Por que vale a pena viajar com meu filho

Em Napoles, na Italia, em Abril de 2015
Tá aí uma das principais perguntas que continuo recebendo de leitores aqui do blog. Como é que eu viajo com o Edi e como isso continua sendo prazeroso pra mim. O interessante é que por mais que eu saiba que é ótimo viajar com Edi, nunca parei para separar os pontos, estruturar as ideias e bolar daí um post. Acho que porque eu não acredito que há uma receita pronta pra dar certo. Acho que vai de cada um. Mas resolvi sentar aqui para escrever sobre isso, já que já me pediram tanto, e fica como minha experiência pelo menos, do porque que vale a pena viajar com meu filho, apenas eu e ele.

Lendo outros blogs e posts por aí de mães meio que inseguras e reclamações de cansaço, mesmo com um companheiro do lado que divide as tarefas de casa, achei que minha contribuição poderia servir de alguma coisa, já que eu faço tudo aqui em casa e ainda viajo com o Edi. Bem, quem acompanha esse blog desde sempre sabe que minha paixão por viagens não é recente. Este não é um blog de viagens mas várias das minhas experiências mundo afora estão relatadas aqui. Com a chegada repentina do Edi, minha vida virou de ponta a cabeça e eu me vi numa situação totalmente estranha e nova, que tive que aprender a dar conta sozinha praticamente.

O pai do Edi nunca foi muito presente em casa, mesmo na época que estávamos "tentando" ficar juntos de
novo, depois que ele nasceu. Então desde que ele nasceu, o grosso do trabalho inteiro que é cuidar de um filho ficava sob minha responsabilidade mesmo. Além do mais, a casa é minha, as contas eram minhas, e eu ainda tinha um trabalho para dar conta. No começo não foi fácil não, mas eu nunca desanimei e sabia que era uma fase de adaptação, e que ia ser dali para melhor. Por mais dias difíceis que eu tenha tido de não ter tempo nem pra tomar banho, no final eu me mantinha otimista que ia melhorar e que minha vida ia "voltar ao normal". O novo normal.
Em Berlim, na Alemanha, em Abril de 2014
Claro que eu sabia que minha vida nunca mais seria como antes, antes de ele nascer, mas eu queria que aquela vida com o Edi se tornasse normal e eu não tivesse mais que passar um dia sem tomar banho porque não deu tempo. Eu sabia que ia chegar o dia que eu ia conseguir fazer tudo que tinha que fazer, e ainda cuidar do meu filho, e aquilo sim seria o normal. Mas que para isso eu teria que passar uns dias de perrengue e aprendizado só eu e ele, e que ninguém poderia me ajudar. Os dias passaram e digo com orgulho que hoje eu dou conta de tudo.

Em Paris, França, Dezembro de 2015
Aos poucos quando fui tomando mais segurança nas atividades e minha mãe estava visitando a gente, planejamos uma viagem com o Edi, e dali eu tive uma amostra de como seria viajar com meu filho. Foi ótimo. Eu me sentia livre novamente, mesmo com meu filho nos braços e poder fazer o que eu mais gosto na vida com ele do meu lado era uma sensação de autonomia e controle que não tem preço que pague no mundo. Foi o suficiente para me dar coragem para planejar as próximas, apenas eu e ele.

Minha mãe ficou cheia de dúvidas se era realmente uma boa ideia, e eu também nunca saberia ao certo se não tentasse. Me enchi de coragem e fui. Começamos com passeios curtos, viagens de trem, viagens mais longas, para começar a expor o Edi a essas situações e ver as reações, dele e minha. E a partir do momento que eu me dava conta que tinha conseguido passar uma manhã inteira passeando com ele na rua na Áustria, ou uma tarde num parque na França, e que melhor, eu também tinha me divertido com isso, era a prova que eu precisava. A minha teoria estava certa: eu sabia que ia dar certo, eu poderia viajar com meu filho, e me divertir, continuar me divertindo, aproveitar o passeio, observar as novas paisagens, apontar pra ele uma estátua, um prédio, um cenário bonito, se surpreender com novos lugares e deixa-lo ver o espanto e a admiração nos meus olhos, apenas aquilo despertaria alguma coisa nele que ele também participaria daquela viagem comigo.

Meu filho não me decepcionou. Eu também sempre fui verdadeira com ele. Achei que seria melhor não reprimir minhas vontades e tentar deixa-lo fazer parte das minhas realizações ao meu lado, e que assim, eu continuaria feliz com a vida e mais ainda, de poder ter a pessoa mais importante da minha vida participando de tudo de agora em diante.

Janeiro de 2015, a caminho do Kosovo
Foi um passo essencial na minha maternidade, um progresso imensurável, pois a bagagem extra que eu tenho que levar na mala e o tempo e a energia que eu gasto a mais insistindo para ele andar do meu lado são recompensados nas experiências que vivemos juntos como um todo. De mesmo pequeno, ve-lo questionando e olhando para os lados, guardando um pouquinho que seja daquele dia na sua memória. Eu não sei se encontro as palavras certas para explicar e me fazer entender a quem ainda desconhece essa experiência.

Estou falando de momentos vividos, sabe. De coisas que realmente contam nessa vida. De fotografias que existirão para sempre para contar história, mesmo que da memória dele não saiam palavras que façam sentido. A vida é uma só e o tempo não volta. Se hoje você acha que é trabalhoso viajar com seu filho porque ele usa fraldas, amanhã você estará se lamentando que não viajou enquanto ele usava fraldas, pois hoje você tem que parar o que está fazendo para leva-lo ao banheiro.

