espaço. O evento colocou ônibus extras a disposição. Não sei se eles estavam esperando tanta gente.

Mas foi só chegar em Lauterbrunnen, para nós duas mesmo sermos mais duas vítimas desse fuzuê todo. A começar pelo clima. Quando checamos o site da "corrida", a temperatura dizia 0 graus. Ora, zero graus é bom demais aceitável. Fui com minha calça de neve com outra calça por debaixo, não porque achei que fosse estar muito frio, mas sei lá, corrida de ski, vai que eu tivesse que sentar na neve pra assistir, essa calça é impermeável. Coloquei uma blusinha de manga comprida, um casaco de poliester e um casacão por cima, com meu cachecol, minha super luva norueguesa, meu gorro, minha meia da Finlândia mega grossa e minha super bota e achei que estivesse abafando. Afinal, ne, 0 graus em pleno inverno na Suiça não é tão grave.

É. Só que chegando lá em Lauterbrunnen, que é a 800m acima do nível da planície, ou seja, não é nem tão alto assim, não é montanha, ainda íamos pegar outro trem pra chegar no destino final que seria mais alto ainda, olhamos no termômetro e a surpresa..... tcharããããããããn!!!!!!!!!

- 12 graus!
MENOS DOZE! DOZE NEGATIVOS!
Mein Gott! Quando desci do trem, já sabia que tinha algo errado, eu tremia de frio como se estivesse nua. Ainda bem que eles nas estações estão preparados pra pessoas despreparadas que acreditam nas temperaturas mostradas no site como eu. Abri a carteira e comprei outro casaco de poliester e aí sim fiquei melhor parei de tremer.
Então tomamos um café pra ajudar a esquentar e fomos procurar a plataforma do trem que ia subir até Wengen. Ha.... aí foi que realmente começou a brincadeira. A fila dava voltas e colocaram grades para organizar lá a multidão, era gente que não acabava mais..... Comecei a pensar se realmente íamos assistir essa corrida, e aí que comecei a querer ir de verdade ver porque deveria ser muito boa, afinal por que tanta gente?! Ou então era muita falta do que fazer.. Aí lá na estação em Lauterbrunnen, vimos cartazes por todos os lados "Ski World Cup" e aí foi que me toquei que não era uma simples corrida, mas a copa do mundo de ski! E por isso tinha tanto estrangeiro, tanta gente. Mas ficar naquela fila ali pra pegar o trem não ia rolar, principalmente a -12° na sombra. Fomos falar com um carinha da organização pra explicar nosso drama e a sugestão dele é que fossemos andando até Wengen, que era nosso destino final. Wengen fica a 400m acima de Lauterbrunnen onde estávamos, e havia uma trilha que ia rodopiando os alpes, fazendo mais de 1km de caminhada. O tempo de espera na fila, de acordo com o carinha lá, seria pelo menos 1h e meia pra pegar o trem e subir em 15 minutos. Ou subiríamos andando e levaríamos o mesmo tempo da espera.
A diferença é que subindo íamos suar e esquentar o corpo, enquanto que ficar 1h30 parado na fila a -12 graus, íamos congelar. Então enxergamos aí uma vantagem e resolvemos encarar a trilha a pé até Wengen.

Não sei porque, mas quando vi a plaquinha "Wengen 1Std. 20 Min." não achei que seria fácil... e olha, realmente não foi. Me lembrei daquela vez ano passado em Ovronnaz que subimos a montanha a pé também e também não foi nada fácil. Massss fazer o que, tá na chuva é pra se molhar. Eu não tinha condições de ficar 1h e meia na fila parada esperando o bendito trem, o jeito era andar.

E então começamos. Mas olha, pelo menos fazia sol e querendo ou não, ajuda sim senhor. A minha amiga pedia perdão mil vezes por ter me colocado nesse programa de índio, ela (e eu também) achávamos que era só uma corrida e não fazíamos ideia que teria tanta gente e íamos ter que fazer uma trilha no meio dos alpes. Mas tudo bem, eu topo uma aventura na boa, além do que era uma oportunidade pra explorar essa parte da Suiça que eu ainda não conhecia.
Sempre quis ir a Jungfrau, o topo da Europa, mas ainda não deu. E lá em Wengen eram os alpes logo abaixo, também uma grande estação famosa de ski daqui, depois das ladeiras de Lauberhorn. Eu como não esquio, tenho que conhecer assim, porque se depender de eu ir andar de snowboard de novo, tá difícil.

A minha amiga do trabalho é mais acostumada com essa atmosfera do que eu, mas conseguimos encontrar um ritmo de passo em comum e fomos subindo, subindo, fazendo paradas estratégicas pra tomar chá quentinho e arrancar uma peça de roupa, além de, é claro, tirar fotos de paisagens fantásticas.

Eu suei bicas, perdi mil calorias e acho realmente que preciso voltar a me exercitar. Mas oh well, depois eu penso nisso. A trilha durou quase 2 horas, e é incrível mesmo que quanto mais subíamos, mais a temperatura diminuía, e mesmo assim, eu ainda suava e tava lá sem cachecol, sem luvas, sem gorros.

Mas não podia parar por muito tempo porque era só a temperatura do corpo voltar a baixar um pouquinho, que já começava a sentir os efeitos do frio, então tinha que continuar. Manter o corpo suado, quente em altas temperaturas. Só assim pra aguentar.

