Viajar só

Agora que eu voltei de Israel, e ainda estiquei até a Finlandia depois, numa maravilhosa viagem planejada nos mínimos detalhes, que embarquei sozinha, posso tirar minhas próprias conclusões sobre viajar só.

Em suma, na minha opinião, foi uma experiência muito, mas muito positiva e enriquecedora mesmo. Não tô querendo me gabar nem justificar nada não, mas acho que toda mulher que curte viajar deveria, ou melhor, merecia embarcar numa viagem solo. Explico.

Eu mesma tive vários, inúmeros questionamentos, dúvidas, medos, e depois de muitas reflexões e noites acordadas até tarde lendo, eu criei coragem e fui. A mulher sofre muito com questões de preconceito e dependência do homem ou de qualquer companhia que seja pra não se sentir desamparada. Homem viajar só pode, é normal, mas mulher, o quêe?? Por quêê?!! É sempre assim.

Já ouvi muitas mulheres comentando que não viajam - ou não só viajar, fazer outras coisas - porque não tem com quem ir, porque não acha graça em fazer nada só, porque se preocupa com o que as outras pessoas vão pensar, ou porque tem medo, ou porque não é louca. Pô, primeiro: eu concordo que existem coisas e coisas pra se fazer só. Por exemplo, eu não me meteria numa viagem ao Quênia ou a Marrocos sozinha, porque sei que tem muita informação que eu precisaria pra chegar até lá e ter uma boa experiência que sozinha nas minhas condições atuais eu não conseguiria. Aí tudo bem. Partir de qualquer jeito sem eira nem beira na doida e se meter em um monte de encrenca ninguém merece. Mas deixar de embarcar numa viagem, organizada tim tim por tim tim, onde vc vai estar imersa em novas culturas, sem ameaças, num esquema pré-elaborado, atingindo seus objetivos de conhecer os novos lugares..... por quê não, me diz?!

Israel
Eu sempre amei viajar. Só não tinha percebido até então que eu amava taaaaanto assim, como sei hoje. E nas viagens que fiz até então, antes da minha primeira viagem sola, eu viajava com quem tivesse disponível. Já viajei a trabalho com colegas de trabalho, já viajei com minha mãe, com amigas, amigo, colegas, namorado, parente, primo do primo, colega de faculdade, e nunca tive problema. Claro, viajar já é ótimo, quando vc tem uma pessoa do seu lado interessada nas mesmas coisas que vc, em conhecer o lugar, em visitar uma praça, ir num restaurante, essas coisas que se faz quando viaja, é excelente. Mas quando vc tem disponibilidade, tem vontade, tem dinheiro, e não tem ninguém que tenha tudo isso ao mesmo tempo que vc, o que fazer?

Na minha humilde opinião, uma mulher madura, independente, confiante em si mesma, no comando da própria vida e preparada pro mundo, não encararia a falta de uma companhia como um bloqueio pra realizar uma viagem, nem qualquer coisa na vida. Ora, vc viajar sozinha é uma maneira de se conhecer melhor, de passar por situações que vc não viveria se tivesse com uma companhia, e talvez vc nem tivesse conhecimento que fosse possível passar por tal situação. Vc cresce, vc se pensa mais, vc conhece outras pessoas, vc não tá só no mundo. E olha, existem poucas sensações no mundo melhores do que a de descobrir que é capaz, como bem disseram a Flávia e a Maristella no livro Viaje Sozinha, que eu li antes de viajar e gostei muito.

Se vc gosta de viajar, mais cedo ou mais tarde, essa questão vai bater de cara com vc, porque é fato: nem sempre dá pra conciliar os interesses. Tipo, eu estava LOUCA pra conhecer Israel. E eu ia com quem? Po, Israel é um destino especial. Claro, tem pessoas que vão lá e não se ligam e não se interessam em toda a bagagem histórica que o lugar carrega e ainda assim têm uma ótima experiência de viagem, mas tem pessoas que não tão nem aí e Israel nem faz parte da lista de desejos de viagens. Conversando com uma amiga suíça daqui, ela me disse que se eu fosse pra Italia ou Paris, ela iria comigo, mas Israel não, não tinha interesse. Lógico, acho que é muito mais fácil arrumar companhia pra ir a Roma, Paris, Londres, do que Israel, Finlandia... Turquia? De tanto que a gente vê a Torre Eiffel, o Coliseu e o Big Ben na capa das revistas, sei lá, acho que deve-se criar no imaginário que aqueles lugares são os principais que deve-se conhecer na vida, e pronto.

