Oslo

Gente, o tempo tá voando! Mal viramos o ano e já estamos quase terminando janeiro! E eu ainda aqui começando a escrever sobre Oslo. Então vamos lá! Bem, até o meio do ano passado, eu não conhecia nada da Escandinávia. Já conhecia bastante da Europa central, mas lá do topo nada. Então inventei de aproveitar uma promoção pra conhecer Copenhagen num fim de semana, e poucos meses depois fui sozinha a Finlândia e Estônia. Adorei. Era verão e o tempo tava ótimo em todas as viagens. Sim, porque só morando aqui mesmo pra entender a importância de um tempo bom! E numa viagem faz toda a diferença! Aí depois fui me interessando mais por essa região e fiquei imaginando como seria ir praquelas bandas no frio, lá no topo da Europa.

A viagem à Noruega surgiu assim. Inicialmente da vontade de conhecer mais uma cultura nórdica, e depois da possibilidade de usar milhas que eu tenho acumuladas que deveriam ser usadas até março. Quando eu estava pra ir pro Brasil de férias em novembro, fiquei então imaginando quando é que eu poderia aproveitar essas milhas. Na resolução do que fazer no fim de ano quando minha mãe resolveu vir pra Suiça passar o fim de ano aqui comigo, soltei assim como quem não quer nada a sugestão de ir a Noruega nessa época, sempre com as milhas em mente.
Mas po, fim de ano na Noruega? Só sendo louco mesmo. Um país que tem média de temperaturas negativas extremas, pouco tempo de luz de sol por dia a essa época... será que dá certo?!
Então deram-se início às pesquisas. Aí já começa uma parte da viagem ne. E é aí que eu já começo a me deliciar com o aprendizado, a busca, o conhecimento, as informações que vou conseguindo.

A Noruega é conhecida por lindas paisagens dos fjordes que são bem cativantes. Além do que, é a cidade natal de uma de minhas bandas favoritas, Kings of Convenience. Só daí já seria motivo suficiente pra ir até Bergen. Mas dessa vez a viagem era curta e o motivo era virar o ano lá. Portanto só ficamos em Oslo.

Oslo é a capital da Noruega, hoje uma cidade vibrante com casas de madeira e edifícios neoclássicos de arquitetura super moderna, muitos museus e parques. Mas a cidade antigamente já mudou de nome várias vezes (chamava-se Christiania) e o país tem uma forte história relacionada aos vikings e conflitos com a Suécia e Dinamarca.
Por mais de 300 anos entre os séculos 8 e 11, os vikings dominavam aquela região como comerciantes e colonizadores, mas de maneira agressiva e saqueadora. Eles eram sim impiedosos, mas não eram meros bárbaros. Tinham bom nível de conhecimento técnico de navegação, eram marinheiros astutos, artesãos e construtores admiráveis. Navegaram para a Suécia e Dinamarca em busca de gente pra trabalhar pra eles, terra e matérias primas. Atacaram boa parte da Europa e chegaram até a América. Faz parte da história e cultura norueguesa e existem vários museus e livros a respeito.

A história relata várias uniões e desuniões entre Dinamarca, Suécia e Noruega. Seja por rei de um país casando com alguém do outro país, seja por tratados de interesses mútuos ou necessidade, essa realidade de uma forma ou de outra ajudou o país a prosperar.

No meio de interesses de ver o país virar independente, o rei dinamarquês e norueguês Frederik VI aliou-se a Napoleão em 1807. Por conta disso, a Grã-Bretanha bloqueou os portos noruegueses e parou com todas as importações e exportações. De 1808 a 1812 foram os piores anos para a Noruega. Uma guerra com a Suécia a deixou ainda mais isolada. A Suécia juntou-se a coligação contra Napoleão e conseguiu convencer seus aliados (Rússia, Grã-Bretanha, Áustria e Prússia) de que conseguiria forçar a Dinamarca a ceder a Noruega à Suécia, quando Napoleão fosse derrotado. Quando finalmente Napoleão foi derrotado em Leipzig em 1813, o rei sueco marchou rumo a Dinamarca, e no Tratado de Kiel em 1814, a Noruga foi entregue à Suécia.
O princípe dinamarquês na época que governava a Noruega e o povo norueguês não concordaram com o acordo. Essa revolta levou em maio de 1814 a uma Noruega livre e independente. Mas não foi aí que o país de fato virou independente. Afinal tantas influências dos países vizinhos não iam acabar assim da noite pro dia. O rei da Noruega era sueco e havia muitas medidas suprimindo manifestações de orgulho nacional, e as leis ainda determinavam que a Suécia e a Noruega fossem uma coisa só. Até a bandeira era só uma.