E como tinha gente fazendo o mesmo que a gente! E é engraçado, por causa do evento, que aqui é mais famoso e engaja mais gente que a copa do mundo de futebol, é todo mundo mais simpático que o normal, todo mundo conversador, puxando assunto com que não se conhece, e isso aqui normalmente não acontece. Então durante a trilha, várias vezes paramos pra conversar com um e com outro, cruzamos com pessoas dos EUA, da França, Eslovênia. Tantos lugares e tanta gente. E tao legal também vendo os suiços fazerem bonito como anfitriões.

Mesmo acabada lá, mega cansada com a subida, eu tava contente com o que tava vendo. Tava morta, mas feliz.
Olha, tava frio. Até meu celular parou de funcionar com tanto frio. Mas graças a Deus voltou a ligar quando esquentou.

Quando vi a plaquinha que faltava 10 minutos de caminhada parecia que eu ia ganhar alguma coisa. Não sabia de onde eu tava tirando tanta força. A subida é muito inclinada e isso cansa demais as pernas, exige muito esforço.

Chegamos em Wengen, -14°, maior solzão, começamos a andar não mais subindo mas em terreno plano normal, vesti de volta meu casaco, minhas luvas, meu gorro e meu cachecol e fomos andando até a entrada do evento, seguindo o barulho.

A entrada custa 40 francos suiços pra adulto, que é o equivalente a quase 80 reais. Isso só pra entrar, sem ficar na arquibancada lá da chegada dos esquiadores. Ali já estava esgotado e é bem mais caro.

Entramos. A atmosfera era de festa. Bandeiras da Suiça por todos os lados, música tradicional suiça tocando (não é boa) e muita comida suiça. Então fomos direto comprar um glühwein.
Era o dia perfeito de inverno. É verdade que tem que ficar fazendo alguma coisa o tempo inteiro pra diminuir o frio: ou ficar mexendo os dedos dos pés, ou bebendo vinho quente, ou comendo, ou pulando, ou esquiando mesmo. Ah claro, e no sol. Porque senão não dá. O tal dos alpes suiços são gelados mesmo.
Logo que chegamos, bandas tocando Guggenmusik mantinham o lugar animado e logo logo o evento deu-se início e começou com uma apresentação de aviões estampados com a bandeira da Suiça fazendo acrobacias e figuras no céu com fumaças, um barato. E logo depois deu-se início a copa, estilo "downhill" e os 58 esquiadores de vários países começavam suas performances.
Eu não entendo muito de esqui, mas de tanto viver aqui, a gente termina aprendendo um poquinho. Essa era a categoria mais importante de toda a competição. A Suiça era representada por figuras renomadas como Didier Cuche, Carlos Janka e o novato Beat Feuz, além de vários outros. Estrelas do esqui dos EUA, Canada, Italia e Austria também estavam presentes e alguma torcida estrangeira também se fazia presente. Mas era quando algum esquiador da Suiça pisava na pista era que a maioria da torcida pintada de vermelho e branco fazia barulho.
Desde o início quando eles desciam lá do topo da Jungfrau, podíamos ir acompanhando pelo telão, as marcas de tempo de cada ponto, e quando chegavam na última curva, podíamos acompanhar de perto, ao vivo e a cores a chegada triunfal no ponto final.
E foi assim que presenciamos a chegada espetacular do suiço Beat Feuz em uma marca recorde de 2m35s, ficando em primeiríssimo lugar, levando a torcida ao delírio! Nenhum que veio depois conseguiu chegar a marca de Feuz e ele ganhou o campeonato. A notícia foi divulgada no mundo inteiro e os suiços estavam muito orgulhosos do rapaz jovem de Emmental que colocou a Suiça lá no topo.
Aí, meu amigo, não tinha mais frio que deixasse ninguém pra baixo. A comemoração rolava solta em plenos -12°. Nada mais justo! E comigo tambem ne, depois de ter quase me acabado na subida de Lauterbrunnen até Wengen, também achei justo que o competidor do país que eu moro e me apoia, ganhe.
Brincadeiras a parte, tudo valeu a pena. Fazia um dia lindo e foi super legal. Quem não tem cão, caça com gato. Eu como não pratico esportes de inverno, curto o inverno assim, apreciando quem pratica os esportes de inverno, em alto estilo.
Bom, mas mesmo não tendo praticado esporte, eu tinha feito uma senhora caminha subindo os alpes e depois de tanta euforia, estava cansada. Mesmo sendo uma descida, não ia ter quem me fizesse ir descendo a pé aquilo ali que eu subi. Ainda bem que a minha amiga pensou como eu e estávamos decididas a voltar de trem, não importasse o tamanho da fila. O pior já tinha passado. Mas não iríamos embora sem antes fechar o programa mega suiço com uma refeição mega suiça: fondue.

A cidadezinha de Wengen estava lotada. A noite ainda ia ter shows e tinha um palco lá montado. Não foi fácil encontrar um restaurante disponível, e quando encontramos, esperamos meia hora por uma mesa. Nada agradável, mas quando nosso fonduezinho moitié-moitié chegou à mesa, nada mais importava. Um chá preto pra acompanhar e pronto. Estômago forrado, agora estávamos mais dispostas a encarar qualquer fila. E encaramos mesmo. Passamos quase 1 hora na fila pra pegar o trem de volta Wengen-Lauterbrunnen, e de Lauterbrunnen para Interlaken esmagada em pé.

Ao final do dia, a Suiça tinha sido campeã da tal "corrida" que eu tinha ido assistir, eu tinha vivido uma ótima experiência, passado um atribulado dia com minha amiga do trabalho, e isso me deu mais uma bela vivência no país dos alpes e do queijo.

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