Acredito eu que tudo é questão de ponto de vista e como você enxerga o que está vivendo. Eu sou mãe do Edi em qualquer situação, inclusive nas viagens. Viajar é muito melhor do que ficar em casa, e em casa também somos só nós dois. Estou falando de momentos, para não se arrepender depois de não ter feito, pois o tempo não volta, oportunidades são únicas.

Quando comecei a viajar com o Edi ainda muito pequeno, eu dizia que "viajava sozinha com meu filho". Até aparecer aquela notícia das viajantes argentinas que morreram no Peru, e as notícias diziam que "elas viajavam sozinhas". Me deu um estalo, de como eu também estava falando errado até então. Ora, elas não estavam viajando sozinhas, estavam juntas, tinham uma a outra. Com o meu filho é a mesma coisa, eu não viajo sozinha com meu filho, eu viajo junto com meu filho, eu e ele, oras. Sozinha eu viajei muito antes de ele nascer, hoje eu tenho uma companhia, que diga-se de passagem, vale mais que qualquer outra.
No Kremlin, Moscou, Rússia, Setembro de 2015
Eu não sei até quando o Edi vai curtir viajar com a mãe dele, nem até quando eu vou sustentar esse hábito, que é nobre mas não é simples, eu sei. Tenho que dar graças a Deus de hoje ter um emprego que me dá condições de ter uma vida confortável aqui num país diferente do meu de origem, mas que é o principal da origem do Edi, e que me permite ultrapassar barreiras e fronteiras e conhecer lugares tão desejados. As minhas viagens com meu filho são sonhos realizados, principalmente de estar executando um plano de viagens seja qual for, como meu filho do lado.

No trem na Holanda, Abril de 2016
Exemplos das nossas viagens juntos foram as viagens à Rússia, à Polônia, ao Kosovo, à Holanda agora a última na Páscoa, e tem a próxima chegando no verão, iremos a Malta! Alem das viagens com amigos e com a minha mãe do lado, foram muitas, muitas, a maioria está citada aqui. E vejam que histórias impressionantes que tenho para contar nesses posts. O quanto crescemos, o quanto superamos, quantas novas situações passamos, quantas novas pessoas cumprimentamos, em quantos hoteis dormimos, quantas fotos tiramos, quantas memórias, quantas histórias!

É aquela história ne... "Em algum lugar do mundo, alguém está fazendo o que você achou que não poderia ser feito". Eu quero ser a pessoa que faz, que não me deixei acomodar pela minha situação com o pai do Edi, de que por não estarmos mais juntos, eu estaria destinada a viver trancafiada em casa com medo do mundo e de todos, porque estou "só" eu e meu filho, como muitas mães fazem. Recebo tantos emails e mensagens de mães que cuidam de seus filhos sem nenhum companheiro do lado e que se sentem sobrecarregadas e exaustas e que não sabem como é possível não viver assim. Gente, é só tentar. E para isso, há de começar.

Se eu sou a pessoa que melhor conheço meu filho, por que será que uma viagem com ele não haveria de ser uma boa experiência? Se os afazeres da maternidade e de casa são trabalho demais para você, então apenas isso é uma questão a ser vista, não é mesmo? "Eu estou satisfeita com a minha vida?". Porque se estiver, partir para uma viagem é uma atividade normal de qualquer família, para curtir o tempo livre, as férias, e nós somos uma. Não é porque o pai do meu filho não vive com a gente que não somos. E olha, acho que nos divertimos e aproveitamos mais algumas viagens que muita família tradicional.
Na Cracóvia, Polônia, Junho de 2015
Outra coisa, mesmo se sua condição não for como a minha, se você tiver um companheiro mas que ele não goste de viajar, e você mesmo assim gostaria de levar seu filho para ver o mundo, o que há de mal nisso? Uma vez recebi um email de uma mulher que queria ir a Itália com a família, mas o marido era preguiçoso e só falava em desvantagens em viajar com a bebê deles. Olha, eu disse a ela, se fosse eu, eu já teria ido com meu filho. É a minha cabeça hoje, de não deixar de fazer as coisas por motivos tolos. Não ter sempre alguém para me acompanhar nas viagens, ou não calhar de a pessoa estar com a mesma disponibilidade, dinheiro, interesse e ânimo não são motivos para deixar uma viagem de lado. E pior, ter alguém do seu lado que ok não necessariamente compartilhe dos exatos mesmos gostos que você, mas daí a lhe limitar a fazer o que você gosta, já dizia minha amiga Jout Jout, seria esse talvez um relacionamento abusivo questionável.
Em Vaduz, Liechtenstein, Maio de 2014
Espero eu que este post fique aí na rede e encontre as pessoas certas para o ler. Escrevi este post não com a intenção de ser a dona da verdade nem muito menos de definir uma receita de bolo que funciona para todos os casos. Escrevi primeiro para mim, para registrar meu momento, e depois motivada por tantas mensagens que recebo ao longo dos anos, na esperança de que a minha experiência possa inspirar pessoas que precisam de inspiração, que possa animar viajantes esmorecidos, seja mãe, seja pai, seja quem for, e que minha mensagem se consiga fazer entendida através das palavras que me esforcei tanto em traduzir para esse Português que já me é introvertido.

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