Mas o tempo passou, o país se desenvolveu, se estabilizou e eventualmente adquiriria sua tão esperada liberdade. Com a chegada de novas tecnologias como o telégrafo, o comércio marítimo a vapor e não mais a vela, e construções de ferrovias, a população cresceu e a vida política em finais do período com a união com a Suécia foi declinando. A dissolução total foi oficializada num referendo em 13 de Agosto de 1905.
Mas depois de 400 anos de domínio dinamarquês e sueco, a família real norueguesa tinha desaparecido e a nação recorreu ao antigo príncipe, segundo filho do herdeiro do trono dinamarquês para representar o país. O príncipe foi então coroado com o nome de Hakon VII na Catedral de Nidaros.
A Noruega permaneceu neutra na 2a Guerra Mundial, mas perdeu metade da sua marinha mercante na tentativa de conter a invasão da Alemanha. No entanto, a reconstrução do país após a Guerra foi mais rápida que o esperado. O país passou a ser mais estável, politicamente falando, e optou por não fazer parte da União Europeia.
É verdade, a essa época do ano, auge do inverno, a Escandinávia é escura a maior parte do dia e faz um frio de doer. Eu já passei tanta coisa na vida que se fosse isso um motivo que me fizesse desistir de uma viagem como essa, tava ruim... não tenho medo de frio e viagem a noite também pode ser interessante. Principalmente depois de aprender aí um pouco dessa história da do país, decidi. Topo. Aí era começar a cuidar dos detalhes técnicos: hoteis e passagens. Primeiro obstáculo já apareceu logo de cara. Sim, porque viajante não está isento da lei de Murphy, e as milhas que eu tava tão empolgada pra finalmente usar não estavam disponíveis para ser usadas pra ir pra Oslo. Depois quando eu já estava toda preparada psicologicamente!!!!
Até parece que esse Murphy não me conhece. Quando coloco uma ideia na cabeça não desisto assim tão fácil. A parte mais difícil era minha mãe topar essa doidera e ela já tinha topado de ir passar o ano novo lá na friaca. Então arregacei as mangas e fui catar umas passagens. É, não foi muito barato. O orçamento estourou o planejamento, mas oh well. Às vezes é preciso fazer uns esforços pra fazer as coisas acontecerem. E assim foi. Nosso fim de ano em Oslo estava programado. E eu ainda tenho as milhas guardadas pra serem usadas em breve.
Desde que então fechei a viagem a Oslo, fiquei de olho na meteorologia de lá, e fiquei super feliz quando vi que o inverno lá estava sendo camarada como estava aqui na Suiça também. Isso até o fim de semana da nossa viagem! Quando foi se aproximando da data, as temperaturas começaram a cair e a previsão para aquele fim de semana de virada de ano era só de temperaturas absolutamente negativas. Assim por volta de -10 graus celsius.
A preocupação com o que fazer na virada de ano continuava. Afinal, ficar ao ar livre nessa brisa, me desculpe, não dá não... bom, a virada do ano foi resolvida, passei muito bem obrigada, mas eu conto no próximo post. A viagem a Oslo terminou sendo muito da agradável, tirando algumas horas que o frio apertava, claro. A gente tava muito bem agasalhada e a escuridão não foi um empencilho.
O vôo Zurique-Oslo é curtíssimo - 2 horas. Assim que chegamos, pegamos um ônibus no aeroporto e fomos até o centro da cidade. O aeroporto não é perto, não é barato mas é a melhor opção. Não dá pra reservar um transfer exclusivo do hotel, a não ser que voce queira desembolsar mais de 200 euros. Tudo na Noruega é muito MUITO caro, e apesar de negociarem a maioria das coisas em euro, a moeda de lá é a coroa norueguesa (Kr), e eu sempre dividia tudo por 6 pra saber o valor em franco-suiço, ou seja dividir por 12 pra saber em reais.

Oslo não é uma cidade muito popular, turisticamente falando. Quem vem a Europa num budget calculado fica pelo principal que é a Europa central. A Escandinávia em si não é muito atraente, todo mundo já pensa logo no frio. Mas tem também suas belezas e coisas interessantes. A Noruega é sim famosa por sua natureza no seu interior, mas a capital em si não tem um monumento que é um must pra ver ou algo do tipo. Há diversos museus muito interessantes, mas pra conhecer o básico da cidade, basta ir ao centro, pois os parques, galerias e cafés que fazer de fato a atmosfera da cidade, ficam todos lá.