Mas eu já fui a Paris várias vezes, já tirei muitas fotos do Big Ben, e tá bom, admito, até gostaria de ir de novo ao Vaticano, mas a vida é curta, eu quero conhecer o mundo e não vivo só pra isso. Preciso aproveitar as oportunidades que tenho - e dinheiro também ne, que meu dinheiro não dá em árvore - pra conhecer o que mais existe além do pacote Europa básico. Aliás, esse foi um dos motivos pelo qual eu me mudei pra Suíça. Aqui eu tô no centro da Europa, Zurique tem vôo pra tudo quanto é lugar, e as promoções de passagens aéreas são muito frequentes.

O problema de ter curtido tanto a experiência é que agora sinto como se qualquer lugar estivesse ao meu alcance. E eu já passei da fase de dar ouvidos a quem não devia, de aborrecimentos que poderiam sabotar meus próprios planos e desejos, agora eu prefiro me inspirar na história e na minha vontade, e seguir adiante ampliando meus horizontes!

Jordânia
Eu deixar de manter minha mente aberta, deixar de conhecer a cultura do mundo, de aproveitar minha liberdade, quando eu não tenho nada mais pra me preocupar a não ser eu mesma, por causa de preconceito, de pessimismo dos outros e de histórias de catástrofes, azar, perigo, mal pressentimento? Ah eu não, perigo pode estar em qualquer esquina, até aqui na Suíça, meu bem, meu pai faleceu da noite pro dia num acidente, e ali eu vi o quanto estamos vulneráveis em qualquer lugar desse mundo. Eu vivo bem na minha, sou uma boa companhia pra mim mesma, sei me cuidar, eu falo inglês, todo mundo me entende, posso me comunicar com a humanidade, e não sou idiota, nunca fui assaltada em nenhuma viagem que fiz, e tipo, eu já morava sozinha em Recife, sou expert em me virar sozinha no caos.

Algumas medidas são obviamente necessárias antes de viajar: se informar o máximo que puder sobre o local que se está indo, a cultura, os hábitos, a moeda, os horários, facilidade de transporte. E pra ser sincera, eu adoro essa fase, a fase da preparação. Pra mim, a viagem já começa por aí. Adoro ler sobre os lugares, conhecer no papel e depois poder ver o que li com meus próprios olhos. Não tem aula melhor que essa. E como a gente aprende assim, como a gente cresce. Olha, rodar pelo mundo é um banho de cultura e conhecimento. Pablo Neruda já sabia o que dizia quando afirmou que o mundo é pequeno demais pra nascer e morrer no mesmo lugar.

Pode até ser mais uma fase, uma deliciosa fase, e se for, então que seja, eu estou vivendo-a. Desbravar Israel pra mim representava um desafio pessoal. Depois de tanto aperreio que passei, ir ali, conhecer os passos de Cristo, me rebatizar no Rio Jordão, foi uma renovação. De novo: pode ser fase, uma crise, pronto, uma crise, estou chegando perto dos 30. Mas veja só, estou chegando perto dos 30 e viajando percebo o quanto ainda desconheço do mundo e o quanto ainda quero descobrir desse universo tão complexo e tão encantador.

O que vi, as pessoas que conheci, as situaçoes que passei, toda a trajetória e não só os lugares, os cartões postais, as fotos que apareço sorrindo, são o que fazem tudo ser inesquecível. Por minha conta e risco. Minha sede de sair e desbravar o globo, seja num ritmo acelerado, num esquema sofisticado ou de baixo orçamento, já andava comigo há bastante tempo, desde quando eu vendi todos os meus brinquedos e juntei dinheiro por 4 anos pra ir a Disney com 15 anos. Tudo porque eu quero e sempre quis tentar tirar o maior proveito da situação que estou, seja boa, seja ruim, não importa, eu estou no controle e a vida tem o peso que a gente coloca nela.

Conhecer sempre novos ares, novas culturas, ter contato com outros idiomas, se sentir minúscula diante de um oceano infinito, ver outros estilos de vida, é sempre um acontecimento pessoal marcante. Não me importa se não estou nos parâmetros que a sociedade e a civilização criaram, é o que me faz feliz.

A fama da mulher brasileira não é das melhores nesse mundão afora, e viajando sozinha então, é preciso muita atenção. E conseguir vencer todas essas barreiras e ter depois uma boa experiência, boas lembranças, é o maior triunfo que eu poderia pedir.

Esse sentimento de orgulho, de ter quebrado barreiras e realizado meu sonho. Sei que muita gente queria ter a coragem que eu e muitas outras têm, e eu digo hoje: só fica alienado quem quer. O mundo tá aí, e é aquela história, todo mundo passa por dificuldades. Depois das dificuldades, cabe a vc ficar se lamentando, ou tomar atitudes e sair em busca da sua vitória, seja ela qual for, ela depende única e exclusivamente de VOCÊ. Seja conhecendo coisas novas, ampliando seus horizontes, dando razão às suas vontades... o importante é tirar as pedras do caminho. E se quiser dar umas voltinhas pelo mundo, é um remédio libertador e muito enriquecedor.

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