A necessidade de entender as mudanças da maternidade

A maternidade é um divisor de águas na vida de qualquer mulher, certo? Tenha sido a gravidez planejada ou não, seja você casada ou não, seja seu filho menino ou menina, tenha você 20 ou 40 anos, uma coisa é certa: ninguém é a mesma. Escrevi esse post sobre os efeitos colaterais da maternidade, coisas físicas e psicológicas, mas sei lá, a cada dia sinto que sou outra e minha cabeça roda tanto atrás de explicações, numa maneira de tentar entender o que tá acontecendo afinal.

Como se houvesse uma razão só, uma explicação só, uma só pergunta. Parece que eu vejo tudo de outra maneira, enxergo pontos de vista que antes pra mim eram invisíveis ou indiferentes, me emociono com histórias que envolvem relacionamento mãe/pai-filho tão profundamente e constantemente me coloco na posição da outra pessoa nas mais diversas situações que vivo diariamente. Coisas que antes pra mim eu não parava pra pensar, não me importava muito, sei lá. Estou muito mais sensível do que era antes, não consigo entender o que leva uma pessoa a cometer atitudes bizarras que vejo nos noticiários como pai que mata filho, ou na rua mesmo quando outro dia vi um bebê de 8 meses sentado numa cadeirinha na bicicleta atrás do pai no trânsito... gente, não dá pra mim... tenho gasto muito tempo pensando tentando encontrar uma resposta, tentando entender o que pode passar na cabeça dessa e daquela pessoa, como se eu fosse arrumar uma solução pro problema de todo mundo, do mundo todo.

Às vezes chega o fim do dia e eu to tão cansada de tanto pensar. Não é mais tão fácil pra mim relaxar, me desligar das coisas, dormir uma noite inteira de sono sem interrupções. Acho que inconscientemente estou preocupada com o mundo que meu filho vai viver, com o mundo que ele vai viver sem mim, quando ele começar a andar sozinho, com amigos, com outras pessoas, sem que eu esteja por perto vendo o que tá acontecendo e poder alerta-lo disso e daquilo. O que ele vai ver, o que ele vai sentir, com o que ele vai se deparar e o que com certeza vai decepciona-lo. É como se eu quisesse de uma certa forma protege-lo de tudo de ruim que tem no mundo, de todas as crueldades que existem e tudo que um dia ele vai ver.

Me dá um aperto no coração porque eu sei que vai doer e eu não vou poder fazer nada por ele. Vou protege-lo enquanto puder e do que puder, mas não vou conseguir sempre afasta-lo do mal, essas coisas vão ser necessárias pro seu crescimento, pro seu amadurecimento, pra sua formação como pessoa, como homem. Edi não vai ser pra sempre uma criança... É, talvez eu esteja muito adiantada nas minhas preocupações, mas não posso evitar, é involuntário.

Por ele quero ser uma pessoa melhor e fazer tudo certo, as coisas certas, dar um exemplo pra ele se mirar, pra ele ter como base, como base de segurança, alguém que ele saiba que sempre vai estar ali pra ele, que fará sempre qualquer coisa absolutamente para o seu bem. É um senso de responsabilidade muuuuuito maior do que eu jamais tive, do que eu jamais pensei que pudesse ter, que às vezes assusta, e às vezes dói quando penso que não estarei no controle de tudo, e que ele vai sim, um dia, sofrer.

Entendo per-fei-ta-men-te quem deixa de trabalhar para se dedicar totalmente a um filho. Para algumas não é opção, e sim a única forma, um meio, sei lá do que... mas para quem de fato opta por isso e tem a chance de se dar a esse luxo de se dedicar única e exclusivamente à vida do seu filho, está abrindo mão de si, sem pesar o que isso vai implicar no seu futuro. Que seja 2 anos, 3, 4, 5 anos, o seu filho vai crescer, e a sua vida ficou aonde? E o pior é que eu entendo a justificativa.

Tenho gasto tempo e neurônio tentando entender essas mães, todas as mães que me aparecem de alguma forma, e as mães que trabalham, gente, e têm que se dividir em duas, são verdadeiras heroínas. A vida é muito dura, e seja qual for o seu caso, em qualquer caso, não vai dar pra manter nossos filhos na bolha que a gente cria por muito tempo. Infelizmente.

Eu particularmente tenho até dificuldade pra entender direito como era minha vida até antes do Edi nascer. Era só eu, um apartamento só pra mim, comida só pra mim, dinheiro todo só pra mim, planos só pra mim, a prioridade era só eu??!! Como era isso? E como é que eu não tinha tempo para as coisas se hoje eu consigo fazer um trilhão de coisas e ainda dar conta de Edi, muitas vezes sozinha, e de tudo dele, roupa, comida, casa? E ainda tenho um cachorro!

É difícil mesmo, tudo muda. As prioridades mudam, a vida muda, a cabeça muda, o coração muda. Tudo está mudando, aliás. As mudanças, a única constante na vida, disso eu tenho certeza. Tudo passa. Tem também, é claro, a questão da idade, não tenho mais 20 aninhos. Meus 32 anos diga-se de passagem bem vividos me dão experiência pra tomar decisões, analisar melhor as alternativas com o que já vivi e vi no passado, mas não sei se esse amor, esse senso de responsabilidade e sensibilidade que falei antes estariam aqui, se não fosse o fato de eu ter me tornado mãe.

Eu sou muito grata a Edi por ter me tornado mãe e ter me dado a possibilidade de proporcionar tudo isso que estou vivendo. Ele ainda não sabe, mas vai saber um dia. Eu doei meu corpo para a sua existência. Eu me doei. Existência essa que pra gente aqui não foi programada, mas Deus sabe quando tirar e colocar pessoas em nossas vidas. Eu me apego a essa frase pra confortar as perdas inesperadas e ganhos que não sei explicar. Foi assim quando meu pai morreu, quando Edi nasceu, quando meu avô morreu. E se era a hora do Edi vir ao mundo, através de mim, através do Eric, aqui na Suíça, longe de onde eu vim, desse jeito, dessa maneira louca, se ele virou uma pessoa que viria a nascer aqui na minha casa, na minha vida, quem sou eu pra dizer não? Eu tenho mais é que aceitar, aceitar as consequências, lidar com toda essa movimentação de ideias e sentimentos provocadas por tudo que tá acontecendo, e viver da melhor forma possível.

Um dia espero muito ter todas as respostas para minhas perguntas. Um dia quando eu morrer, ou sei lá quando. E tenho muita fé que tudo acontece por um propósito. Talvez seja por isso que tento tanto encontrar respostas e reflito tanto sobre todas as coisas. Em busca de respostas e do propósito das coisas que me importam, coisas que importam.

Dizem que é pra isso que servem os 30 anos, pra amadurecer, aproveitar o que se conseguiu até aqui e viver, viver muito. Vou fazer isso. Quem sabe nos meus 40 venho aqui escrever mais algumas respostas e já outros questionamentos. Até lá.

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