No inverno, não dá pra ficar sentado num cafe na calçada apreciando a paisagem e observar o ritmo da cidade, as pessoas andando nos parques, até porque nem tem tanta gente pra observar nesse frio todo e o ritmo é calmo. Não dá pra ficar o tempo todo do lado de fora, então o jeito era dar umas voltas e intercalar com umas visitas a uns cafes e lojas lá do centro.
Historicamente falando, o centro da cidade é bem recente. A Noruega é um dos países mais ricos do mundo e Oslo é muito bem servida de transportes públicos. Imagino que no verão, a cidade deva vibrar de gente e movimento, porque mesmo nas poucas horas de luz de sol num dia de inverno, deu pra perceber o potencial da Karl Johans Gate 
A Karl Johans é o coração da cidade. Muitas das instituições mais importantes do país estão aqui, incluindo o Palácio Real (Slottet), o Parlamento (Stortinget), a universidade e o Teatro Nacional. A rua é cheia de lojas, lojinhas bacaninhas, restaurantes e cafes, e mesmo com o frio foi muito legal andar por ali. 
Uma coisa interessante é que o sol de Oslo nessa época do ano é meio que inalcançável. Não sei direito porque, não sou especialista, sou uma mera viajante entusiasta do conhecimento, mas pode perceber em algumas fotos que a sombra começa na metade dos prédios e o sol não chega até o chão em alguns lugares. O sol parece que não sobe muito (talvez porque não há tempo suficiente para descer?). Mas assim que amanhece (lá pras 9, 10 da manhã) nunca fica aquele solzão lá no alto brilhando. Durante o dia inteiro, sempre parece que está no final da tarde, o sol está sempre parecendo que está se pondo, muito estranho. E lá pras 3 da tarde, já começa a perder força que já não é muita, e antes das 4 horas da tarde já está escuro escurão mesmo, alta noite.
Foi uma das coisas que mais me impressionou. Assim como existe o sol da meia noite durante o verão por lá, pude perceber um pouco disso quando estive na Finlândia no meio do ano passado e vi o sol às 11 da noite, agora vivi exatamente o contrário. Juro por Deus que não sei como as pessoas conseguem viver num lugar desses. Tanta diferença de luz num ano só, fica escuro por tanto tempo num dia, depois fica claro o dia inteiro... ir lá passear pra conhecer é uma coisa, mas pra viver, sei não.
Fora isso, as impressões da Noruega foram muito positivas. Tudo muito organizado, limpo, pontual, e não achei que tivessem muitos estrangeiros como aqui na Suiça por exemplo. Bom, aí passamos o primeiro dia perambulando pelo centro, fugindo do frio com novos adereços e café bem quente, curtindo o que a Escandinávia pode mostrar a essa época do ano. Andando a Karl Johans inteira, ao final há uma ladeira e no topo está o Slottet, ou seja, o Palácio Real, que comentei antes Ali até que o sol aparece mais. Bom, este palácio existe graças ao rei Karl Johan, o sueco, que mandou construir uma residência real em Oslo quando ascendeu ao trono sueco-norueguês em 1818. Mas o palácio só ficou pronto quando o rei já tinha morrido. Hoje, no verão, é possível fazer visitas guiadas ao interior do palácio e conhecer a coleção de belas artes, além dos cômodos muito luxuosos.
Mas como era inverno, não podemos entrar lá, então vimos só a fachada mesmo. É claro que eu queria ter conhecido mais da cidade, a parte oriental que foi reconstruída depois de incêndios, mas de novo o frio... olha só como meu nariz está vermelho em todas as fotos... realmente não dava pra se afastar muito.

Ficamos hospedadas no Radison Blu Plaza bem próximo a estação central de trem e do centro da cidade, então num pulo podíamos voltar pro quentinho. A experiência foi muito válida, conhecer Oslo no inverno definitivamente é algo especial e único. Falo pela experiência oposta de ter ido a Escandinávia no verão. Então a curiosidade de saber como é no inverno foi bem tratada. Fez tanto frio nesse dia que no dia seguinte, o primeiro dia do ano de 2012 amanheceu nevando. E aí vimos a Noruega com neve no inverno!!! Demais!

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