Mais uma saudade...

Esse post é mais um desabafo de emoções, post de "diário", ou uma carta a um amigo, sei lá... Estou de luto, estou triste. Não to andando de preto nem nada disso. Estou de luto quero dizer, estou vivendo um luto. Meu avô, aquele que eu pedi rezas.... não suportou... Foi vencido por um câncer na medula e nos deixou na quinta-feira passada para - espero - um lugar melhor.

Eu tinha acabado de chegar no trabalho, estava tomando meu café e comendo meu gipefi na minha mesa e conversando com os colegas ainda, dando bom dia, quando vi meu celular tocando com o número do Brasil. Atendi correndo e era minha mãe dando a notícia.

No dia que eu voltei do Brasil, dia 1 de Janeiro, no dia seguinte do reveillon, meu avô acordou fraco, não se sentia bem. Fui a praia com mamãe e Edi e quando voltamos ele ainda não tinha melhorado. Mamãe o levou pro hospital. E pronto. Desde então nossas vidas nunca mais foram as mesmas. Meu vôo partiria no fim do dia e eu achava que ele estaria em casa já de volta da consulta de emergência. Mas conforme o dia foi passando, e as notícias foram chegando, parecia que ele ia ficar no hospital mais tempo que a gente esperava.

Arrumei minhas coisas a tarde e saí de casa mais cedo, pra passar no hospital antes pra me despedir do meu avô. Quem diria que seria realmente uma despedida. Ele já estava na UTI e no momento que eu cheguei no hospital, tinha saído pra fazer um exame. Uma tia me puxou e fomos até a sala do exame, ele estava saindo, de maca, e eu dei um abraço nele deitado, disse que o amava e que estava indo pro aeroporto já.

Ele ficou alguns dias na UTI, depois foi pro quarto e foi diagnosticado primeiro um enfarto e uma falha na produção de elementos do sangue. O tratamento, que era a quimioterapia, eram injeções diárias que, segundo o médico, só traria 40% de chance de melhora.
Se tivesse sido "só" isso já teria sido muito. Mas um tratamento de uma coisa implica na falha de outra, como um lençol curto que se cobre os ombros dá frio no pé.

Vovô foi pra casa. Que alegria acompanhar daqui a ida dele pra casa. Ligava todos os dias pra falar com ele, e ali já pude perceber que ele não era mais o mesmo. Não acompanhava direito o que eu dizia, e cortava a conversa no meio pra perguntar coisas fora do contexto, como como consertar o computador dele, que nem quebrado tava. Meu avô não era mais o mesmo.
Parecia que estava tudo programado. Programado no céu. Minha ida para o Brasil em Dezembro do ano passado nas férias inicialmente seria já chegando em Natal perto do natal, e depois ir pro Rio. Aí eu tava trabalhando muito, fiz várias horas extras e pude compensá-las em Dezembro, podendo antecipar a passagem e estar lá para o aniversário de 85 anos do meu avô, em 17 de Dezembro. Além disso, a ida ao Rio pra aproveitar a outra parte da família foi reprogramada. Não ia mais pro Rio. Várias dificuldades apareceram e o medo do calor absurdo com Edi pequeno me fizeram desistir e terminar passando as férias inteiras, mais de 3 semanas, apenas em Natal.
Como aproveitei a companhia do meu avô. Tomamos tanto vinho, tomamos banho de piscina, conversamos tanto, fomos a praia, ele brincou com Edi, ele conheceu Edi! Antes de eu chegar, mandou pintar a casa, preparou tudo com o maior carinho pra nossa chegada, me dizia no telefone que não estava encontrando meu vinho favorito no supermercado...

Ô, vô.... o vinho é o que menos importa. Lá eu percebi que ele estava aparentemente mais velho que antes, quando eu morava lá. Claro, 85 anos não é pouca coisa. Os movimentos, os reflexos, as lembranças. Mas nada de muito grave. Porem já era essa doença maldita se aproximando. Acompanhei o avanço da doença de longe, pela minha família, vi fotos, falei com ele no Skype no hospital, a cada vez ele parecia menos ele.
Esse video minha mãe fez de ele no hospital ouvindo "Fascinação" no ipad... Não sei como vou ouvir algumas músicas que são a cara dele... nem como vou assistir Casablanca de novo... nem A Noviça Rebelde... e como vou ouvir Adoniran Barbosa de novo, ou será que vou dar continuidade ao meu Francês sem ficar triste?

O que eu sei é que essa doença podia te-lo maltratado ainda mais. Foram "só" 3 meses de sofrimento, mas um sofrimento gradativo. No final, meu avô estava definhando, não interagia mais com ninguém, mal abria os olhos e parecia começar a vegetar. Que tristeza... Se é pra ser assim e matar nossa esperança de melhora, melhor que pare mesmo logo de sofrer de vez. E assim foi.

Perdi meu pai muito nova, com 15 anos, meu maior companheiro e amigo. Achei que era um castigo de Deus e não sabia porque. Depois que fui me aproximando mais do meu avô, e até morei com eles antes de vir pra cá, os trouxe pra cá, tive o privilégio de poder realizar o sonho de ele conhecer Paris... quem acompanhou aqui a história? Leia esse post. Tantas lembranças... a valsa da minha formatura, a preparação da viagem, a noite na place de la comedie em Montpellier... Pra mim, meu avô era literalmente um segundo pai. Se Deus tinha sido mau comigo de me tirar meu pai tão cedo da minha vida, por outro lado tinha me dado um presente de me aproximar do meu avô numa relação tão linda.

Sempre fui próxima do meu avô. Sempre conversamos muito, ele nos apresentava filmes desde criança, conversávamos sobre idiomas, enfim. Mas com a morte de papai em 1998, nossos laços ficaram mais fortes. E aí agora acontece um negócio desses... Deus, pare de tirar os homens que mais amo da minha vida!

Claro que eu sabia que a idade avançada não ia deixar meu avô durar mais tanto tempo, mas ele sempre foi tão lúcido, vivo, esperto e jovem, que jamais pensei que ele fosse nos deixar agora, tão de repente. Mas, de novo, se era pra definhar ainda mais nessa doença horrorosa, melhor assim. Só fico triste porque não precisava ter sido agora tão do nada.
Estou de luto. Estou aqui vivendo, fazendo as coisas, mas toda hora páro e penso, lembro, choro, ponho uma música, vejo uma foto, quero guardar bem na memória as melhores lembranças, porque acho que é isso que vale na vida... e é nessas horas que voce pára de novo e reavalia tudo, o que vale a pena, o sentido das coisas.

Estou muito mais madura que há 16 anos atrás quando perdi meu pai. O choque não tem o mesmo impacto, embora o sentimento de perda seja parecido. Mais difícil é tentar entender o sentido de tais coisas, qual rumo tomar.... enfim.. aquela velha história. Parece que esse deve ser o carma que tenho que carregar na vida.

Desculpe meu drama, talvez esteja mesmo exagerando, mas não sei como imaginar voltar àquela casa na praia e não encontrar meu avô. Também não fazia ideia como eu ia fazer intercâmbio em 3 meses, quando meu pai faleceu, e no fim, sempre aparece um jeito, há de aparecer. Só está muito embaçado no momento e eu não consigo ver mais nada na minha frente...

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