Pristina

Pristina é a capital do Kosovo e de acordo com o meu guia de viagens, não é uma cidade que você gosta logo de cara. E não é mesmo. A impressão que tive ao chegar em Pristina é que a cidade está abandonada. Lixo acumulado em canteiros da principal rua da cidade, ruas sem calçadas, prédios abandonados, quebrados, ônibus velhos doados de outros países tornando o trânsito ainda mais confuso sem nem saber que linha tem o ônibus, por exemplo.
Andar de transporte público é apenas para os fortes. A cidade é uma bagunça. Em algumas áreas, o antigo abandonado se mistura com o novo, e os contrastes se acentuam, como na Boulevard Madre Teresa, onde estão lojas de marca, os prédios mais modernos, a rua é bem calçada, etc. Essa mistura de velho e novo, comunista e inovador, dá uma atmosfera urbana a Pristina que eu não havia visto em outra cidade até então.
O país é muçulmano, mas as mesquitas não são maioria, há igrejas sérvias ortodoxas, católicas e, gente, uma estátua de Bill Clinton com uma bandeira enorme dos Estados Unidos na principal avenida da cidade. Os Estados Unidos não só foram o país mais importante no mundo a reconhecer a independência do Kosovo, como ajudam bastante o país financeiramente falando. 
Ora a cidade passou (continua passando?) por transformações. Desde o comércio da era Otomana, virou uma capital comunista, socialista iuguslava até albana e dependente de Milosevic. Marcas da destruição estão por toda parte, isso sem falar na guerra do Kosovo que o povo não gosta de comentar. Só agora, desde a sua independência em 2008, a capital do Kosovo tenta se reerguer lentamente com a ajuda dos EUA e reacertar sua identidade.
A impressão que eu tive com o contato que tive com os locais, é que eles evitam falar do passado. Não negam sua tradição albanesa mas anseiam que sua própria individualidade seja de fato reconhecida. Uma incerteza do seu status, medo de afirmações. Pristina sempre foi uma cidade em fluxo, onde pessoas vão e vem. Os próprios habitantes não são fãs da capital do país e se estão ali é pela necessidade de vida. Pristina não é o reflexo da identidade (em construção) do Kosovo, não é uma cidade bonita nem atraente, muito menos turisticamente falando.
O que tem na cidade pra ver reflete toda essa baixa alto estima. O grande bazaar se resume a traseiras de carros abertas vendendo frutas. O Hamman, herança monumental do Império Otomano está todo coberto com tablados de madeira sabe-se Deus porque. O Museu Nacional que é a construção mais "europeia" da cidade não faz parte do itinerário "turístico". A estátua da Madre Teresa, que de novo, como comentei no post da Albania e Macedônia, todos os 3 países (?) dizem que ela é de lá, está meio esquecida na principal avenida com seu nome, numa pracinha suja e com muitos pombos. 
A Biblioteca da Universidade de Pristina, uma das construções mais únicas de toda a região dos Balcãs com esse teto de esferas brancas, está no meio de uma área mal cuidada com lixo acumulado. Enfim, são tantos os pontos negativos que fico até esperando alguem perguntar se vale a pena conhecer o Kosovo.
Sim, vale. Viajar não é só ver coisas bonitas e bem cuidadas, não é exaltar o que já chegou lá. É conhecer o outro lado também. E você não terá conhecido de fato os Balcãs se não passar pelo Kosovo. É a história viva. Pristina pode ser mal organizada mas tem seus segredos a conhecer. Os pontos que falei acima são os pontos turísticos, a história do país que está precisando de mais cuidados. Eu adorei conhecer o Kosovo, conhecer Pristina, mesmo que a cidade não estivesse ainda preparada pra me receber. Não moraria lá, não pelo caos generalizado que são os nomes das ruas, mas porque o país não suportaria meu estilo de vida.
A história do Kosovo e de Pristina se mistura obviamente com a história da Albânia. Há estátuas de Skenderbeg por toda parte, o grande Lorde Alexander, o grande herói albanês, chefe da resistência contra o império otomano, do qual tanto falei na ida a Kruja. Portanto é importante conhecer a história da Albânia ao visitar o Kosovo pra entender de fato porque o país está como está.
Conheci Pristina e os principais pontos históricos em um dia. Visitei o Museu Etnológico onde me foi contada a história, a influência albanesa na cultura do Kosovo e o progresso no estilo de vida do país, do povo, através de objetos de vida do dia a dia, roupas, tradições, etc. Muito interessante esse museu. O nome original é Emin Gjiku e fica escondido na parte antiga da cidade.
Com tudo que falei, sem dúvida uma ida ao Kosovo e a Pristina exige uma certa preparação (coragem?). A falta de estrutura generalizada pode decepcionar um pouco, então é bom estar bem preparado pro que encontrar. Sem dúvida a escolta do guia que contratei ajudou imenso no nosso passeio, levando a gente diretamente a conhecer o que queríamos ver sem perder tempo, e principalmente com Edi andando no carrinho que ele preparou pra gente, com as paradas pontuais para refeições do pequeno e estratégias de logística necessárias quando viajando com uma criança pequena.
Foi uma viagem única e inesquecível. Não me arrependo nem um triz e faria de novo se voltasse o tempo. Mesmo Edi não lembrando dela quando crescer, vou fazer questão de relata-la, e as fotos estão aí ne. Mesmo porque, o ponto alto da viagem estava por vir: Prizren. Próximo post!

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